Um blog do Ministério Fiel
Theodoro Beza – Jesus Cristo, o Filho de Deus (Parte 1) (Reforma500)
Como Deus tornou o pecado do homem para sua glória
Não resta mais nada para todo o mundo, exceto seguir para a sua ruína (Romanos 3.19). Mas Deus, sendo não somente muito justo, mas também muito misericordioso, de acordo com sua infinita sabedoria, estabeleceu eternamente um caminho para converter todos os males em sua grande glória: para a maior manifestação da sua infinita bondade (Romanos 3.21-25), naqueles a quem ele escolheu eternamente para ser glorificado na salvação deles (Romanos 8.29, 9.23). E, por outro lado, ele tornou o pecado do homem na manifestação do seu soberano poder e sua ira, pela justa condenação dos vasos de ira preparados para a destruição (Romanos 9.22; Êxodo 9.6).
Como diz bem Agostinho: “Se todos fossem salvos, o salário do pecado exigido pela justiça seria ocultado. Se ninguém fosse salvo, ninguém poderia ver o que a graça concede”.
Jesus Cristo é o único mediador escolhido e prometido por Deus
Este único e exclusivo caminho é o mistério da encarnação do Filho de Deus com tudo o que flui disso. Progressivamente, isso foi prometido de Adão a João Batista, anunciado e pregado pelos patriarcas e profetas, e também tipificado de várias formas sob a lei (Gênesis 3.15, 12.3, 18.18, 22.18; Deuteronômio 18.15-18; 2Samuel 7.12; Romanos 1.2-3; etc.) Assim, o Filho está totalmente contido nos livros do Antigo Testamento, de modo que os homens daqueles tempos foram salvos pela fé no Jesus Cristo que estava por vir.
A semelhança e a diferença entre o Antigo e o Novo Testamento
Portanto, nunca houve e nunca haverá senão uma única aliança de salvação entre Deus e os homens (Hebreus 13.8; Romanos 3.25; 1Timóteo 2.5-6; 1Coríntios 10.1-11, 1.7-10, veja toda a Epístola aos Hebreus). A substância desta aliança é Jesus Cristo. Mas, tendo em conta as circunstâncias, existem dois Testamentos ou “Alianças”. Temos os títulos e conteúdos autênticos delas, que nós chamamos de “Escritura Sagrada” e “Palavra de Deus”. Uma é chamada “Antiga” e a outra “Nova” (Jeremias 31.31-32; Hebreus 8.6). A segunda é muito melhor do que a primeira, pois a primeira anunciou a Jesus Cristo, mas com que de longe e escondido sob as sombras e figuras que desapareceram na sua vinda; ele mesmo é o sol da justiça (João 4.23-24).
Por que era necessário que Jesus Cristo fosse verdadeiro homem em natureza, em seu corpo e em sua alma, mas sem nenhum pecado
Era necessário que o Mediador desta aliança e reconciliação fosse verdadeiro homem, mas sem qualquer mancha do pecado original ou qualquer outro, pelas seguintes razões: Em primeiro lugar, uma vez que Deus é muito justo e o homem é o objeto da sua ira, por causa da corrupção natural (1Timóteo 2.5; João 1.14; Romanos 1.3; Gálatas 4.4; Romanos 8.2-4; 1Coríntios 1.30), para reconciliar os homens com Deus, era necessário que existisse um verdadeiro homem em quem as ruínas causadas por esta corrupção fossem totalmente restauradas.
Em segundo lugar, o homem é ordenado a cumprir toda a justiça que Deus exige dele para ser glorificado (Mateus 3.15; Romanos 5.18; 2Coríntios 5.21). Era necessário, portanto, que houvesse um homem que cumprisse perfeitamente toda a justiça para agradar a Deus.
Em terceiro lugar, todos os homens são cobertos com um número infinito de pecados, tanto interiores quanto exteriores; por isso estão sujeitos à maldição de Deus (Romanos 3.23-26; Isaías 53.11; etc.). Era necessário, portanto, que existisse um homem que satisfizesse plenamente a justiça de Deus a fim de pacificá-lo.
Finalmente, nenhum homem corrupto seria capaz, de qualquer forma, de começar a cumprir a menor dessas ações. Antes de tudo, ele necessitaria de um Redentor para si mesmo (Romanos 8.2; 2Coríntios 5.21; Hebreus 4.15; 1Pedro 2.22, 3.18; 1João 2.1-2). Muito seria necessário para si mesmo antes de poder redimir os outros, ou de poder fazer qualquer coisa agradável ou satisfatória para Deus (Romanos 14.23, Hebreus 11.6). Era necessário, portanto, que o Mediador e Redentor dos homens fosse verdadeiro homem em seu corpo e em sua alma, e que, no entanto, fosse inteiramente puro e livre de todo pecado.
