Essencial e indispensável: Mulheres e a missão da Igreja

A contribuição das mulheres para a missão da igreja não é apenas “importante”, “vital” ou “crítica”. As mulheres são “essenciais e indispensáveis” para a missão e ministério da igreja. É o que diz a palestrante e escritora Jen Wilkin de The Village Church em Flower Mound, Texas.

Eu não conheço ninguém que negue isso. Mas quando a ouvi dizer isso, me ocorreu. Por que não ouvi dessa forma? Por que eu não disse isso? Com a ênfase complementarista sobre os presbíteros, deixamos de reconhecer o papel essencial e indispensável que homens e mulheres desempenham no cumprimento da grande comissão por meio de nossas igrejas.

Não concordo com tudo o que Wilkin diz sobre as mulheres e a igreja, mas ela está certa aqui. A Bíblia nos diz isso. Não trata o trabalho das mulheres – Wilkin novamente – como “bom, mas não necessário”. Em vez disso, a Bíblia diz que as mulheres são essenciais e indispensáveis para cumprir a ordem do Mandato Cultural de multiplicar, povoar, subjugar e governar. E diz que elas são essenciais e indispensáveis para cumprir o chamado da Grande Comissão de fazer discípulos.

O ministério essencial e indispensável das mulheres no antigo testamento

Sob a antiga Aliança, o ministério das mulheres – para arriscar um anacronismo – estava ligado à maternidade em geral, bem como à proteção da semente de Abraão especificamente.[i] Deus abençoou os ventres estéreis de Sara e Rebeca, bem como os ventres das escravas mulheres hebraicas no Egito, que literalmente deram à luz um povo. Diante do ataque satânico, Deus sempre preservou a linhagem ungida de Cristo por meio de mães como Tamar, Rute e Bate-Seba, mas também de outras maneiras, como com Débora e Ester.

O estudioso da Bíblia Stephen Dempster resume este tema do Antigo Testamento como “mulher contra a besta”:

Eva contra a serpente; Sarah e Rebeca contra a esterilidade; Tamar contra Judá; Joquebede e Miriam contra o Faraó; Débora e Jael contra Sísera; Rute e Naomi contra a morte; Ana contra esterilidade; Jeoseba versus Atalia. Em todos esses exemplos de luta, essas mulheres de fé estão empenhadas em uma batalha para salvar o povo de Deus. A vitória de Ester sobre Hamã continua dramaticamente com esse tema.[ii]

O ministério essencial e indispensável das mulheres no novo testamento

A maternidade e a guerra contra a besta continuam a ser um tema crucial no Novo Testamento, começando com a história de Maria e a tentativa da serpente de destruir, pelas mãos de Herodes, a semente singular para a qual todo o Antigo Testamento aponta.

A maternidade também continua relevante para o trabalho das igrejas. Paulo encoraja as mulheres a desenvolverem sua salvação por meio da gravidez (1Tm 2.15), as viúvas mais jovens se casarem (1Tm 5.14) e as mulheres mais velhas a treinarem as jovens a amarem seus maridos e filhos (Tt 2.3-5). Ele também pede a seus leitores que pensem na honra que damos a nossas mães como o modelo de como devemos tratar as mulheres mais velhas (1Tm 5.2). E quantas crianças aprendem a fé com suas mães e avós, como Timóteo (2Tm 2.5).

No entanto, a nova aliança também traz novas dimensões ao “ministério das mulheres”.

Discípulas

Para começar, o Novo Testamento trata toda mulher cristã como uma “discípula”. Os discípulos incorporam os ensinamentos de seu mestre e seguem o caminho do mestre. No Antigo Oriente Próximo, as mulheres não seriam bem-vindas como discípulas na comunhão de um rabino ou algum grande mestre. O historiador judeu Josefo considerou-as inferiores. O filósofo judeu Filo referiu-se às mulheres e aos traços femininos como exemplos de fraqueza. Ele disse que eles deveriam ficar em casa em reclusão. Homens judeus usavam o rabínico Tosefta para orar e agradecer a Deus por não serem mulheres.[iii]

Foi neste cenário que Jesus deu as boas-vindas a Maria para “sentar-se aos pés do Senhor e ouvir seus ensinamentos”, assim como Saulo foi “educado aos pés de Gamaliel, segundo a estrita lei de nossos pais” (Lc 10.39; At 22. 3). Ele disse a Marta, que estava “distraída com muito serviço”, que Maria havia escolhido “a parte boa” (vv. 40, 42).

