Guerra Santa (Paul Washer) [16/26]

Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles. (Isaías 63.10)

O SENHOR é Deus zeloso e vingador, o SENHOR é vingador e cheio de ira; o SENHOR toma vingança contra os seus adversários e reserva indignação para os seus inimigos. (Naum 1.2)

Tendo considerado a justa indignação de Deus manifestada através de sua ira e seu furor, voltaremos nossa atenção para um tema relacionado: a hostilidade que existe entre Deus e o pecador não arrependido. É uma obrigação do pregador do evangelho avisar aos homens sobre guerra santa que Deus declarou contra seus inimigos e suplicar aos pecadores para que se reconciliem com Deus antes que seja muito tarde. A promessa divina de anistia para o rebelde é genuína, mas não deve ser presumida. Está chegando o dia em que a folha de oliveira será retirada e a oferta de paz, rescindida. Naquela ocasião, tudo o que restará para o pecador será “certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários… Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.”[1]

Quem está em guerra contra com quem?

O ditado popular de que “Deus ama o pecador, mas odeia o pecado”, normalmente acompanha outro clichê similar: “O homem está em guerra contra Deus, mas Deus nunca está em guerra contra o homem”. Consequentemente, muito é dito sobre a inimizade do pecador e sua guerra incessante contra Deus, mas pouco ou nada, sobre a guerra incessante de Deus contra o pecador.

Independentemente dessa tendência atual no pensamento evangélico, é extremamente importante entender que a hostilidade entre Deus e o pecador não é unilateral, mas mútua. Quando os homens declaram guerra contra Deus, Deus se volta em inimizade e peleja contra eles.[2] Embora isso seja uma verdade perturbadora, as Escrituras claramente ensinam que Deus considera o pecador impenitente como seu inimigo e emitiu uma declaração de guerra contra ele. A única esperança do pecador é abandonar suas armas e levantar uma bandeira branca de rendição antes que tarde demais, para sempre.[3]

O livro de Naum nos diz: “o SENHOR toma vingança contra os seus adversários e reserva indignação para os seus inimigos.”[4] A primeira verdade que esse texto ensina é que é Deus que considera o ímpio como seu adversário. Ele não está lamentando o fato do homem considerá-lo como seu inimigo, mas ele declara sua própria disposição contra o homem. É Deus quem traça a linha da batalha e convoca as tropas. A segunda verdade para ser aprendida é que Deus está na ofensiva. Ele não fica simplesmente em pé, recebendo os ataques dos homens ímpios, mas ele mesmo dá o grito de batalha e corre para o embate com toda a força de sua ira. Como o salmista alerta: Deus afiou sua espada, armou seu arco, tem-no pronto, e preparou instrumentos mortais contra seus inimigos. Se o ímpio não se arrepender, certamente perecerá sob a ira divina.[5]

É imperativo que entendamos e aceitemos que essa verdade de “guerra santa” não é uma relíquia da antiga aliança ou uma visão primitiva de Deus anulada pela revelação progressiva do Novo Testamento. Antes, é uma verdade bíblica e duradoura, encontrada por todas as Escrituras. No livro de Romanos, o apóstolo Paulo escreve: “quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho.”[6] Embora esse texto comunique a ideia de hostilidade mútua entre Deus e o homem, a maior ênfase não está na hostilidade do pecador contra Deus, mas na oposição de Deus contra o pecador. Percebendo que esse conceito é estranho para a grande maioria dos evangélicos contemporâneos, os seguintes acadêmicos oferecem maior confirmação: Charles Hodge afirmou que: “Não há só uma rivalidade perversa do pecador contra Deus, mas uma rivalidade santa de Deus contra o pecador.”[7]; Louis Berkhof afirmou “não que são hostis a Deus, mas que são objetos de desprazer de Deus”[8]; e Robert L. Reymond explicou que “A palavra ‘inimigos’, mais provavelmente, deve ser construída no passivo (‘odiado por Deus’) do que sentido ativo (‘odiar a Deus’). Em outras palavras, a palavra ‘inimigos’ não enfatiza nosso ódio iníquo contra Deus, mas antes o santo ódio de Deus contra nós.”[9]

De acordo com nosso texto, o homem pecou e foi Deus a parte ofendida. Para que haja reconciliação, a ofensa do homem precisava ser removida, a justiça de Deus, satisfeita e a ira de Deus contra o homem, apaziguada. Sabemos que a morte de Cristo não tornou todos os homens dispostos favoravelmente a Deus, porque a maioria continua em irada oposição contra sua pessoa e vontade. Porém, a morte de Cristo de fato satisfez as justas demandas de um Deus santo, a fim de que pudesse ser favorável a seus inimigos e lhes estender uma folha de oliveira da paz através do evangelho. Aqueles que se arrependem e creem em Cristo serão salvos, mas aqueles que se recusam estão acumulando ira contra si mesmos para o dia da ira de Deus, quando seu justo juízo será finalmente revelado.[10]



[1] Hebreus 10.27, 31

[2] Isaías 63.10

[3] O Pastor Charles Leiter foi o primeiro que me chamou a atenção para essa ideia.

[4] Naum 1.2

[5] Salmo 7.12-13

[6] Romanos 5.10

[7] Charles Hodge, A Commentary on the Epistle to the Romans (London: Banner of Truth, 1989), 138.

[8] Louis Berkhof, Teologia Sistemática (São Paulo: Cultura Cristã, 2002), 344.

[9] Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith (Nashville: Thomas Nelson, 1998), 646.

[10] Romanos 2.5

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O Poder e a Mensagem do Evangelho (Paul Washer)Extraído do livro 16º capítulo do livro “O Poder e a Mensagem do Evangelho” de Paul Washer, a ser lançado pela Editora Fiel. Tivemos a oportunidade de traduzi-lo e o privilégio de poder compartilhar pequenos trechos de cada capítulo com vocês.

Tradução: Vinícius Musselman Pimentel. Versão não revisada ou editada. Postado com permissão.

© Editora Fiel. Todos os direitos reservados. Original: Guerra Santa (Paul Washer) [16/26]

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