Resgatando a ambição no ambiente de trabalho (Parte 3)

Há alguns anos, eu escrevi o livro Resgatando a Ambição [Editora Fiel] e convoquei a um resgate. Eu desejava desviar a ambição das muitas motivações más e colocá-la em ação para a glória de Deus. Eu quis que os cristãos percebessem que para compreender a nossa ambição, devemos entender que estamos em uma busca por glória. E onde encontramos a glória determina o sucesso da nossa busca. Desde que escrevi esse livro, muitos sugeriram que eu abordasse o propósito de Deus para a ambição no ambiente de trabalho e na vocação diária. O que segue é a parte 3 de uma série em várias partes sobre o resgate da ambição no ambiente de trabalho. Você pode ler a parte 1 aqui e a parte 2 aqui.

Resgatada da paralisia dos sonhos perdidos

Harvard Business Review[1] chamou-o de “mediascência” (“middlescence”). Trata-se do fenômeno crescente entre os trabalhadores de meia-idade, que estão “exaustos, oprimidos e entediados”.[2] Porém, consiste em mais do que isso. São homens e mulheres percebendo que eles nunca realizarão certos sonhos. O gerente começa a perceber que nunca será um executivo, o técnico que sente que seus sacrifícios pelo trabalho foram infrutíferos, o artista confrontando as limitações dos seus dons, o trabalhador entediado enquanto confronta a probabilidade de que isso é tudo o que existe. “Como a adolescência”, a revista resume, “a mediascência pode ser um período de frustração, confusão e alienação”.[3]

A mediascência pode se estabelecer em nossa vocação como uma névoa, confundindo nossa visão e obscurecendo nossos objetivos. “Nós não compreendemos quão influentes os nossos sonhos são até a meia-idade”, diz Paul Tripp. “De repente, nos sentimos iludidos, enganados e aprisionados. O que nos satisfazia antes não nos satisfaz mais”.[4]

Isso é mais do que apenas insatisfação. É a morte de ambições estimadas. Mediascência é onde os sonhos seguem para a morte.

Mas você já considerou que às vezes a agenda de Deus para o nosso bem envolve o sepultamento dos nossos sonhos?

É um fato da vida que ambições são negadas. Em muitos casos, alguns dos nossos sonhos de longo prazo são apenas isso: sonhos. Eu cresci sonhando que eu seria um profissional de bola. Futebol, beisebol, não importava. Na verdade, talvez ambos, por que não? Como você provavelmente pode dizer, a realidade raramente era verificada por mim naquela época. Mas houve uma ocorrência sem aviso prévio que nunca esquecerei. Eu era o arremessador da minha equipe de beisebol do ensino médio contra um rival da cidade. Segundo eu me lembro, e digo isso com toda a humildade, eu era impressionante. Eu não acho que as estatísticas apoiavam a minha suposição, mas quando você é impressionante, as estatísticas nunca importam.

Em um momento crucial, o melhor jogador da outra equipe entrou na área do rebatedor, um rapaz chamado Dan Marino. Você pode se lembrar dele como um lançador do hall da fama do NFL. Bem, para mim ele era apenas um outro detalhe potencial no meu cinto de glória.

Quando você é um arremessador, nunca quer ouvir um POOW. Esse som singular é uma dica para o arremessador mudar de direção e assistir a bola alcançar o horizonte. Dan Marino bateu essa bola de tal forma que disparou alarmes no Controle de Missão da NASA, em Houston. Tudo o que me lembro é que o jogador do centro ainda buscava a bola quando Dan Marino cruzou o ponto de chegada. Talvez essa bola ainda esteja orbitando a terra.

Aqui está a parte interessante. Para Dan Marino aquilo foi apenas mais um passo em um esporte secundário contra um adversário anônimo no caminho para outro sonho. Para mim, foi um divisor de águas em minha carreira desportiva. Mas sonhos demoram a morrer quando você é incrível em sua própria mente, e os meus não desfaleceram facilmente. Ao longo do tempo, porém, eles começaram a murchar enquanto eu reconhecia que habilidade e dons são necessários para níveis mais elevados nos esportes… E eu não tinha ambos! O impressionante morreu nos braços da realidade.