Ousamos, hoje, oferecer um caminho diferente para as mulheres do que Jesus ofereceu? Será que ousamos impedir que as mulheres escolham a boa parte do aprendizado de todas as doutrinas, princípios e mandamentos necessários para conhecê-lo e segui-lo?

Jesus escolheu especialmente doze discípulos do sexo masculino. No entanto, ele também ensinou um grupo maior a ser discípulos (Mt 8.21; 10.24-25, 42; 27; 57), que incluía mulheres. Ele viajou e pregou com os doze “e também algumas mulheres”, incluindo Maria Madalena, Joana, Suzana e “muitos outros que cuidavam deles com seus próprios recursos” (Lc 8.2-3).

Essas mulheres acabam até parecendo mais fiéis do que os doze. Os homens abandonam Jesus após sua prisão. Mas as mulheres o seguem até a crucificação (Mt 27.55-56; Mc 15.40; Lc 23.49; Jo 19.25-27); juntam-se a José de Arimateia para o enterro (Mt 27.57-61; Mc 15. 45-47; Lc 23.50-55); e são as primeiras a visitar o túmulo (Mt 28.1; Mc 16.1; Lc 24.1; Jo 20.1). Contra os padrões do antigo Oriente Próximo para testemunhas confiáveis, a Bíblia as apresenta como as primeiras a testificar da ressurreição (Mt 28.7-10; Lc 24.8-12; Jo 20.2).[iv]

Hoje, com que frequência as mulheres são as obreiras mais fiéis em nossas igrejas? Quem achamos que o Pai celestial conta como “primeiro” no reino dos céus? As galerias de arte europeias estão repletas de pinturas dos grandes homens da cristandade, mas as galerias de arte do céu podem ser um pouco diferentes.

Profetisas e testemunhas

Após a ascensão de Jesus, o Novo Testamento registra o Espírito enchendo homens e mulheres, assim como o profeta Joel havia prometido: uma nova era escatológica viria da qual Deus disse “derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão” e “que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (At 2.17, 21). Por meio da narrativa de Atos, Lucas continua a destacar a obra de Deus entre as mulheres: Maria, a mãe de Jesus; Tabita ou Dorcas; Maria, a mãe de João Marcos; Rode, a criada; Lídia de Tiatira; Dâmaris, a Areopagita; Priscilla; e as quatro profetisas em Atos 21.9.

Não precisamos nos preocupar aqui se o dom de profecia continua ou não atualmente. O ponto é simplesmente que a nova Aliança promete uma porção igual do Espírito de Deus entre homens e mulheres para fins de testemunho e discipulado. Lembre-se de como Lucas começou o livro com a promessa de Jesus: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.” (At 1.8).

Sacerdotes

Relacionado ao dom do Espírito está o fato de que toda mulher crente agora recebe o ministério de sacerdote do Novo Testamento (1Pe 2.9; Ap 1.6; 5.10). Em nenhum lugar o Novo Testamento isola deliberadamente as mulheres em relação aos homens nesta tarefa. No entanto, o ofício e a obra são dados a todos os crentes.

Tanto mulheres quanto homens devem assumir o trabalho de lutar contra as incursões satânicas e manter o limite claro entre a igreja e o mundo, Cristo e Belial, o santo e o profano (2Co 6.14-7.1). Ambos devem “lutar pela fé” contra os falsos mestres (Jd 3). Ambos, por sua vez, devem proteger e ensinar a Palavra de Deus para a próxima geração (por exemplo, At 18.26; Tt 2.3-5).

Se você é um congregacionalista como eu, portanto, você afirma que as mulheres, juntamente com os homens, exercem a mais alta autoridade terrena na igreja. Juntos, como discípulos e sacerdotes, eles devem tomar decisões sobre o quê e quem em relação ao Evangelho (por exemplo, Mt 18.17; 1Co 5; 2Co 2.6; Gl 6.1-9). Cheias do Espírito e do conhecimento de Deus (ver Jr 31.33-34), as mulheres devem decidir e declarar formalmente, juntamente com os homens: “Esta é uma confissão verdadeira? Este é um verdadeiro confessor? ”

O tipo de autoridade possuída por homens e mulheres juntos é a autoridade para fazer de uma igreja uma igreja. O que significa: a autoridade mantida pelas mulheres junto com os homens é mais essencial e indispensável para a existência da igreja do que a autoridade dos presbíteros. As igrejas podem existir (embora em uma forma mais fraca) sem presbíteros (veja At 14.23 e Tt 1.5). As igrejas não podem existir sem que homens e mulheres se reúnam em nome de Jesus (Mt 18.20) e registrem seu “acordo” oficial sobre o Evangelho (v. 19), exercendo assim as chaves do reino dos céus (v. 18)).

