Precisamos falar sobre os “homeninos”

Ela era uma amiga cristã e solteira (só amiga, mesmo!), desabafando sobre sua frustração com homens imaturos. Foi casual, afinal esse tipo de desabafo é comum. Foi durante um café, e doeu!

“Homens cristãos… eca.”

Como um cara cristão, estudante universitário, não casado, sem emprego fixo e sem independência financeira, eu me contorcia de inquietação e insegurança. Ela não estava fazendo um ataque direto a mim; apenas fazendo uma reclamação geral para o universo. As palavras saíram de sua boca sem o menor esforço, como se ela já as houvesse dito um milhão de vezes antes, e eu não estava preparado para os adjetivos que seriam incluídos na conversa: “Imaturos”. “Infantis”. “Preguiçosos”. “Fracos”. “Patéticos”. Vejam só… “Homeninos”.

De certa forma, o tom que nós usamos para falar sobre os jovens cristãos hoje seria evidentemente desrespeitoso em outros contextos. E, para constatar o óbvio, o que mais dói é quando isso vem das nossas equivalentes femininas e solteiras. Existem diversas razões legítimas pelas quais mulheres cristãs solteiras seriam tentadas a criticar homens imaturos. (1) Mulheres não cristãs oferecem um pacote pronto e intuitivo de como surrar um “homenino.” (2) Ela (ou uma amiga) namorou um cara, se deu mal e o reinterpretou através das lentes da mágoa como um “homenino”. (3) Ofender caras imaturos é um jeito fácil e divertido de fugir da arrepiante realidade da solteirice. Tá, é compreensível, mas posso dizer uma coisa? Não é aceitável. O termo “homenino” (também conhecido como “bebezão”, “crianção” ou coisas assim) é um estigma. É usado para humilhar e degradar de forma pessoal uma classe de cristãos. É uma forma de derrubar. Expressa desprezo e demonstra arrogância. E, pior ainda, define o valor de pessoas criadas à imagem de Deus de acordo com a forma que desempenha seus papéis de gênero.

O problema não é preguiça

Você pode dizer: “Mas existem tantos homens cristãos que apresentam comportamentos decepcionantes!”. É verdade, mas eu não estou convencido de que categorias como pecaminosidade ou preguiça, explicações comuns para tal comportamento, capturem a essência do problema com propriedade. Possivelmente a preguiça aponte para além do problema em si mesmo – talvez seja mais sintomático do que um problema sistêmico. Vamos interpretar os comportamentos clássicos de um “homenino” através de outros pontos de vista, que não sejam a preguiça:

Adiar o casamento pode contribuir para: a fuga do compartilhamento de um espaço físico, emocional e espiritual, fechando-se num espaço pessoal.

Negligenciar a Bíblia e a igreja pode contribuir para: a fuga de uma intimidade com Deus, fechando-se em sua vida pessoal.

Vagar sem nenhuma ambição pode contribuir para: a fuga de horas de trabalho, fechando-se em seu tempo pessoal.

Jogar vídeo games o tempo todo pode contribuir para: a fuga da realidade externa, fechando-se numa realidade virtual.

Morar na casa dos pais pode contribuir para: a fuga de pressões externas, fechando-se em seu conforto interno.

Folhas de figueira dos tempos modernos

“Preguiçoso” é uma descrição superficial. “Fuga” nos leva em direção a uma explicação do coração. As Escrituras nos dizem que o coração é sempre ativo (Gênesis 6.5; Jeremias 17.5; 1 Pedro 1.22), então nossa explicação do coração deve sempre ter voz ativa (Não estou dizendo aqui que a fuga é o problema, mas nos ajuda a ir um pouco mais fundo do que o conceito de preguiça).

“Fuga” abre a porta para um sem número de outras palavras ativas, e um hospedeiro para outras realidades do coração: medo (“E se eu falhar?”), ansiedade (“Eu não posso lidar com isso!”), depressão (“Eu me odeio, odeio minha vida.”), sentimento de insuficiência (“Eu não sou o suficiente”), auto depreciação (“Eu sou estúpido/sujo/indesejável”), vergonha (“Eu sou repugnante para Deus e para meu próximo”) e milhares mais. “Eu prefiro fugir a ser exposto à vergonha pública” (cf. Apocalipse 6.16).

Essas categorias nos dão uma nova perspectiva. “Homeninos” não estão, em primeiro lugar, lutando com a masculinidade, mas sim, com a própria noção de ser humano. A solteirice, solidão, preguiça, vídeo games e a casa da mamãe são as folhas de figueira dos dias atuais – coberturas feitas por homens despidos de competência e profundamente envergonhados de sua falta de habilidade para se comprometerem com as realidades da vida por causa de sua experiência com o Opressor (Isaías 14.4), que busca espalhar confusão e caos entre o povo de Deus (João 8.44; 2 João 7; Apocalipse 12.10).

A solução não é “Tentar com mais vontade”

 O que se faz necessário não é a igreja de Jesus Cristo arrancar essas folhas de figueira, mas começar a vestir-se com os trajes do evangelho (Gênesis 3.21). A solução da imaturidade entre jovens cristãos não é memorizar verdades ou enrijecer regras, mas uma Pessoa, que não evitou as nossas realidades, antes, enfrentou-as por nós: Jesus (Lucas 2.52; Filipenses 2.6-9) – Jesus, com sua intercessão, misericórdia e graça.

O que uma mulher cristã pode fazer a respeito desse fenômeno de imaturidade, além de desabafar e ofender? Aqui vão algumas formas de ajudar:

1. Oração intercessória

Ore para que mais pais levam a sério seus papeis de ensinar seus filhos a encarar o mundo, e não fugir dele. Ore para que homens, em geral, façam a mesma coisa por jovens que não tem um pai presente. Ore para que haja mudança nos homens, não mudança meramente comportamental, mas uma mudança no coração – ir em direção a Deus e ao próximo, mesmo em meio ao pecado interno e à opressão externa (Lucas 10.27).

 2. Misericórdia

Fale bem dos outros (Efésios 4.31); Trate a imaturidade dos rapazes da mesma forma com a qual você trataria qualquer outro problema dentro da igreja: com diligência, fidelidade e amor, o mesmo tratamento que Paulo inclui em sua chamada a “ser homem” (I Coríntios 16.13-14). Isso significa que as mulheres não devem reagir com cinismo ou usando o termo “homenino” (Efésios 4.29).

 3. 

Deus está disciplinando os homens imaturos a fim de fazê-los crescer (Hebreus 12.11). Ele não precisa de seus comentários falsos para ajudá-lo (Provérbios 11.12). Confie que Deus não abandonou os homens à imaturidade, mas está terminando a obra que começou (Filipenses 1.6).

 4. Graça

Toda tentação é comum à humanidade (I Coríntios 10.13). O medo que existe no coração de um homem pode ser manifesto de formas diferentes (e específicas de acordo com o gênero) em sua vida. Não importa quem você namore, ele vai ser um homem pecador (Romanos 3.23) que é imaturo e medroso, e se ele é um cristão, Deus está triunfando sobre o mal que está contra ele e nele (Filipenses 2.13; Romanos 16.20). Não estou dizendo que Jesus quer que você namore um perdedor, ele não quer isso. O que estou dizendo é: não apenas namore um cristão centrado no evangelho; namore como uma cristã centrada no evangelho (I Pedro 4.8).

Søren Kierkegaard disse que a “natureza de uma mulher a equipou tão carinhosamente com um instinto tão sensível que a mais elevada ponderação masculina é, em comparação, nada”. Irmãs, provem que Kierkegaard estava certo. Cubram-nos com orações, misericórdia, fé e graça e nós, homens, tentaremos supri-las em disciplina e aspirações divinas. Então, a mútua admiração Àquele que nos ajuda em nossas fraquezas talvez floresça em tempo oportuno (Romanos 8.26).

Por: Paul Maxwell. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Fonte: Talking About “Man-Boys”.

Original: Precisamos falar sobre os “homeninos”. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Rafael Andrade. Revisão: Ronaldo Vasconcelos e Leonardo Bruno Galdino.