Ninguém realiza tudo o que sempre quis ou alcança tudo o que se propôs a fazer. Nossas ambições são pressionadas pelos limites da oportunidade, tempo, recursos ou de nossas próprias capacidades físicas. Sempre haverá Bill Gates, Warren Buffets e John D. Rockefellers no mundo. Mas não muitos. E mesmo eles não podem fazer tudo o que gostariam de fazer. Em outras palavras, a soberania de Deus estabelece certos limites para nossas vidas.

Aqui está algo que eu tenho observado ao pastorear pessoas. Quando nos deparamos com esses limites — quando nossas ambições falham completamente e estamos cercados pelos destroços dos nossos sonhos — a soberania de Deus é frequentemente a primeira coisa a buscar em nosso testemunho interno. Não é que mudamos a nossa teologia. É que nossa teologia não está conectada aos nossos desejos não cumpridos. Perdemos de vista a onisciência e a onipotência de Deus. Não conseguimos conectar nossas circunstâncias com a bondade de Deus.

Aqui é onde entra em ação o poder daquele grande versículo decorado: Romanos 8.28. Não deixe essas palavras sobre um ímã de geladeira; faça com que elas penetrem em sua alma: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.

Pode ser uma das coisas mais difíceis que nós já aprendemos, mas as ambições negadas podem ser parte do plano soberano de Deus para guiar nossas vidas para os seus fins designados. Deus usa nossos sonhos perdidos para cumprir a sua ambição para nós. Qual é essa ambição? Ele o descreve no versículo seguinte: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” (versículo 29).

Os sonhos perdidos não são simplesmente a vara de Deus para nos conduzir à submissão. São experiências nas quais podemos descobrir o amor de Deus, sua graça irresistível e o verdadeiro poder do evangelho. Através da nossa frustração, Deus nos molda à imagem de Jesus Cristo. Ele refina as nossas ambições, nos livra do egoísmo e nos ensina a acalentar sonhos para sua glória. Ele nega algo em nós para que possamos nos deleitar nele em tudo.

Fazer a conexão entre as nossas circunstâncias e a bondade de Deus pode ser a diferença entre o deleite e a desilusão. Isso transformará a maneira como você pensa sobre a promoção que não conseguiu, a entrevista de emprego malsucedida, ou a comissão de vendas do ano que de alguma forma evaporou. A negação das ambições não é, em última análise, um castigo ou punição. É a obra graciosa de um Deus amoroso que estabelece o caminho para o nosso andar. Ele fixa cercas ao longo do caminho para nos manter caminhando em sua direção. Quando Deus está cercando nossa ambição, certamente pode parecer restringir nossa liberdade. Mas as cercas não restringem simplesmente; elas protegem. Uma boa cerca nos mantém no caminho certo e nos impede de buscar algo bom na beira de um penhasco.

Lembre-se, a agenda de Deus para a nossa ambição não começa com o que nós fazemos, mas com quem nos tornamos. Aquele sonho perdido pode ser a porta para um caráter mais forte, uma confiança mais profunda em Deus e novas experiências da sua provisão. Pode até ser o primeiro passo no caminho para uma forma de serviço que glorifica a Deus, com a qual você ainda não sonhou. Deus não deixa de negar certas ambições para realizar um bem maior em nós e através de nós.

 #1: Harvard Business Review é uma revista escrita para executivos dos níveis mais altos das empresas. Apresenta análises de problemas de gestão de negócios e discussão teórica e prática em todos os campos da administração.

#2: Robert Morrison, Tamara Erickson, Ken Dychtwald, “Managing Middlescence”, Harvard Business Review (Mar., 2006), 79.

#3: Ibid., 80.

#4: Paul Tripp, Perdido no Meio (Editora Fiel, 2016).

Por: Brian Croft. © Practical Shepherding, Inc. Website: practicalshepherding.com. Traduzido com permissão. Fonte: RESCUING AMBITION IN THE WORKPLACE – PART 3
Original: Resgatando a ambição no ambiente de trabalho (Parte 3). © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira . Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva.