Maternidade espiritual: você se sente preparada?

Trecho retirado com permissão do livro Ministério de Mulheres, de Gloria Furman e Kathleen Nielson, pela Editora Fiel.

UMA CARTA ÀS MULHERES MAIS VELHAS DA IGREJA

Começo essa carta para você com uma história triste. As duas primeiras mulheres mais velhas que pedi para que me orientassem disseram não. Fiquei arrasada. Eu conhecia as duas mulheres muito bem. Servíamos juntas na mesma igreja e desfrutávamos da doce comunhão como irmãs em Cristo, e elas eram mulheres a quem todas se referiam como “Tia Mary” e “Vovó Gracie”. Quando você lia Tito 2.35, seus no mês estavam escritos ali como modelos de mulheres que eram reverentes, autocontroladas, amantes de seus maridos e filhos, e assim por diante. Muitas mulheres estavam aprendendo a partir de seus modos de vida piedosos e forte fé, portanto, eu estava animada com a oportunidade de gastar um tempo individualmente com elas. Talvez você pergunte: “Se você já estava aprendendo com elas, o que mais você estava procurando”? Tendo sido cristã por apenas dois anos, eu estava à procura de uma mulher mais velha com quem a minha vida pudesse ser um livro aberto. Desejava alguém para segurar minha mão conforme eu caminhava na fé e em meu chamado como jovem esposa e mãe. Eu precisava de uma mãe espiritual, alguém que pudesse me ensinar e instruir a viver para a glória de Deus em todas as áreas da vida.

Quando fiz o meu primeiro pedido, Vovó Gracie e eu nos encontramos em um restaurante local. Embora eu soubesse o que pediria para o café da manhã, li nervosamente o cardápio, ganhando tempo e orando por ousadia e pelas palavras certas para expressar meus desejos. Eu havia orado por sabedoria a Deus para saber a quem perguntar, e acreditava que essa mulher poderia encorajar a minha fé como uma jovem crente em Cristo e equipar-me para andar de modo digno do Senhor. Finalmente pedi minha comida, fechei o cardápio, respirei fundo e disse algo como: “Vovó Gracie, obrigada por ter vindo tomar café comigo. Eu tenho sido tão encorajada por sua fé e tenho aprendido muito com você observando a ensinar as crianças na escola dominical, cuidar de seus filhos e netos e cuidar de seu marido. Você tem sido um modelo para mim de muitas maneiras. Mas sei que há muito mais que preciso aprender. Tenho orado por uma mentora e creio que o Senhor me direcionou até você para lhe perguntar se você consideraria ser minha discipuladora ajudando-me a crescer em minha caminhada com o Senhor”.

Silêncio. Pausa constrangedora. Vovó Gracie respirou fundo e disse algo como: “Querida [ela chama todas de “querida”], estou honrada que você faça tal pedido a mim, mas agora eu vou ter que dizer não. Tenho os meus netos me mantendo ocupada, e o trabalho”. Pausa. “Não acho que eu tenha tempo agora”. Envergonhada, magoada e tentando parecer bem e deixa-a escapar, respondi: “Bem, tudo bem. Eu entendo [eu não entendia]. Se a sua agenda mudar no futuro, você pode me avisar”.

“Certamente, minha criança” (ela chama a todos de “minha criança”).

Terminei o café da manhã o mais rapidamente possível e voltei para casa em lágrimas. Naquele momento, fiz uma promessa a Deus que, pela sua graça, eu tenho guardado por mais de vinte anos. Prometi a Deus que se alguma mulher na minha igreja local alguma vez me pedisse para mentoreá-la, eu nunca diria que não. Eu encontraria algum tempo de qualidade que pudéssemos gastar juntas em um relacionamento de discipulado a sós, quer uma vez por mês ou uma vez por semana, quer por algumas semanas, meses ou anos.

Alguns anos mais tarde eu estava conversando com Vovó Gracie sobre a necessidade de discipulado entre as mulheres mais jovens. Vovó Gracie ficou muito quieta, e depois de um momento de reflexão me disse: “Sabe, eu me lembro de quando você me pediu para discipular você. Honestamente, nunca haviam me feito essa pergunta antes, e eu não sabia como responder. Eu não estava muito ocupada para você. Estava com medo porque eu não achava que conseguiria fazer o que você estava me pedindo. Querida, eu sinto muito por como respondi a você naquele dia”. Essa conversa me deixou pensando e orando muito sobre como as mulheres mais velhas poderiam ser encorajadas a abraçar o seu chamado para treinar as mulheres mais jovens, de acordo com as instruções de Tito 2.

Mas quem são as mulheres mais velhas? Existem pelo menos três propostas na definição de quem deve ser considerada “mais velha”. Alguns dizem que a maturidade cristã marca a mulher mais velha. Outros dizem que todas somos mais velhas do que alguém, por isso, em certo sentido, todas nós podemos ser consideradas mulheres mais velhas. Alguns dizem que há uma exigência de idade, embora ninguém se atreva a sugerir um número!

