Um blog do Ministério Fiel
O povo de Deus precisa de pregação e de ensino
Ao longo dos anos, não deixei em secreto a minha admiração por homens como Martinho Lutero e João Calvino, que foram tão influentes na recuperação do evangelho durante a Reforma Protestante do século XVI. Eu fico maravilhado com seus intelectos imponentes e capacidade de permanecerem firmes em meio a muitos perigos. O amor deles pela verdade bíblica é um exemplo a ser seguido, e à medida que me aproximo de vinte anos de pregação semanal em Saint Andrew’s Chapel, sou particularmente grato pelo seu modelo pastoral. Os dois homens foram “célebres” em seus dias, mas nenhum deles passou seus anos viajando pela Europa, a fim de consolidar um movimento de seguidores. Em vez disso, ambos se dedicaram à sua vocação primária de pregar e ensinar a Palavra de Deus. Ambos eram pregadores incansáveis — Lutero em Wittenberg, na Alemanha, e Calvino em Genebra, na Suíça. Eles consideraram seriamente o ministério da Palavra de Deus, então, quando eles falam sobre a tarefa do pregador, eu presto muita atenção.
Há mais de uma década, fui convidado a dar uma palestra sobre a visão de Martinho Lutero sobre a pregação e descobri que a preparação para esse exercício era inestimável para meu próprio trabalho como pregador. Descobri também que aquilo que Lutero tinha a dizer sobre a pregação não era apenas para o pastor, mas também para toda a igreja, e é surpreendente quão atuais as suas palavras permanecem em nossos dias.
Uma das ênfases que encontramos repetidamente nos escritos de Lutero é que um pregador deve ser “apto a ensinar”. Em muitos aspectos, essa não é uma grande descoberta, pois ele está apenas reafirmando as qualificações que são estabelecidas no Novo Testamento para os anciãos da igreja (1 Timóteo 3.2). Contudo, considerando o que esperamos dos nossos pregadores hoje, as palavras de Lutero — ecoando a revelação bíblica — precisam ser ouvidas novamente. O conceito de que a tarefa primária do ministro é ensinar está quase perdida na igreja hoje. Quando chamamos ministros para as nossas igrejas, muitas vezes buscamos que esses homens sejam administradores experientes, arrecadadores qualificados de recursos e bons organizadores. Certamente, queremos que eles conheçam algo sobre teologia e Bíblia, mas não tornamos uma prioridade que essas pessoas sejam capacitadas para ensinar as coisas de Deus à congregação. As tarefas administrativas são tidas como mais importantes.
Esse não é o modelo que o próprio Jesus recomendou. Você se lembra do encontro que Jesus teve com Pedro após a sua ressurreição. Pedro negou Jesus publicamente por três vezes, e Jesus restaurou o apóstolo, dizendo-lhe por três vezes: “apascenta as minhas ovelhas” (João 21.15-19). Por extensão, esse chamado é dado aos presbíteros e ministros da igreja porque o povo de Deus que está reunido nas congregações de igrejas em todo o mundo pertence a Jesus. Esse povo são as suas ovelhas. E todo ministro que é ordenado é consagrado e confiado por Deus para o cuidado dessas ovelhas. Nós chamamos isso de “pastorado”, porque os ministros são chamados a cuidar das ovelhas de Cristo. Os pastores são os sub-pastores de Cristo, e que pastor negligenciaria as suas ovelhas de tal modo que nunca tivesse tempo ou preocupação de alimentá-las? A alimentação das ovelhas do Senhor ocorre principalmente através do ensino.
Normalmente, nós fazemos distinção entre pregação e ensino. Pregação envolve coisas como exortação, exposição, admoestação, encorajamento e conforto, enquanto o ensino é a transferência de informação e instrução em várias áreas de conteúdo. Contudo, na prática há muita sobreposição entre os dois. A pregação deve comunicar conteúdo e inclui ensino, e o ensino das coisas de Deus às pessoas não pode ser feito de uma forma neutra, mas deve exortá-las a ouvirem e obedecerem a Palavra de Cristo. O povo de Deus precisa de pregação e de ensino, e eles precisam de mais do que vinte minutos de instrução e exortação por semana. Um bom pastor nunca alimentaria as ovelhas apenas uma vez por semana, e por isso Lutero ensinava o povo de Wittenberg quase diariamente, e Calvino fazia o mesmo em Genebra. Eu não estou necessariamente convocando a essas mesmas práticas em nossos dias, mas estou convencido de que a igreja precisa resgatar algo do ministério de ensino regular que era evidente no trabalho dos nossos antepassados na fé. De acordo com as suas capacidades, as igrejas devem criar muitas oportunidades para ouvirem a Palavra de Deus pregada e ensinada. Culto na noite de domingo, cultos e estudos bíblicos durante a semana, Escola Dominical, estudos bíblicos em casa, dentre outros, dão aos leigos a chance de se alimentarem da Palavra de Deus várias vezes por semana. Conforme a sua capacidade, os membros devem aproveitar o que é disponibilizado para eles como meio de instrução nas verdades profundas da Escritura.
Digo isso não para encorajar a criação de programas por causa de programas, e eu não quero colocar um fardo impraticável nos membros ou na liderança da igreja. Mas a história nos mostra que os maiores períodos de avivamento e reforma que a igreja já viu ocorrem junto com a pregação frequente, consistente e clara da Palavra de Deus. Se quisermos ver o Espírito Santo trazendo renovação para nossas igrejas e nossos países, será necessário haver pregadores que estejam comprometidos com a exposição da Escritura, e membros que busquem pastores que os alimentem com a Palavra de Deus e tirem o máximo de proveito das oportunidades que estejam disponíveis para instrução bíblica.