Por que era necessário que Jesus Cristo fosse verdadeiro Deus
Era necessário que esse mesmo Mediador fosse verdadeiro Deus e não somente homem (João 1.14; etc); no mínimo, pelas seguintes razões:
Em primeiro lugar, se Ele não fosse verdadeiro Deus, ele absolutamente não seria Salvador, mas precisaria de um Salvador (Isaías 43.11; Oséias 13.4; Jeremias 17.5-8).
Em segundo lugar, é necessário, a partir da justiça de Deus, haver uma relação entre o crime e sua punição. O crime é infinito, porque é cometido contra aquele cuja majestade é infinita. Portanto, aqui há necessidade de uma satisfação infinita; pela mesma razão, era necessário que aquele que o realizasse como homem verdadeiro fosse também infinito, ou seja, verdadeiro Deus.
Em terceiro lugar, a ira de Deus sendo infinita, não havia nenhuma força humana ou angélica conhecida que pudesse suportar tal peso sem ser esmagada (João 14.10,12,31, 16.32; 2Coríntios 5.19). Aquele que viveria novamente, depois de ter derrotado o Diabo, o pecado, o mundo e a morte unidos à ira de Deus, precisava ser não somente homem perfeito, mas também verdadeiro Deus.
Por fim, para melhor manifestar esta incompreensível bondade, Deus não desejou que Sua graça fosse apenas igual ao nosso delito; ele quis que, onde abundou o pecado, a graça superabundasse (Romanos 5.15-21). Por isso, enquanto foi criado à imagem de Deus, o primeiro Adão, o autor do nosso pecado, era terreno, como a sua fragilidade se evidenciou (1Coríntios 15.45-47). Jesus Cristo, pelo contrário, o segundo Adão, por meio do qual somos salvos, embora seja verdadeiro e perfeito homem, é, contudo, o Senhor vindo do céu, isto é, o verdadeiro Deus. Pois, em essência, toda a plenitude da divindade habita nele (Colossenses 2.9). Se a desobediência de Adão nos fez cair, a justiça de Jesus Cristo nos dá mais segurança do que tínhamos anteriormente. Nós esperamos pela vida adquirida por Jesus Cristo, que é melhor do que a que perdemos em Adão; assim como Jesus Cristo sobrepuja Adão.
Como o mistério de nossa salvação foi realizado em Jesus Cristo
Portanto, nós confessamos que para cumprir a aliança prometida aos antigos pais e predita pela boca dos profetas (Isaías 7.14; Lucas 1.31,35,55,70), o verdadeiro, único e eterno Filho de Deus o Pai (Romanos 1.3; João 17.5; 16.28; Filipenses 2.6-7) tomou a forma de servo, no momento designado pelo Pai. Sendo concebido no ventre da bem-aventurada virgem Maria, pelo poder do Espírito Santo e sem qualquer operação do homem (Mateus 1.20; Lucas 1.28,35), ele tomou a natureza humana com todas as suas fraquezas, com exceção do pecado (Hebreus 4.15, 5.2).
As duas naturezas, a de Deus e a do homem, estão unidas em uma pessoa desde o momento da concepção da carne de Cristo
Nós confessamos que, desde o momento desta concepção, a pessoa do Filho esteve inseparavelmente unida à natureza humana (Mateus 1.20; Lucas 1.31,32,35,42,43). Não há dois Filhos de Deus, ou dois Jesus Cristo, mas um só é propriamente Filho de Deus, Jesus Cristo. Em todos os momentos as propriedades de cada uma das duas naturezas permanecem íntegras e distintas. Pois, a divindade separada da humanidade, ou a humanidade separada da divindade ou uma confundida com a outra, não nos beneficiariam.
Jesus Cristo é, portanto, verdadeiro Deus e verdadeiro homem (Mateus 1.21-23; Lucas 1.35). Ele tem uma verdadeira alma humana e um verdadeiro corpo humano formado pela substância da virgem Maria e pelo poder do Espírito Santo. Por este meio, ele foi concebido e nascido desta virgem Maria, virgem, eu digo, antes e depois do nascimento. E tudo isso foi feito para nossa redenção.