Sabemos pelas Escrituras que aos cinquenta anos os deveres sacerdotais dos levitas no tabernáculo mudavam do trabalho manual para o apoio aos homens mais jovens que assumissem essas funções do dia-a-dia (Números 8.25-26). Sabemos que Naomi tinha idade suficiente para ter filhos crescidos (Rute 1.14) e estava, aparentemente, além da idade e capacidade de voltar a se casar e ter outros filhos (v. 12) ou de fazer trabalho físico, visto que Rute foi sozinha apanhar espigas nos campos de Boaz (2.2). A Bíblia elogia cabelos grisalhos e idade avançada (Provérbios 16.31; 20.29; Isaías 46.4). Isabel estava em idade avançada quando concebeu e, embora estivesse grávida ao mesmo tempo em que Maria, ela assumiu o papel de encorajadora da jovem (Lucas 1.36, 39-45, 56). Sabemos também que as mulheres não podiam receber auxílio da igreja até que tivessem mais de sessenta anos de idade (1 Timóteo 5.9-10).

Essas breves passagens me levam a endereçar essa carta às mulheres experientes nafé, aquelas que estão além dos anos normais de casamento e gravidez, que são elegíveis para a aposentadoria do trabalho diário, e que podem ter mais liberdade para apoiar e instruir as mulheres mais jovens. Quero dizer três coisas a essas mulheres mais velhas: (1) Não se deixem desanimar por expectativas muito altas. (2) Precisamos de mais do que instrução prática. (3) Tenha a expectativa de receber mais do que vocês darão.

Ao escrever para você, minha querida irmã mais velha em Cristo, primeiramente quero lhe assegurar que as nossas expectativas são altas. Não digo isso para assustá-la.

Pelo contrário, perceba que você tem sabedoria e experiência que podem falar diretamente às necessidades, mágoas e desejos das mulheres mais jovens. Mulheres mais velhas muitas vezes expressam a preocupação de que não atenderão às altas expectativas que algumas mulheres mais jovens têm. Muitas vezes podemos ter expectativas irrealistas, não bíblicas, inflexíveis e autocentradas sobre as mulheres mais velhas. Mas é precisamente por isso que precisamos de você! Precisamos aprender a enraizar nossas amizades, nossos conselhos, nosso conhecimento e nossa feminilidade na obra consumada de Cristo em nosso favor. Cristo fez o que nunca poderíamos fazer por nós mesmos. Nossos esforços não nos podem garantir nenhum mérito diante dele. Você pode adicionar o equilíbrio às nossas expectativas, apontando-nos a Cristo e lembrando-nos de que a nossa esperança está nele.

Deixe-me sugerir quatro maneiras como os nossos desejos podem se desequilibrar e como você pode ajudar a influenciar o resultado em outra direção:

Figura da mãe. Algumas de nós percebem o quão drasticamente as vozes culturais que nos rodeiam têm deformado a nossa compreensão do que significa ser mulher. Algumas de nós não tiveram a influência piedosa e espiritual de nossas mães ou daqueles que nos criaram. Nunca recebemos orientação prática sobre feminilidade. Precisamos aprender com vocês sobre o perdão, a feminilidade bíblica, e como nutrir as crianças em nossas vidas.

Teólogo residente. Algumas de nós querem uma mulher mais velha para responder a todas as nossas perguntas difíceis, para nos educarem em teologia, para serem o nosso dicionário e concordância bíblicos ambulantes. Precisamos aprender com vocês a como buscar a Deus por nós mesmas, e a como cavar fundo na Palavra de Deus em busca de conhecimento que ali mente a nossa fé e dependência de Cristo.

Conselheira pro bono/ad hoc Espírito Santo. Algumas de nós estão à procura de uma mulher mais velha que resolva todos os nossos problemas, que derrame sobre nós seus anos de experiência e sabedoria, e que nos diga como reagir a cada obstáculo que enfrentamos como cristãs. Precisamos aprender com vocês a confiar no Espírito Santo como nosso conselheiro e a buscar a Deus em oração e em sua Palavra por sabedoria sobre como lidar com as dificuldades da vida.

Amiga/companheira social. Algumas de nós apenas querem uma amiga. Queremos alguém com quem conversar, cozinhar, fazer compras e simplesmente sair. Precisamos aprender com você que há um amigo que é mais chegado do que um irmão (ou irmã). Precisamos entender como nos divertir para a glória de Deus e como viver de forma prática e sábia em um mundo caído.

