Um blog do Ministério Fiel
Evangelho na Periferia – Princípio 7: Plante ou Revitalize Igrejas
A igreja local e o pobre
Mark Dever publicou o seguinte no blog The Gospel Coalition:
Desde a Queda, a trajetória da história humana não redimida – a cidade do homem – está sempre na Bíblia ligada a julgamento (o Dilúvio, Babel, Canaã, Egito, Jerusalém, Babilônia, Roma e então Apocalipse 19). (Não tão universal quanto a gravidade, mas aparentemente tão inevitável quanto em sua tendência geral.)
Muitas igrejas, da mesma forma, acreditam que o mundo está indo para o inferno a passos largos e, por esta razão, é nosso papel pregar Cristo, salvar alguns e deixar os outros a sua própria sorte. Outros, acreditam que nós teremos um papel a desempenhar quando Deus consumar a renovação de todas as coisas no fim dos tempos. O resultado para o primeiro grupo é cair em uma abordagem separatista de evangelismo. Para o último, é cair em uma acomodação cultural.
Agora, eu consigo ver como certas posições escatológicas podem nos levar por um destes dois caminhos quanto a relação entre a igreja e sua cultura imediata. Na verdade, eu vejo o legado deles em periferias de norte a sul do país. Aparece de duas formas principais.
1. Aqueles que historicamente lutaram por pureza doutrinária e teológica às custas do engajamento cultural (temendo diluir o evangelho) se encontram à margem da periferia, com congregações envelhecidas e morrendo. Eles têm um evangelho sem ninguém para quem pregar. Isto se enquadra em sua cosmovisão de “eles contra o mundo” e está deixando gerações sem nenhuma noção sobre as boas notícias de Jesus. Do outro lado, aqueles que escolherem se adaptar e se engajar culturalmente às custas de verdades bíblicas tendem a estar atentos a necessidades sociais, mas têm as mesmas congregações envelhecidas e morrendo. Eles são vistos como um pouco mais do que uma agência de trabalho social e as pessoas não se chegam quando evangelismo não é praticado. Ambos os lados estão sofrendo com os verdadeiros perdedores sendo exatamente as pessoas que deveriam estar sendo alcançadas com a boa notícia de Jesus Cristo. Enquanto o mundo cristão tem desenhado fronteiras teológicas, almas reais têm perecido por falta de testemunho. Nas palavras de alguém velho e já morto: “Uma praga em ambas ascasas”.
2. Devido a esta situação, muito do trabalho de evangelismo desenvolvido está sendo conduzido nas periferias por uma combinação de agências governamentais e organizações para-eclesiásticas. Grupos têm visitado escolas e conduzido aulas de Educação Religiosa, dirigido clubes e tentado alcançar jovens para Cristo, mas em sua maioria desassociados de uma congregação local e sem nenhuma meta real de longo prazo e objetivos para combater a “crise congregacional” que nós enfrentamos. Por um lado, como podemos culpá-los quando a igreja local está (a) morta ou (b) inoperante quanto a sua tarefa (seja por falta de coração ou porque é simplesmente incapaz)?
A única maneira de reverter essa tendência é plantar igrejas novas e/ou revitalizar igrejas que já existem. Revitalização espiritual da comunidade e desenvolvimento não acontecerão de forma radical se a igreja local não for central em nossos planos. No Brasil, quando fundamos nosso projeto com crianças de rua, fizemos com uma plantação de igreja como fundamento. Por que? Por uma série de razões:
1. Uma congregação local serve de impulso sólido e consistente para esforços evangelísticos.
2. Oferece um lugar para prestação de contas em termos espirituais para aqueles trabalhando no campo. Muitos que servem em organizações para-eclesiástica que encontrei (especialmente jovens) têm pouco ou nenhuma prestação de contas e estão exaustos ou em perigo de ficarem exaustos por tentarem lidar com as dificuldades de estar na linha de frente de um ministério como o nosso.
3. Oferece um ambiente no qual novos convertidos e outros cristãos podem crescer juntos em discipulado e em comunidade. Então, evita o problema de pessoas caindo de paraquedas na comunidade, tentando alcançar alguém e então deixando as pessoas à deriva até que outros de fora da comunidade venham novamente.
A igreja local tem a responsabilidade de evangelizar, discipular, cuidar e preparar as pessoas para louvar e servir o Deus Vivo em suas respectivas comunidades. Obviamente, a tarefa de amar nossos vizinhos não deveria ser deixada para aqueles de fora da comunidade, certo? Estamos amando nossas comunidades? Estamos servindo nossas comunidades? Se amamos uma comunidade e buscamos conhecê-la, então ideias para evangelismo, missões e desenvolvimento fluirão naturalmente. Eu acredito que muitas igrejas têm dificuldades de causar impacto na periferia porque elas não amam suas comunidades o suficiente para realmente conhecê-las em um nível profundo e íntimo. Nós não podemos amar o Senhor e o evangelho se nós não amamos as pessoas. O evangelho precisa de um meio condutor para que possa realizar sua obra poderosa e transformadora. Muitas igrejas estão enterrando seu tesouro no campo, esperando até que o Senhor volte.
Nós recentemente recebemos notícias de nossa plantação de uma igreja no Brasil – a Igreja Boas Novas – que é uma comunidade que funciona na região mais pobre no estado mais pobre do Brasil. São bem pobres! A igreja é pequena (umas 50 pessoas) e mesmo assim recentemente eles se uniram para construir 6 casas na comunidade para famílias desabrigadas! Isto é desenvolvimento comunitário guiado pelo evangelho em ação. Apesar do receio de alguns, a Palavra não é diluída, mas, ao contrário, é oferecido um exemplo vivo da realidade da mensagem que a congregação está tentando trazer para a comunidade.
Eu aprecio as nuanças deste debate, realmente aprecio. Cristo acima de tudo, evangelho antes de tudo, mas quando o discipulado não pode ser distinguido de ajudar pessoas a lidarem com alguns de seus problemas pessoais, então temos o dever de cuidar. Não vamos proteger o evangelho até matá-lo. Isto seria um crime.
Eu tenho certeza que revisitaremos este tema em algum momento.