Um blog do Ministério Fiel
Girolamo Zanchi – A imutabilidade de Deus e de seus decretos (Reforma500)
Proposição 1. Deus é essencialmente imutável em si mesmo. Se ele fosse de outra maneira, ele seria confessadamente imperfeito, uma vez que quem muda deve mudar para melhor ou para pior; seja qual for a mudança que alguém sofra, esse ser deve, ipso facto, tornar-se ou mais excelente do que era ou perder alguma excelência que tinha. Mas nenhum destes pode ser o caso com a deidade: Ele não pode mudar para melhor, pois isso implicaria necessariamente que ele não era perfeitamente bom antes; Ele não pode mudar para pior, pois então ele não poderia ser perfeitamente bom depois dessa mudança. Portanto, Deus é imutável. E esta é a voz uniforme da Escritura. “Porque eu, o Senhor, não mudo” (Malaquias 3.6). “[Nele] não há mudança nem sombra de variação” (Tiago 1.17). “Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim” (Salmo 102.27).
Proposição 2. Deus também é absolutamente imutável em relação aos seus propósitos e promessas. “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?” (Números 23.19). “A Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem para que se arrependa” (1Samuel 15.29). “Mas, se ele resolveu alguma coisa, quem então o desviará?” (Jó 23.13). “Eu, o SENHOR, o disse: viva isso, e o farei, não me tornarei atrás, e não pouparei, nem me arrependerei” (Ezequiel 24.14). “Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Romanos 11.29). “Ele permanece fiel e não pode negar a si mesmo” (2Timóteo 2.13).
Pelo propósito ou decreto de Deus, intencionamos o seu conselho determinado, pelo qual ele, desde toda a eternidade, preordenou tudo que ele faria, ou permitiria que fosse feito, no tempo. Em particular, significa sua designação eterna de alguns homens para a vida, e de outros para a morte, cuja designação flui totalmente a partir da sua vontade livre e soberana. “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú” (Romanos 9:11-13).
O apóstolo, então, nas próximas palavras, antecipa uma objeção, que ele prevê que os homens de mentes corruptas fariam quanto a isso: “Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus?”; ao que ele responde: “De maneira nenhuma” e resolve todo o procedimento de Deus com suas criaturas em sua própria vontade soberana e independente, pois Ele disse a Moisés: “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia”.
Afirmamos que os decretos de Deus não são apenas imutáveis quanto ao próprio Deus, sendo inconsistentes com sua natureza alterar os seus propósitos ou mudar a sua mente; mas que eles são imutáveis também em relação aos objetos desses decretos, de modo que tudo o que Deus determinou, em relação a cada pessoa ou coisa individual, certa e infalivelmente será cumprido neles e sobre eles. Por isso, encontramos que ele realmente mostra misericórdia a quem ele decretou mostrar misericórdia, e endurece a quem Ele resolveu endurecer (Romanos 9.18); “Porque o seu conselho permanecerá, e fará toda a sua vontade” (Isaías 46.10). Portanto, a sua eterna predestinação dos homens e coisas deve ser imutável tanto quanto ele mesmo é imutável e, tão longe de ser reversível que nunca pode admitir a menor variação.
Proposição 3. “Apesar”, para usar as palavras de Gregório, “de Deus nunca se desviar do seu decreto, ainda assim, ele muitas vezes varia em suas declarações”: isso é sempre seguro e imutável; estes são por vezes aparentemente discordantes. Então, quando ele sentenciou contra os ninivitas por meio de Jonas, dizendo: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” [Jonas 3.4], o significado das palavras não é que Deus absolutamente pretendia no fim deste tempo, destruir a cidade, mas que se Deus tratasse essas pessoas de acordo com os seus merecimentos, elas seriam totalmente extirpadas da terra, e seriam destruídas a menos que se arrependessem rapidamente.
Semelhantemente, quando ele disse ao rei Ezequias, por meio do profeta Isaías: “Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás” [2Reis 20.1; Isaías 38.1], isso significava que, no que diz respeito às causas secundárias e, considerando o mau estado de saúde do rei e condição de enfraquecimento, ele não poderia, humanamente falando, viver por mais muito tempo. Porém, ainda assim o acontecimento mostrou que Deus determinou imutavelmente que ele viveria por mais quinze anos, e por isso colocou em seu coração a oração pela bênção decretada; semelhantemente, no caso de Nínive, mencionado anteriormente, Deus tinha resolvido não destruir aquela cidade naquele momento, e para a realização do seu próprio propósito de uma maneira digna de si mesmo, fez do ministério de Jonas o meio de levar aquele povo ao arrependimento. Tudo isso, enquanto mostra que a predestinação absoluta de Deus não exclui o uso dos meios, também prova que por mais diversas que as declarações de Deus possam aparecer (a saber, quando dizem respeito à consideração das causas naturais), os seus conselhos e propósitos permanecem firmes e inabaláveis, e não podem admitir mudança em si mesmos, nem obstáculo em seu cumprimento. Veja isso mais amplamente na exposição de Romanos 9 por Martin Bucer, onde você encontrará a certeza da designação divina solidamente afirmada e irrevogavelmente vindicada.