Um blog do Ministério Fiel
[AGNOSTO THEO] John Piper – O Senhor; Um Deus Cheio de Graça e Misericórdia
Então, disse o SENHOR a Moisés: Lavra duas tábuas de pedra, como as primeiras; e eu escreverei nelas as mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste. E prepara-te para amanhã, para que subas, pela manhã, ao monte Sinai e ali te apresentes a mim no cimo do monte. Ninguém suba contigo, ninguém apareça em todo o monte; nem ainda ovelhas nem gado se apascentem defronte dele. Lavrou, pois, Moisés duas tábuas de pedra, como as primeiras; e, levantando-se pela manhã de madrugada, subiu ao monte Sinai, como o SENHOR lhe ordenara, levando nas mãos as duas tábuas de pedra.
Tendo o SENHOR descido na nuvem, ali esteve junto dele e proclamou o nome do SENHOR. E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração! E, imediatamente, curvando-se Moisés para a terra, o adorou; e disse: Senhor, se, agora, achei graça aos teus olhos, segue em nosso meio conosco; porque este povo é de dura cerviz. Perdoa a nossa iniqüidade e o nosso pecado e toma-nos por tua herança.
Então, disse: Eis que faço uma aliança; diante de todo o teu povo farei maravilhas que nunca se fizeram em toda a terra, nem entre nação alguma, de maneira que todo este povo, em cujo meio tu estás, veja a obra do SENHOR; porque coisa terrível é o que faço contigo.
ÊXODO 34 É PROVA DA MISERICÓRDIA DE DEUS
O simples fato de Êxodo 34 existir é prova de que Deus é um Deus de misericórdia. Esta é a segunda vez que Deus encontra Moisés no monte para fazer uma aliança com o povo de Israel. Quando Moisés desceu do monte na primeira vez, o povo tinha se corrompido pelo amor às obras de suas próprias mãos. Estavam adorando um bezerro de ouro.
A aliança que Deus fez com o povo na montanha pela primeira vez, foi assim: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (Êx. 19:5-6). Mas ao invés de descansar na estima de Deus, o povo se tornou inquieto e desejou a estima de sua própria feitura. Então trocaram a glória do Deus invisível pela imagem de sua própria glória — uma vaca de ouro.
Eles foram descrentes no Mar Vermelho. Eles murmuraram contra Deus no deserto. Então sua rebelião com o bezerro de ouro deveria ter acabado com a paciência de Deus. Já chega desse povo de dura cerviz!
Mas cá estamos novamente no monte, aguardando a revelação de Deus. O povo não foi destruído. O simples fato desse encontro é prova de que Deus é misericordioso.
Deus Proclama Seu Nome a Moisés
Mas há algo ainda mais incrível que o simples fato de que Deus está disposto a encontrar Moisés novamente e renovar a aliança; a saber, o conteúdo do que Ele revela. Êxodo 34:5 diz: Tendo o SENHOR descido na nuvem, ali esteve junto dele e proclamou o nome do SENHOR.
Deus clama no versículo 6: “Javé! Javé!” E então ele decifra o significado daquele nome em palavras cuja doçura nunca foi superada, nem mesmo no Novo Testamento: “Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado.”
DOIS PROBLEMAS NA AUTO DESCRIÇÃO DE DEUS
Deus é JAVÉ — o Deus que é, o Deus que é livre, o Deus que é todo-poderoso, e o Deus que é misericordioso. Há uma conexão entre sua absoluta existência, sua soberana liberdade, sua onipotência e sua transbordante misericórdia. Mas antes de mirarmos nisso, há dois problemas para lidar nesse texto:
1- Quem Deus perdoa e quem não perdoa
Primeiro, depois de declarar o fato de que Deus “perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado” (versículo 7), o texto prossegue e diz: “Ainda que não inocenta o culpado.” Então o problema é: Como pode Ele perdoar o culpado e não inocentar o culpado? Ou: quem são os culpados que ele perdoa e quem são os culpados que ele se recusa a perdoar?