Companheiras de trabalho

Volte-se para o ministério de Paulo, ele considera Prisca sua “companheira de trabalho” (Rm 16.3). Ao longo de Romanos 16, Paulo lista duas vezes mais homens (19) do que mulheres (10), mas ele elogia duas vezes mais mulheres do que homens.[v] Ele elogia três homens por trabalharem para o Evangelho (Urbano, Áquila e Andrônico, os dois últimos dos quais estão ligados às mulheres); mas ele também elogia sete das dez mulheres por esse trabalho evangélico (Febe, Priscila, Júnias, Maria, Trifena, Trifosa e Pérside). Trifena, Trifosa e Pérside estão “trabalhando arduamente no Senhor”. Maria “trabalhou muito por vós”.[vi] Prisca arriscou o pescoço por Paulo, junto com seu marido. Júnias juntou-se a ele na prisão, juntamente com o marido. E Febe agiu como protetora para ele e outros, e provavelmente viajou centenas de milhas perigosas para entregar sua carta aos romanos.

Paulo limitou o ofício de presbítero aos homens (1Tm 2.12), mas ele certamente sabia como as mulheres eram essenciais e indispensáveis ​​para seu ministério especificamente e para a Grande Comissão em geral.

Relativizando a maternidade (e a paternidade)

No entanto, enquanto listamos a descrição do trabalho da nova Aliança de uma mulher, observe o que está acontecendo nos bastidores: a história de redenção estava progredindo. A semente de Abraão veio, relativizando a importância da maternidade (e paternidade), até mesmo a nova Aliança de Cristo relativizou a identidade judaica e o papel da família em geral. “correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor”, Jesus observou, “Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.” (Mc 3.34-35; também, Lc 14.16). E João Batista diz aos líderes judeus: “não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mt 3.9).

A história da criação continua no Novo Testamento, assim como o mandato cultural. Os homens devem continuar a ser pais e as mulheres a serem mães. Esse trabalho é glorioso, crucial e necessário. E Deus usa esses papéis para propósitos redentores.

No entanto, a nova Aliança também traz descontinuidade à história redentora. Primeiro, a nova Aliança inaugura uma nova ordem de paternidade e maternidade, concebida em termos espirituais e não físicos, como quando Paulo se refere a Tito como seu “verdadeiro filho” na fé. Todo cristão deve, portanto, se esforçar para multiplicar os portadores da imagem, não por meio da procriação, mas por meio da evangelização e da conversão, de modo que as pessoas “renasçam” e “sejam renovadas” à “imagem do criador” (Jo 3.1-8; Cl 3.10).

Por esta razão, em segundo lugar, o povo de Deus não é mais constituído por linhagens de descendência familiar. Eles não dependem mais de mães e pais como no antigo Israel. O tipo dá lugar ao antítipo. (Mas veja meu apêndice abaixo: “Complementarismo Credobatista vs. Complementarismo Pedobatista”) Por meio de Cristo, o primogênito, nos tornamos “família de Deus” pelo arrependimento e pela fé. A condição de solteiro, inédita no Antigo Testamento, torna-se um dom especial no Novo (1Co 7.7) e universal nos novos céus e nova terra (Mt 22.30). As relações familiares também assumem o papel de sinais da comunidade da nova Aliança. Deus nos ordena que tratemos um homem mais velho como um “pai, os homens mais jovens como irmãos, as mulheres mais velhas como mães e as mulheres mais jovens como irmãs” (1Tm 5.1-2).

Onde começa o ministério das mulheres

O que essa transição da antiga Aliança para a nova significa para onde começa o ministério de uma mulher? Sem dúvida, as mulheres (junto com seus maridos) devem se esforçar para fazer o ministério da nova Aliança no lar, fazendo de seus filhos discípulos.

No entanto, as mulheres cristãs de todos os status matrimoniais e parentais devem saltar para o “ministério das mulheres” todas as semanas, fazendo o trabalho de fazer discípulos. Todas as semanas, toda mulher deve trabalhar ministrando aos santos, usando todos os dons que possui para o bem comum. Esses dons podem ou não ser reconhecidos publicamente. Essa não é a questão. De qualquer forma, seu trabalho (bem como o trabalho de um homem) é olhar ao redor da sala para a coletividade de mães e pais, irmãs e irmãos, e se perguntar a quem ela pode servir. Ela deveria oferecer, àquela irmã solitária, uma palavra de encorajamento ou instrução? Ou oferecer ajuda logística à família? Ou ser como Febe e usar seus recursos como uma “protetora” dos mais velhos? Nunca falta trabalho na nova Aliança e no Evangelho. Basta perguntar a Febe, Priscila, Júnias, Maria, Trifena, Trifosa e Pérside.

Além disso, nunca faltam ataques de serpentes ou bestas contra a igreja. Toda mulher, portanto, deve desejar ser equipada para a obra do ministério de edificação do corpo de Cristo, para que a igreja possa atingir a maturidade e a estatura, medida e plenitude de Cristo. Isso evitará que a igreja seja sacudida pela astúcia da falsa doutrina (Ef 4.11-14). Toda mulher precisa de uma doutrina sólida. Imagine se todas as mulheres da sua igreja a tivessem. Que tipo de proteção você acha que daria à sua igreja?!

Fora do corpo de crentes, é claro, as mulheres devem usar quaisquer habilidades e dons que Deus lhes deu para fazer discípulos entre aqueles que não creem.

O mesmo ou complementar?

Além do cargo de presbítero, então, a descrição do trabalho de uma mulher no ministério da nova Aliança (discípula, testemunha, sacerdote, companheira de trabalho) parece paralela à de um homem, pelo menos à primeira vista. Salvo o cargo e o trabalho de um presbítero, os mesmos pontos aparecem em ambos. No entanto, quando o homem e a mulher começarem a trabalhar, seu trabalho parecerá diferente, assim como um homem e uma mulher cantando a mesma música terão sons diferentes. Afinal, a história da criação continua, continuamos homens e mulheres encarnados, e Deus nos projetou de formas diferentes. Não apenas isso, as mulheres muitas vezes serão capazes de entrar em espaços femininos com mais facilidade do que os homens.

Uma vez, quando minha esposa pertencia a um grupo de estudo bíblico para mulheres em que duas das mulheres tinham maridos difíceis. Uma noite, a mulher com o pior dos dois maridos compartilhou o encorajamento que ela havia recebido recentemente da Palavra de Deus, e como isso a estava sustentando. Suas palavras, naquele momento, conseguiram fazer maior bem espiritual à vida da outra mulher do que uma série de sessões de aconselhamento com um presbítero havia conseguido fazer.

Por toda a honra que devemos aos presbíteros, isso não deve nos surpreender. Cada parte do corpo precisa de todas as outras partes.

O ministério das mulheres é essencial e indispensável, em outras palavras, porque as mulheres possuem perspectivas e oportunidades que os homens não possuem. Na verdade, se Deus nos criou homem e mulher, as mulheres possuem uma forma de ser humana que os homens não possuem, o que significa que possuem formas de fazer discípulos que os homens não, embora possamos articular essas diferenças de ser e fazer (nisso, veja o artigo de Alistair Robert e o artigo de Kevin DeYoung). Os homens não podem fazer tudo. Ambos os sexos são essenciais e indispensáveis.

Em outras palavras, o complementarismo, por definição, é um argumento para incluirmos as mulheres no ministério, não as excluirmos, como a própria palavra “complementarista” comunica. Como yin e yang, as duas partes são complementares e essenciais e indispensáveis ao todo.

Enquanto isso, o igualitarismo, pelo menos no nível estrutural, deve ser indiferente à inclusão ou exclusão de gênero. Ele insiste tanto, em uma permutabilidade vocacional perfeita, que silencia qualquer diversidade ontológica e adota uma espécie de androginia. No entanto, quando homens e mulheres se tornam intercambiáveis, ambos se tornam descartáveis, pelo menos como classe. Nenhum deles é essencial e indispensável.

Resumindo, Deus chama os presbíteros de maneira única e crucial para ensinar a Palavra a “todo o rebanho”. No entanto, aí, a obra da Palavra apenas começa. Essa Palavra deve ser massageada por toda a vida de todo o corpo, e os discípulos devem ser feitos fora da igreja. E essa tarefa depende essencial e indispensavelmente tanto das mulheres quanto dos homens, cada um fazendo-a à sua maneira e cada um contribuindo com suas forças dadas por Deus.

O que eu não quero dizer

Observe, finalmente, o que eu não estou dizendo. Não estou dizendo o que é dito com frequência hoje – que agora é a hora de enfatizar o que as mulheres podem fazer, não o que não podem.

“O que não podemos fazer” é sempre uma boa pergunta para todo cristão, homem ou mulher. O crescimento espiritual, na Bíblia, não ocorre apenas ou principalmente quando estamos livres de todas as restrições. Geralmente ocorre quando nos restringimos por meio de obediência, disciplina e limites, da mesma forma que uma árvore cresce quando auxiliada por estacas, uma rosa cresce por poda, um atleta cresce por meio do treinamento e um aluno cresce por memorizar uma lição.

O próprio Jesus se submeteu inteiramente à lei de Deus, e esse foi o meio pelo qual ele cresceu em sabedoria e estatura entre os homens e, finalmente, recebeu toda autoridade no céu e na terra.

Crescimento sem restrições, na verdade, é exatamente o que o maligno promete em Gênesis 3.

Em segundo lugar, não estou dizendo que “marginalizamos” as mulheres ao não contratá-las, ou que as desonramos ao não chamá-las de “líderes”. (Veja o artigo de Sam Emadi sobre este tópico.) Ambas as afirmações cometem o erro de insistir em uma forma particular de ministério que não está na Bíblia e, em seguida, avaliar a fidelidade de uma igreja por essa forma humanamente concebida.

Mais especificamente, essas declarações confundem mandatos e responsabilidades bíblicos com as formas programáticas do mundo corporativo: “Se você quer que algo seja feito, você precisa contratar alguém para fazê-lo!” É assim que lideramos empresas, não famílias (igrejas), um ponto que Pedro afirma implicitamente quando proíbe aos presbíteros – e, portanto, presumivelmente a todos os outros – é de se preocuparem excessivamente com o pagamento (1Pe 5.2).

Além disso, a palavra genérica “líder”, temo, é frequentemente usada para acabar com o ofício bíblico de presbítero. “Sim, apenas homens podem ser presbíteros”, afirmam os complementaristas, mas depois dirigem seus ministérios por meio de equipes de “liderança” que têm o efeito de mudar o nome de uma rosa, mesmo que ainda cheire tão bem.

Para ser claro: não tenho absolutamente nenhuma objeção a uma mulher “liderar” um ministério diaconal, ou a contratar uma mulher para ministrar à igreja em várias funções. Muitas vezes pode ser sábio. Vários pastores amigos meus, de igrejas de médio porte, contrataram diretores de ministério de mulheres para ajudar em como as mulheres na igreja cuidam umas das outras. E todos garantem que foi uma das melhores contratações que já fizeram. Além disso, estou tentado a escrever outro longo artigo sobre como o trabalho diaconal das mulheres desempenha um papel central, o que torna o ministério das mulheres essencial e indispensável.

No entanto, sou alérgico a transformar o que a Bíblia trata como “permitido” em “obrigatório” e, em seguida, avaliar a fidelidade de uma igreja de acordo com isso. Paulo podia dar instruções “em todas as igrejas” (1Co 14.33). Nós não podemos.

Conclusão

A natureza essencial e indispensável das mulheres para a missão da igreja não depende de qualquer forma de ministério programático ou remunerado. Depende do que Cristo fez as mulheres morrendo e ressuscitando por elas: discípulas, testemunhas, sacerdotes, companheiras de trabalho.

Depende de seu trabalho e sabedoria revelada, não nossa sabedoria programática.

Em círculos complementaristas, enfatizamos, corretamente, a ênfase da Bíblia na supervisão e ensino pelos presbíteros. Mas essa ênfase nunca deve nos levar a abandonar a obra essencial e indispensável que Deus dá a homens e mulheres como discípulos, testemunhas e sacerdotes. Ele determinou que, à parte do trabalho deles, a Grande Comissão não terá sucesso.

