Um blog do Ministério Fiel
O não bem-vindo presente da espera
Esperar pode ser agonizante.
É mais difícil esperar quando eu não tenho certeza do resultado. Quando estou confiando em Deus para o melhor, e ao mesmo tempo me preparando para o pior. Seria muito mais fácil se eu tivesse um bom resultado garantido. Ou pelo menos uma promessa de Deus para aguentar firme. Ou alguma consolação em que ancorar as minhas orações. Mas Deus muitas vezes parece silencioso enquanto estou esperando. Não tenho ideia se ele irá, algum dia, responder minha oração, e tenho a impressão de que estou esperando no escuro.
Eu li várias vezes o Salmo 13.1-2: “Até quando, SENHOR? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?”. Oh Deus, até quando? Eu fiz essa pergunta muitas vezes. Se eu soubesse que Deus eventualmente responderia minha oração com um “Sim”, seria diferente. Mas sem essa segurança, mesmo um “Não” seria mais fácil do que um “Espere”.
Quando Deus diz “Não”
Há bastante tempo atrás, eu procurei na Bíblia por uma promessa que me ajudasse em meio a uma espera torturante. Eu queria uma palavra para “clamar” — um verso que me asseguraria de uma eventual satisfação. Alguma coisa, qualquer coisa, para me agarrar. Enquanto eu esperava, eu li: “Não duvidou [Abraão], por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera” (Romanos 4.20–21).
Mesmo admirando a fé de Abraão, essa passagem sempre me frustrava. Com certeza Abraão nunca vacilou. Ele tinha uma palavra direta de Deus. Se eu tivesse uma promessa direta de Deus, uma certeza de resposta, então estaria contente por esperar também. Abraão pode esperar porque ele sabia que teria o que queria no final. Queria que Deus me desse uma promessa como a que ele deu a Abraão. Então, continuei pedindo a Deus por um sinal.
Nada veio. Nenhum versículo. Nenhuma confirmação. Somente o silêncio, por anos. E no final, a resposta de Deus foi “Não”.
A princípio pareceu injusto e sem propósito. Tive dificuldades para entender o propósito daqueles anos aparentemente sem sentido. Enquanto eu crescia e me aproximava de Deus, tinha a impressão de que havia recebido um dom menor. Tirei isso da minha cabeça depois de um tempo. Não havia sentido continuar pensando isso. Mas sempre que eu lia aquela passagem de Romanos, ela me incomodava. Por que Deus não me diz a sua resposta desde o princípio?
Um modelo para esperar de forma correta
Após alguns anos, quando eu comecei a ler Romanos novamente nos meus devocionais, hesitei ao chegar em Romanos 4. Com pesar, me lembrou daquele período de dúvidas e espera. Sentindo-me desconectada de Abraão, decidi olhar para a história dele em Gênesis. Eu vi a humanidade de Abraão na forma como ele duvidou da proteção de Deus algumas vezes. Ele inclusive tentou cumprir a promessa de Deus por si mesmo, através de Agar. Talvez ele tenha pensado que Deus precisava de sua ajuda e ingenuidade.
Com essa parte eu consigo me identificar. A luta de Abraão com a impaciência parece familiar. Muitas vezes eu tentei ajudar Deus a cumprir seus planos — na verdade, os planos que eu gostaria que ele tivesse. Planos que me dariam o que eu queria. O que eu imaginava que merecia.
Enquanto estudava Gênesis, vi que enquanto Abraão estava esperando, Deus estava trabalhando. Moldando o seu caráter. Ensinando-o a ser paciente. Construindo a amizade entre eles. Foi naquela espera de 25 anos que Abraão conheceu a Deus intimamente. Foi naqueles anos aparentemente perdidos que Deus o transformou. E após décadas de espera, Abraão estava pronto para o maior teste da sua fé, quando Deus pediu para ele sacrificar Isaque, o filho da promessa. O filho pelo qual ele esperou.
Então eu vi. Por que não percebi isso antes? A fé de Abraão não estava baseada na promessa dos seus descendentes. Se estivesse, ele nunca teria levado Isaque para ser sacrificado. Ele não teria aberto mão do que Deus lhe prometeu anos antes. Ele teria se agarrado firmemente a Isaque, sentindo-se dono do seu filho, pois Isaque era o cumprimento da promessa de Deus a Abraão, aguardada por um longo tempo.
Abraão não se prendeu ao seu próprio entendimento do cumprimento da promessa de Deus. Deus poderia cumprir sua promessa da forma que desejasse, inclusive ressuscitando Isaque se fosse necessário (Hebreus 11.19). Então, finalmente, a fé de Abraão residia na confiabilidade de Deus.
A resposta mais preciosa
A fé de Abraão não era na promessa somente. Sua fé estava enraizada em Quem prometeu. Porque sua fé não estava no que Deus poderia fazer por ele, mas no próprio Deus, Abraão estava disposto a arriscar. Ele poderia fazer qualquer coisa que Deus pedisse. Ele não se prendia a um resultado específico. Ele se prendia a Deus. A espera de Abraão fortaleceu sua fé. Ensinou-lhe os caminhos de Deus. Mostrou-lhe a fidelidade de Deus. Abraão entendeu que Deus proveria tudo o que necessitasse.
Eu tive a mesma certeza que Abraão teve — que Deus proveria tudo o que eu necessitasse. Enquanto eu deixava essa promessa criar raízes, comecei a ver a minha espera de forma diferente. Talvez Deus esteja fazendo com que eu e você esperemos pelas mesmas razões pelas quais ele fez Abraão esperar: Para aprofundar o nosso relacionamento com ele, para solidificar nossa confiança nele, para nos preparar para o nosso ministério e para nos conformar à sua imagem.
Em retrospecto, posso ver que “espere” é a resposta mais preciosa que Deus pode nos dar. Faz com que nos apeguemos a ele e não a um resultado. Deus sabe o que precisamos, eu não sei. Ele vê o futuro, eu não. A perspectiva dele é eterna, a minha não. Ele irá me dar o que for melhor para mim, quando for melhor para mim. Como Paul Tripp diz: “Esperar não é somente sobre o que eu vou ganhar ao final da espera, mas sobre o que eu me torno durante a espera”.