A forma mais frutífera que encontrei para responder isso é vendo como os outros escritores do Velho Testamento usaram essa passagem. Tome Joel e Jonas por exemplo.
O uso de Joel desta passagem
Em Joel 2:12-13, Deus diz ao povo rebelde: “Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes.” E Joel prossegue em encorajar o povo: “E convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.”
Em outras palavras, Joel usa Êxodo 34:6 para estimular o povo dizendo que se eles se converterem ao Senhor, Ele afastará o mal que está prestes a trazer sobre eles. Então, a hipótese é que o povo que o Senhor não irá perdoar é o povo que não se arrependerá e não se converterá a Deus de todo seu coração. Foi assim que Joel entendeu Êxodo 34:5-7. Perdão para os arrependidos. Recusa de perdão para os não arrependidos.
O uso de Jonas desta passagem
Jonas vê as coisas da mesma maneira. Após ter pregado aos Ninivitas, eles se arrependem,
Deus os poupa, e Jonas está irritado por Deus ser tão misericordioso. Em Jonas 3:10 até 4:2 diz:
Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez. Com isso, desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado. E orou ao SENHOR e disse: Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal.
Aqui, Jonas cita Êxodo 34:6 para explicar por que Deus afastou sua ira de um povo pecador que se arrependeu de seus maus caminhos. Essa é a natureza de Deus. Este é Seu nome. Mas note que Jonas concorda com Joel que, quer Deus perdoe os ninivitas ou não, depende se os ninivitas se arrependem ou não de seus maus caminhos.
Deus perdoa o povo culpado que se arrepende
Agora vamos voltar às palavras de Deus no Monte Sinai em Êxodo 34:6-7. Em uma mão o Senhor diz que “perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado.” Na outra mão, diz que não “inocenta o culpado.” Ainda assim, todos os pecadores são culpados. Então qual culpado é aquele que Ele perdoa? E qual o culpado que Ele não perdoa?
A resposta de Joel e Jonas é que ele perdoará o culpado que se converter de seu pecado e se voltar para Deus de todo seu coração. E o culpado que desprezar sua oferta de misericórdia, não será inocentado.
Este é o primeiro problema e a solução de Jonas e Joel.
2 – Os pecados do pai e os pecados dos filhos
O segundo problema neste texto vem das palavras seguintes no versículo 7. Diz que Deus “visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração.” Mas Ezequiel 18:20 diz: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho.” Como esses dois textos podem não contradizer um ao outro?
O que Ezequiel tem em vista
O mais crucial a observar é que Ezequiel tem em vista um filho que não segue os passos pecaminosos de seu pai, mas Êxodo tem em vista filhos que continuam nos passos pecaminosos de seus pais.
Ezequiel 18:19 diz: “Porque o filho fez o que era reto e justo, e guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso, certamente, viverá.” Em outras palavras, ele não morrerá pelos pecados de seu pai porque ele não está seguindo os passos de seu pai.
O que Êxodo tem em vista
Mas o paralelo a Êxodo 34:7, em Êxodo 20:5 diz que Deus visita “a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem.” Em outras palavras, os filhos compartilham a punição do pai porque compartilham os pecados do pai.
Então Ezequiel ensina que qualquer filho que se converte dos caminhos pecaminosos de seu pai e obedece a Deus, não será punido pelos pecados de seu pai. E Êxodo ensina que qualquer filho que prossegue em pecar como seu pai, irá compartilhar da punição de seu pai.
Quando Deus visita os pecados dos pais nos filhos, ele não pune filhos sem pecado pelos pecados de seus pais. Ele simplesmente deixa os efeitos dos pecados do pai tomar seu curso natural, infectando e corrompendo os corações dos filhos. Para pais que amam seus filhos, esse é um dos mais sóbrios textos em toda a Bíblia.
Quanto mais deixamos o pecado falar mais alto em nossas vidas, mais nossos filhos vão sofrer por isso. O pecado é uma doença contagiosa. Meus filhos não sofrem porque eu tenho pecado. Eles pegam de mim e sofrem porque eles têm pecado.
ESPERANÇA PARA O ABATIMENTO NA AUTO DESCRIÇÃO DE DEUS
Agora, passados esses problemas, espero que possamos ouvir a mensagem com pura simpatia. Vamos voltar ao versículo 6 e a declaração do nome de Deus. O Senhor desce e proclama Seu nome: “Javé! Javé! Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado.”
Há dois tipos de pessoas que são difíceis de ajudar em aconselhamento pastoral. Um pensa que foi longe demais para ser perdoado. Outro pensa que perdão é um estalar de dedos. Um pensa que é completamente desqualificado para o reino. O outro pensa que já está lá dentro. Um pensa que Deus é rigidamente irado. O outro pensa que é fácil lidar com Deus. Um é cego para o esplendor da misericórdia de Deus. O outro é cego para a magnitude de sua própria angústia.
Eu sei que encaro pessoas em ambas as categorias todo domingo de manhã. E o desafio de pregar é como falar esperançosamente para a primeira pessoa sem dar golpes na segunda. Quando se prega numa congregação grande e variada, deve haver ira e misericórdia, ameaça e promessa, aviso e conforto. E então, deve haver oração e o trabalho do Espírito Santo para que a Palavra seja ouvida na aplicação mais apropriada para a necessidade de cada pessoa.
Mas eu quero deixar explícito que o que tenho a dizer agora é para os abatidos, os humilhados, os débeis, os desesperados, os desencorajados — aqueles que podem sentir que estão além do alcance do perdão de Deus.
Cinco Expressões da Natureza de Deus
Se eu quisesse deixar claro para meus filhos que eu pretendia ser seu pai, cuidar deles e tratá-los com misericórdia, eu poderia usar duas ou três diferentes expressões e, talvez, repetiria para enfatizar a verdade daquilo que eu estava dizendo. Da mesma forma, Deus se condescende a usar nossos meios e deixa sua misericórdia clara como cristal. Ele amontoa frase sobre frase para expor seu coração de amor.
São cinco expressões:
1. um Deus compassivo e clemente;
2. longânimo;
3. grande em misericórdia e fidelidade;
4. que guarda a misericórdia em mil gerações;
5. que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado.
Quanto mais eu pondero em como essas cinco descrições de Deus são ligadas, mais elas parecem se entrelaçar.
O TRIÂNGULO DA MISERICÓRDIA DE DEUS
Mas deixe-me descrever uma maneira de ver como elas se relacionam entre si.
Imagine um triângulo; em cada ponta da base, estão a primeira e a última afirmação de Deus, a saber: compassivo e clemente (na ponta esquerda da base), e que ele perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado (na ponta direita da base).
Então, em direção ao topo, na metade do caminho, em cada lado do triângulo, imagine a segunda e a quarta afirmação de Deus, a saber, que ele é longânimo (no lado esquerdo), e que guarda a misericórdia em mil gerações (no lado direito do triângulo).
Finalmente, imagine no topo do triângulo a terceira afirmação de Deus, a saber, que ele é grande em misericórdia e fidelidade.
Agora, o objetivo desse quadro é sugerir que a primeira e a segunda afirmação estão juntas; a segunda e a quarta estão juntas; e a terceira é central para todas as cinco. Vamos começar com o principal: O topo do triângulo.
Grande em Misericórdia e Fidelidade
Deus é grande em misericórdia e fidelidade. Duas imagens me vêm à mente. O coração de Deus é uma fonte inesgotável de água que borbulha misericórdia e fidelidade no topo da montanha. Ou o coração de Deus é como um vulcão que arde tão fervorosamente de amor que explode o topo da montanha e derrama ano após ano a lava da misericórdia e fidelidade.
Quando Deus usa a palavra “grande”, Ele quer que entendamos que os recursos de sua misericórdia não são limitados. De certa forma, ele é como o governo federal: Onde quer que haja necessidade, ele pode só imprimir mais dinheiro para cobri-la. Mas a diferença é que Deus tem um tesouro infinito de misericórdia de ouro para cobrir toda a moeda que Ele imprime. O governo dos Estados Unidos está em um mundo de sonhos. Deus acumula de forma muito real com os recursos infinitos de Sua deidade.
Eu disse há pouco que há uma conexão entre os três primeiros sermões dessa série e este aqui. “Deus é quem Ele é”, “Deus é livre”, “Deus é todo poderoso”, e agora, “Deus é misericordioso”. A conexão é que a absoluta existência, a soberana liberdade, e a onipotência de Deus são a plenitude vulcânica que explode em uma superabundância de misericórdia.
A absoluta magnificência de Deus significa que Ele não precisa de nós para preencher qualquer deficiência nele mesmo. Ao invés disso, Sua infinita auto suficiência transborda misericórdia sobre nós que precisamos dele. Podemos nos proteger em Sua misericórdia precisamente porque cremos na íntegra independência de Sua existência, a soberania de sua liberdade, e em seu poder ilimitado.
Então, no topo do triângulo, fica a infinita abundância da misericórdia de Deus, jorrando abaixo em cada lado para o bem de seu povo arrependido.
Longânimo, que Guarda Misericórdia
Na metade de cada lado do triângulo, estão a segunda e a terceira afirmação sobre Deus em Êxodo 34:6-7. Ele é longânimo e guarda a misericórdia em mil gerações. Quando Deus diz que guarda misericórdia, o foco é na durabilidade de sua misericórdia. Ela dura. Ela persevera. Ela continua fluindo.
E eu vejo uma conexão entre essa perseverança da misericórdia de Deus e a afirmação de que Deus é longânimo. A misericórdia não pode durar onde a ira está prestes a disparar. Se a ira de Deus está prestes a disparar, sua misericórdia não duraria um dia em minha vida. Se foguetes de ira fossem lançados dos olhos de Deus toda vez que eu pecasse, eu seria explodido em pedaços antes mesmo de eu sair da cama pela manhã.
Mas ele brada no monte Sinai: “Eu sou longânimo!” Ele retém sua ira em favor da superioridade de sua misericórdia. Ele é longânimo. Ele é extraordinariamente paciente. Por isso ele guarda misericórdia. Ele guarda e preserva sendo longânimo.
Compassivo e que Perdoa
Isso nos leva ao último par de afirmações sobre Deus na base do triângulo. Se Deus é longânimo mesmo que demos a ele amplas razões para que ele ficasse irado conosco por causa de nosso pecado, então ele deve ser muito compassivo e deve perdoar — “compassivo e clemente—perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado.” A razão pela qual Deus é longânimo, não é porque ele não nota nosso pecado, mas porque ele perdoa o nosso pecado.
E não somente alguns tipos de pecado. Para vocês, que sentem que há uma categoria de pecado que está além do perdão de Deus, por favor, submeta sua própria opinião e sentimento à Palavra de Deus. A razão pela qual Deus usou todas as três palavras hebraicas para “pecado” aqui, é para mostrar que toda sorte de e todos os graus de pecado são perdoáveis. Ele perdoa a iniquidade, a transgressão, e o pecado. Ele empilha essas palavras para deixar claro o que ele quer dizer. O único pecado que é imperdoável é aquele para o qual não houve arrependimento. Se você pode se arrepender e se desviar de seu pecado, você pode ser perdoado.
JESUS CRISTO CONFIRMA A NATUREZA MISERICORDIOSA DE DEUS
Eu fecho com este lembrete e convite: Jesus Cristo veio ao mundo para confirmar que Deus é exatamente quem ele disse ser no monte Sinai—“Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado.” Se converta de seus pecados hoje, confie em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor, e você encontrará uma vastidão na misericórdia de Deus como a vastidão do mar.
Se alguém perguntar para você (ou talvez você pergunte a você mesmo): “Como você sabe que é assim que Deus é?” Você pode responder: “Porque Jesus Cristo viveu isso e selou isto com Seu sangue.”
Por John Piper. © Desiring God. Website:desiringGod.org
Tradução e Legenda: voltemosaoevangelho.com
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Agnosto Theo – Um Especial sobre os Atributos de Deus