Em segundo lugar, precisamos de mais do que instrução prática. Muitas vezes, quando lemos Tito 2.15, vemos esses versos como instruções muito práticas que o Senhor transmite de um pastor para mulheres mais velhas, e então para mulheres mais jovens. É verdade que o modo como vivemos diante de Deus e dos homens tem importância, a forma como aquelas de nós que são esposas e mães tratam seus maridos e filhos é crucial para o amor, alegria e paz que compartilhamos em casa. Paulo ensina que a fidelidade nessas questões práticas faz com que a Palavra de Deus seja atraente e honrada – servindo como evidência da graça de Deus agindo em nós, que somos salvos pelo evangelho de Cristo. Uma sábia mulher mais velha disse: “O evangelho nos capacita e nos compele a viver o nosso propósito, e o evangelho fornece o contexto em que o propósito de uma auxiliadora faz sentido”.

No entanto, se nos contentarmos em cuidar das questões práticas, focando exclusivamente em nossos papéis e conduta, deixaremos de compreender o propósito redentor maior em nossa prática. Deixaremos de enraizar nossos esforços no evangelho. Deixaremos de ter o nosso caráter moldado pelo Espírito em todas as áreas da vida. Diminuiremos, portanto, o nosso chamado como mulheres redimidas de Deus.

Conforme vocês nos ajudam a viver Tito 2.35, reconhecemos que nossa maior questão não é se as mulheres devem trabalhar fora de casa, por exemplo, mas se as mulheres estão demonstrando santidade em seu trabalho dentro ou fora da casa. O que mais importa é que o fruto do Espírito esteja sendo mostrado – amor, autocontrole, pureza, diligência, bondade, submissão, reverência. Esse foco na santidade demonstrado pelo fruto do Espírito permite que qualquer mulher – casada ou solteira – dê e receba esse ensino e treinamento. Limitamos a passagem de uma maneira antibíblica quando a tornamos exclusivamente sobre a vida doméstica. Tito 2 não é apenas sobre domesticidade. Trata-se da santidade que adorna o evangelho.

Finalmente, gostaria de encorajar as mulheres mais velhas aterem a expectativa de receber mais do que darão. Como mulheres mais jovens, queremos aprender com você. Queremos ser encorajadas por você, equipadas por você e corrigidas por você (na maioria das vezes). Queremos estar crescendo cada vez mais na fé. Mas eu gostaria de pedir que você também procurasse ver o que o Senhor quer que você ganhe com o seu investimento em nossas vidas. Acredito que através de nossos momentos juntas, o Senhor continuará a encorajá-la e habilitá-la para viver para a sua glória, assim como você nos encoraja e instrui.

Por meio da minha própria experiência limitada em ser a mentora de mulheres mais jovens do que eu, o Senhor me ensinou muitas lições valiosas que eu talvez não tivesse aprendido fora dessas relações. Às vezes me sinto bastante inadequada em minhas tentativas de ministrar a elas. O Senhor me lembra de que sou de fato inadequada! Ele me dá coragem para permitir que as mulheres mais jovens vejam não só as minhas provações e pecados, mas também como eu respondo quando Deus me leva a estar entre elas. É através desse tipo de vulnerabilidade que aprendo a fazer da minha vida um livro aberto para as mulheres que discípulo. Aprendo a confiar nos bons propósitos de Deus para as minhas próprias lutas e a receber o seu conforto, de forma que eu possa, então, consolar outras.

Costumo refletir sobre meus pedidos de mentoria para estas mulheres piedosas mais velhas. Embora eu estivesse decepcionada com o seu não, nunca pensei que fossem menos piedosas. Reconheço que muitas mulheres mais velhas têm a necessidade e o desejo de um treinamento intencional sobre maternidade espiritual, pois elas não tiveram isso. Grande parte desse treinamento vem do ensino regular da sã doutrina na igreja local por pastores e presbíteros fiéis. Poderia ser feito mais em assembleias locais para ajudar as mulheres mais velhas a articularem a sabedoria que adquiriram através de anos vivendo como mulheres que seguem a Cristo, de modo a passa-la para a próxima geração. Se isso não acontecer, as mulheres mais jovens podem continuar aprendendo com as mulheres mais velhas à distância. Talvez você não tenha todo o treinamento e ferramentas, mas tem uma vida que podemos observar e imitar. Deus estava trabalhando no meu coração por meio do não. Que ele esteja trabalhando em seu coração para dizer sim.

Kristie

Ministério de Mulheres

Amando e servindo a igreja por meio da Palavra

Um guia prático para um ministério de mulheres centrado na Palavra.

Este livro oferece uma discussão concisa sobre o ministério de mulheres. Ele não oferece uma fórmula, mas sim um sólido conjunto de indicadores bíblicos para a estrada a ser percorrida no ministério de mulheres. As autoras estabelecem em Cristo o fundamento do ministério de mulheres, mostrando que o alvo não é apenas que mulheres conheçam e sirvam outras mulheres, mas, principalmente, que possam conhecer e servir ao Deus trino juntas.

CONFIRA

Por: Kristie Anyabwile. © Editora Fiel. Website: editorafiel.com.br. Trecho retirado com permissão do livro: Ministério de Mulheres.

Original: Maternidade espiritual: você se sente preparada? © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados.