A misericórdia de Deus ao nos fazer encarar o impossível

Deus não se contenta que apenas entendamos a ideia de que nada é impossível para o Senhor (Jeremias 32:17). Ele deseja que nós tenhamos a maravilhosa alegria de experimentar esta realidade. Mas o período, por vezes angustiante, entre sua promessa e sua provisão, pode nos levar para além da fronteira do que pensamos que podemos acreditar, assim como Ele fez com Abraão e Sara.

[Esta conversa imaginativa ocorre pouco depois de Gênesis 17:22]


Abrão adentrou a tenda, com seus olhos ao chão e sua mente vagando a quilômetros de distância. Respirava ofegante. Sarai estava consertando um manto.  Ela o observava enquanto ele caminhava de um lado para o outro da tenda. Até que ele caiu sobre as almofadas suspirando.

“O Senhor falou com você de novo, não foi?”

Houve uma pausa.

“Sim.”

Costumava levar um tempo para que Abrão pudesse falar sobre esses encontros, então Sarai levantou para perto sua costura para que pudesse ver melhor. Outra lembrança do seu corpo envelhecido. Mas agora suas mãos estavam tremendo. Abaixou-as, então, de volta ao seu colo.

“O que o Senhor falou?”

“Ismael!” O nome atravessou Sarai como uma flecha. Ela então olhou pela aba da tenda e viu Agar entregar a seu filho suprimentos para carregar ao fogo para cozinhar. O menino tinha treze anos e começava a aparentar já como um homem. Ele era o deleite de seu pai, carne de sua carne. Mas não o deleite dela. O Senhor tinha prometido a Abrão uma descendência. Mas isto era uma profunda e desconcertante tristeza, pois Ele o tinha dado por Agar, sua própria criada. E tinha sido sua própria ideia.

“Sara”

Ela olhou para Abrão. Como ele acabara de lhe chamar?

“Sim, eu lhe chamei de Sara. O Senhor mudou seu nome.”

O Senhor falou dela? Seu coração acelerou como se fosse sair pela boca, repleto de esperança.

“Ele mudou meu nome? Mas o que isso significa?”

“Você não é meramente uma princesa. Você será a mãe de reis.”

Sara apenas fitava. As palavras de seu esposo não tinham sido digeridas. Uma mãe de reis estéril?

“O Senhor disse: ‘Eu a abençoarei, e mais que isso, Eu a darei um filho. Eu vou abençoá-la e ela se tornará nações; reis de povos procederão dela’ (Gênesis 17:16). Sara, Deus lhe dará um filho, e através dele, nações.”

Sara cambaleou. Ela se estabilizou com sua mão esquerda e cobriu sua boca com a mão direita. Lágrimas correram. Sofrimento, esperança e confusão a agitaram por dentro. Uma criança?  Ela tinha tentado enterrar este desejo, e tinha muito medo de ressuscitá-lo.  E ela tinha noventa anos. Seu ciclo menstrual tinha encerrado há anos. Como isso seria possível…?

“Eu sei o que você está pensando. Também pensei o mesmo. Quando o Senhor me falou, foi muito para que eu pudesse assimilar. Então eu disse: ‘Ó, que Ismael viva diante de Ti!’”

A dor familiar atravessou Sara.

“Mas Deus disse: ‘Não, pois de fato Sara, tua mulher, te dará um filho, e lhe chamará Isaque.’”

Isaque. Seu desejo agora tinha um nome. Sara riu-se, mas ainda não tinha voz para falar.

“Sim. Porque toda esta ideia parecia ser tão absurda que eu ri para mim mesmo.”

“Mas… eu não… Marido… Eu tenho noventa anos de idade.” Sara começou a chorar. “Meu corpo não é mais apto para produzir filhos. Meu tempo passou.”

Abrão caminhou até ela e a envolveu em seus braços.

“Eu sei, Sara. Nós somos impotentes para ter filhos. Agora mais do que nunca. Mas se aprendemos algo nesses vinte e cinco anos é que nossa esperança não descansa em nosso poder de fazer alguma coisa. Nossa esperança descansa no poder do Senhor. Toda a nossa vida foi construída sobre o que Ele prometeu. E a vida de nossos descendentes deverá ser construída igualmente nas promessas dele por gerações, antes mesmo deles ocuparem esta terra. Sua sobrevivência dependerá confiarem nas promessas do Senhor e não em seu próprio poder. Deveríamos realmente estar surpresos que o primeiro descendente que o Senhor nos dá seja uma lembrança disso?”

Sara inclinou-se até seu marido.

“E, minha preciosa esposa, nosso Isaque sempre nos lembrará, e lembrará a muitos depois de nós, que o Senhor nos faz rir do impossível.”

“Sua fé fortalece a minha, Abrão.”

“Abraão.”

Sara o olhou intrigada novamente.

“Sim, o Senhor mudou meu nome também.” Abraão sorriu. “Uma mãe de nações necessita de um pai de nações, não é mesmo?”


Há tempos quando Deus designa nossas circunstâncias de tal maneira que, de um ponto de vista humano, suas promessas são impossíveis de se cumprir. E se nesse ponto nós achamos essas promessas quase que inacreditáveis, assim como Abraão (Gênesis 17:17 – 18) e Sara (Gênesis 18: 11 – 14), o que Deus tem exposto são os limites de nossa fé – limites que ele pretende expandir.

O descansar nas promessas de Deus é aprendido na prova severa de lutar contra a incredulidade – estações, às vezes longas estações, quando tudo depende de crer que Deus “vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem” (Romanos 4:17), e não há rede de segurança.

Se você está passando por tal estação, por mais difícil que pareça, Deus está sendo incrivelmente bondoso com você. Porque é em invernos como esse que realmente aprendemos que nada é demasiadamente difícil para o Senhor (Gênesis 18:14). E a alegria em Deus que isso resulta faz com que qualquer agonia suportada nem seja digna de comparação.

Abraão e Sara fortaleceram-se em sua fé (Romanos 4:20) porque o Senhor os levou a crer mais do que eles pensavam que fosse possível. Para o bem de nossa alegria, Ele faz o mesmo por você e por mim.

Por: Jon Bloom. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: God’s Mercy in Making Us Face the Impossible.

Original: A misericórdia de Deus ao nos fazer encarar o impossível. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Junior Silva. Revisão: Alan Cristie.