A habitação do Espírito Santo nos crentes no AT: Dificuldades

Nesta palestra, Mauro Meister argumenta que a grande diferença da ação do Espírito no AT e no NT não é que no AT os crentes não eram habitados pelo Espírito, mas que, depois do Pentecostes, todos os crentes são revestidos de poder para o serviço e recebem os dons para serviço.

Afirmei na última preleção que os crentes do Antigo Testamento experimentavam o poder do Espírito Santo e sua habitação. No entanto, esta afirmação que pode ser comprovada por dedução do Antigo Testamento, não resolve as dificuldades que a interpretação de algumas passagens do Novo Testamento parecem trazer.

Uma visão comum é que os crentes no tempo do AT não tinham a habitação do Espírito Santo. A principal dificuldade: como o crente do antigo testamento poderia viver uma vida justa que agradasse a Deus sem o poder do Espírito.
Como eram salvos sem a ação interior do Espírito?

Alguns textos usados para “indicar” a ausência do Espírito são:

  • 1Sm 6.14 – Tendo-se retirado de Saul o Espírito do SENHOR, da parte deste um espírito maligno o atormentava.
  • Salmo 51.11 – Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito.

Contudo, nestes textos o “retirar o Espírito” significa que a unção real, a capacitação para reinar lhes seria tirada por causa do pecado.

Outra visão comum é que os crentes no tempo do Antigo Testamento eram habitados pelo Espírito Santo. As dificuldades com essa posição são: (1) há passagens do NT que parecem indicar que o Espírito só passa a habitar os crentes a partir do Pentecostes (Jo 14.17, 26); (2) falta de referências no Antigo Testamento ao ministério do Espírito na vida dos crentes; e (3) definir qual a diferença da obra do Espírito depois do Pentecostes.

O ministério do Espírito

Poder para a Salvação

Duas coisas precisam acontecer para que alguém tenha a sua relação com Deus restabelecida: perdão e regeneração. Êxodo 34.7 já afirmava que o Senhor é um Deus que “perdoa a iniquidade”. A expressão “e eles serão perdoados” aparece
9 vezes nos capítulos 4 e 5 de Levítico (4.20, 26, 31, 35; 5.10, 13, 16, 18; 6.7). Certamente, eles não eram perdoados pelo sangue de animais, pois tais coisas eram sombras da realidade, que é Cristo. O perdão vinha através da aplicação do Espírito da obra do Cordeiro.

O segundo aspecto é a regeneração: a atuação interna do Espírito mudando a nossa natureza e, por consequência, nossa vontade. É somente pela regeneração do Espírito que podemos buscar a Deus, pois todos estão mortos em pecado. Se é assim, como alguém poderia orar genuinamente os Salmos sem uma nova natureza? Veja, por exemplo, o Salmo 119.

Poder para uma vida santa

O Espírito concede capacitação para uma vida santa, piedosa e obediente, a andar segundo o Espírito (Rm 8.4) e a ter vitória sobre a carne (Gl 5.16-25).
Os crentes do AT experimentava estas coisas todas, inclusive o fruto do Espírito. Veja o Salmo 51, no qual Davi clama por uma vida pura.

Mesmo que os crentes que viveram no tempo do Antigo Testamento não compreendessem plenamente esta verdade, era assim que viviam, sendo submissos à vontade revelada de Deus, assim como um crente hoje. Assumir que os crentes de hoje vivem num plano de espiritualidade maior do que os verdadeiros crentes do Antigo Testamento é deixar de observar os pecados da igreja na época apostólica (por exemplo, a igreja de Corinto).

Poder para uma vida santa

É nesta área que observamos a maior diferença na obra do Espírito Santo entre os crentes do Antigo Testamento e os crentes do Novo Testamento. No Antigo Testamento, vemos capacitando artífices do tabernáculo, líderes, juízes, reis, profetas (nem sempre ligado à santidade pessoal: Sansão e Balaão). Mas no Antigo Testamento, o testemunho não era uma ordem para todo e qualquer crente, os dons parecem estar limitados a pessoas selecionadas

Essa é a principal mudança no Pentecoste. Repare que o texto bíblico em Atos diz que o Espírito veio sobre eles e não dentro deles. O Espírito, agora, equipa todos os crentes para o serviço, principalmente no evangelismo (Lc 24.49; At 1.8) e nos vários dons. A grande diferença é o sacerdócio universal de todos os crentes (abundância e plenitude).

Lidando com as dificuldades

A. O batismo com o Espírito Santo

João Batista parece afirmar um evento futuro que Jesus “vos batizará com o Espírito Santo” (Mt 3.1, 11-12; Lc 3.16; Mc 1.8; Jo 1.33). Jesus também batizou e, apesar dos textos não darem respostas diretas, sobre o motivo desse batismo, eles aparecem no contexto de purificação:
limpeza, separação e julgamento.

Essa expectativa está no AT: Is 4.4 – .”..quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião e limpar Jerusalém da culpa do sangue do meio dela, com o Espírito de justiça e com o Espírito purificador…”

O Antigo Testamento associava o batismo com o Espírito Santo com a vinda do Messias e um ministério de purificação. Jesus recebe o Batismo com o Espírito Santo para pregar as Boas Novas. E, de forma similar, os crentes recebem este batismo do Novo Testamento para habilitá-los à pregação, ao testemunho e ao exercício dos dons do Espírito Santo (At 2.11, 16-17, 21).

Resumo

O Antigo Testamento predizia um tempo de limpeza, separação e julgamento. João Batista tomou estes temas e adicionou o batismo com um Espírito que seria trazido pelo Messias. O próprio batismo de Jesus serviu como modelo para batismo com Espírito Santo que ainda viria.

Finalmente, Atos 2 nos mostra que este batismo com Espírito estava associado com a pregação do evangelho, a separação e purificação. Assim, a grande diferença da ação do Espírito no AT e no NT não é que no AT os crentes não eram habitados pelo Espírito, mas que, depois do Pentecostes, todos os crentes são revestidos de poder para o serviço e recebem os dons para serviço.

Veja outros vídeos da Conferência Fiel 2014

Acompanhe às reprises da Conferência Fiel 2014, onde estamos estudando nas Escrituras “A Obra do Espírito Santo”.

Por: Mauro Meister. © 2014 Ministério Fiel. Original: A habitação do Espírito
Santo nos crentes no AT: Dificuldades.

Gravado na Conferência Fiel 2014.