Um blog do Ministério Fiel
A conexão entre a eficácia e o caráter de um pastor
No ano passado, um tirante no meu carro estragou. Com “estragar”, quero dizer que houve um dano bem feio. Se você for como eu e não sabe nada sobre tirantes – e falando nisso, é assim que ficam a maioria dos caras quando um estraga – o principal a saber é que quando um tirante morre, você pode algumas vezes morrer junto com ele! É porque o pneu às vezes declara sua independência do carro e se atira para outra direção. Há poucas experiências na vida que se comparam à satisfação de estar a 80 Km/h apenas para ver seu pneu ir a 80 Km/h e sair do seu carro. Seria bem divertido se não fosse tão perigoso.
Aqui está: eu estava indo a muitos lugares com meu carro a cada dia, sem saber que meu tirante estava apodrecendo. Aí ele quebrou, o carro desabou e o meu progresso adiante se tornou uma parada brusca.
Há poucas coisas mais perigosas para uma igreja do que um pastor que é extraordinariamente dotado na área de dons e extraordinariamente deficiente na área do caráter. Esse pastor é um tirante apodrecendo esperando para quebrar. O progresso pode ser impressionante, até o caráter desabar.
Existe uma razão pela qual Paulo disse: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1Timóteo 4.16). Pastores são chamados para serem “cuidadores”, alguém chamado por Deus para examinar minuciosamente a si mesmo e a sua doutrina. Por quê? Porque Deus ordenou isso como um meio de enviar o povo dele ao céu… e a ele próprio também!
Você já leu o capítulo de Joel Beeke na obra Reforming Pastoral Ministry [Reformando o Ministério Pastoral], intitulado “The Utter Necessity of a Godly Life” [A Necessidade Urgente de Uma Vida Piedosa]? É algo maravilhoso para qualquer um que queira escavar mais profundamente a conexão entre a eficácia e o caráter de um pastor.
Como Joel Beeke diz:
A quantidade de frutos do trabalho de um ministro é proporcional à santificação do coração dele diante de Deus. Portanto, nós, como ministros, devemos buscar graça para edificar a casa de Deus com a mão da pregação sã e da sã doutrina, bem como com a mão de uma vida santificada. Nossa doutrina deve moldar nossa vida, e nossa vida deve adornar nossa doutrina (Reforming Pastoral Ministry, p. 61).
Então, onde um pastor começa essa aventura de moldar a vida e adornar a doutrina? Beeke nos chama a um relacionamento mais profundo com Jesus – ele chama isso de um crescente “entendimento de Deus”. Beeke nos dá algumas sugestões úteis sobre onde começar.
Um entendimento maior de Deus: esta é a forma como Beeke fala de um pregador que cresce em seu conhecimento e relacionamento com Deus. Ele diz:
A vida espiritual começa no coração e, como uma realidade dinâmica, é alimentada pela graça e pelo conhecimento. Quando nossos corações, como pregadores, estão crescentemente santificados diante de Deus, novas e sutis nuances serão acrescentadas em nossa pregação, as quais refletirão nosso crescimento interno. Nós estaremos expressando as mesmas verdades eternas, mas elas serão enriquecidas por várias dimensões de nosso crescente relacionamento com Deus… (p. 61-62).
Um entendimento de Deus cheio de Salmos. Um pastor sábio entende que a jornada dele com Deus o leva através de muitos perigos, armadilhas e ciladas. Para equipá-lo para a estrada à frente, Beeke recomenda estacionar nos Salmos:
Os Salmos testificam eloquentemente que conhecer a Deus e andar com ele na terra é uma experiência diversa. Algumas pessoas veem a vida cristã como nada além de alegria e vitória. Mas tal visão eliminaria pelo menos quase metade dos Salmos, os quais descrevem dor, tristeza, frustração e solidão como partes autênticas de uma teologia da experiência cristã. Portanto, nós deveríamos olhar para os Salmos para um entendimento mais completo do que nós vamos encontrar em nossa caminhada com Deus. Como Lutero diz: “Se você não puder encontrar sua vida nos Salmos, você nunca se tornou um filho de Deus” (p. 62).
Um entendimento original de Deus. É assim que Beeke pede um tipo de autenticidade que não é meramente imitar modelos, mas que flui do envolvimento pessoal do pastor com Deus. Ele diz:
Se nosso entendimento de Deus é genuíno, ele será original. Nós não vamos meramente repetir a linguagem ou a experiência de outra pessoa, mas nós iremos confessar com João que “o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco” (1João 1.3) (p. 64).
Pastorear não começa com uma posição, mas com uma Pessoa. Antes de buscarmos o ministério, nós devemos buscar ao próprio Deus. A partir deste entendimento vem uma conformidade – nós nos tornamos como ele porque nós estivemos com ele. Afinal, todo pastor deve se olhar no espelho sabendo que a sua eficácia como um pastor está diretamente amarrada com sua própria santidade pessoal. Quem poderia me culpar por citar esta excepcional frase de Robert Murray M’Cheyne: “A maior necessidade do meu povo é a minha própria santidade”.
As pessoas em nossas congregações precisam do nosso ministério, mas elas precisam mais de nossa santidade.
Sem santidade pessoal, o pastor é como um carro com um tirante corroído – brilhante por fora, mas cada quilômetro o leva para mais perto de um ministério desonesto e uma igreja destruída. Continue cuidando de seu entendimento de Deus. Isso salvará tanto a você mesmo quanto a seus ouvintes.