Pastor, como você está ensinando e demonstrando, às mulheres em sua igreja, que seu trabalho é essencial e indispensável?

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Apêndice: Complementarismo Credobatista vs. Complementarismo Pedobatista

À luz da discussão bíblica acima, sobre o movimento da antiga para a nova Aliança, é importante notar que o complementarismo e visão de um credobatista, do ministério das mulheres, se consistente, pode parecer um pouco diferente do complementarismo de um pedobatista e visão do ministério das mulheres.

O complementarismo de um pedobatista, inclinando-se profundamente às linhas da continuidade da aliança, pode parecer um pouco mais “Antigo Testamento”. Afinal, o trabalho de uma mulher de gerar filhos desempenha o mesmo papel de construir e preservar aquela comunidade que tinha sob a antiga Aliança, o que os pedobatistas demonstram batizando crianças na comunidade da aliança e na igreja. Ter filhos quase se transforma em fazer discípulos e construir igrejas em um lar fiel. Portanto, pode-se esperar uma ênfase comparativamente maior em famílias numerosas, ensino doméstico e ministério da maternidade e paternidade. Por que não tornar essas famílias o maior possível para que os filhos possam desfrutar de quaisquer bênçãos da aliança que os pedobatistas dizem que eles gozam?

O complementarismo de um credobatista não deve negligenciar a ênfase e o dom da paternidade. Afinal, a história da criação continua. Deus nos ordena que sejamos frutíferos e nos multipliquemos, e ele quer que os cristãos empreguem fielmente as relações familiares para propósitos redentores, assim como a mãe e a avó de Timóteo fizeram com ele. Mas essas relações familiares não constituem mais a comunidade da Aliança. A fé sim.

Para ter certeza, tanto a mulher pedobatista quanto a mulher credobatista podem responder: “Por que não ambos? Por que não o ministério da maternidade (e paternidade) do pacto da criação e também os ministérios dos discípulos, sacerdotes e companheiros de trabalho do novo pacto?” Elas podem e devem perguntar. Estou simplesmente sugerindo que essas diferentes teologias das quais se constitui a igreja – crentes ou crentes e seus filhos – podem impactar a ênfase de uma igreja, a linguagem usada em uma sala de aula da Escola Dominical, a cultura de uma igreja, o tipo de complementarismo que desenvolve, e a visão da igreja sobre os deveres da mãe e do pai em relação a outras responsabilidades da nova Aliança.


[i]  Ver James M. Hamilton, Jr., “A Biblical Theology of Motherhood”, no Journal of Discipleship and Family Ministry 2.2 (2012): 6-13.

[ii] Stephen Dempster, Dominion and Dynasty (Downers Grove, IL: IVP), 223.

[iii] Estes exemplos foram tirados de D. M. Scholer, “Women”, em Dictionary of Jesus and the Gospels, editado por Joel B. Green, Scot McKnight e I. Howard Marshall (Downers Grove, IL: IVP, 1992), 880.

[iv] Ver a excelente seção de Michelle Lee-Barnewall “Women as Disciples”, no pobremente intitulado “Neither Complementarian nor Egalitarian: A Kingdom Corrective to the Evangelical Gender Debate” (Grand Rapids, MI: Baker, 2016), 93-97.

[v] Craig Keener, “Man and Woman”, no “Dictionary of Paul and His Letters”, editado por Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin, Daniel G. Reid (Downers Grove, IL: IVP, 1993), 589.

[vi] Ver Dominika Kurek-Chomycz, “Tryphaena and Tryphosa: not too dainty to work hard in the Lord”, em L’Osservatore Romano (Sept. 1, 2018): http://www.osservatoreromano.va/en/news/tryphena-and-tryphosa.

Este livro oferece uma discussão concisa sobre o ministério de mulheres. Ele não oferece uma fórmula, mas sim um sólido conjunto de indicadores bíblicos para a estrada a ser percorrida no ministério de mulheres. As autoras estabelecem em Cristo o fundamento do ministério de mulheres, mostrando que o alvo não é apenas que mulheres conheçam e sirvam outras mulheres, mas, principalmente, que possam conhecer e servir ao Deus trino juntas.

Confira

 

Por: Jonathan Leeman. © 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: Essential and Indispensable: Women and the Mission of the Church.

Original: Essencial e indispensável: Mulheres e a missão da Igreja. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.