Até onde estamos dispostos a ir para evangelizar pessoas?

É fascinante como o Senhor Jesus usou tantas situações informais como oportunidades de ensino. A leitura do evangelho de Lucas nos oferece algumas ideias reveladoras sobre como Jesus usou esse estilo de ensinamento ao viajar da Galileia para Jerusalém. Lucas contém todo tipo de histórias, perguntas e metáforas sobre como Jesus interagiu nas situações normais da vida. É um livro repleto de várias parábolas. Essencialmente, a maioria delas são sobre coisas do cotidiano sem conexão com as Escrituras (recebidas na época), com a igreja ou, de fato, com qualquer coisa remotamente religiosa em absoluto. Jesus usou-as para unir de modo sábio as verdades espirituais às pessoas dentro dos seus próprios contextos culturais.

Eu acredito que uma das razões pelas quais muitos cristãos têm dificuldades para comunicar de modo efetivo a verdade do evangelho às pessoas de segunda a sábado é que falam aos incrédulos como se fosse um domingo! Podemos ser desculpados por usar a linguagem “da igreja” em um domingo, mas não no restante da semana.

Eu acho que as parábolas de Lucas nos lembram que muitos de nossos relacionamentos com incrédulos não são construídos a partir do púlpito ou em sessões de ensino formal; são construídos, em geral, “no caminho” (por assim dizer). Em Niddrie, isso pode significar no carro no caminho para o farmacêutico para a sua “prescrição” (Metadona ou Valium, etc.), dando uma carona a alguém para a cidade, porque você o viu no ponto de ônibus, ou indo para o cabeleireiro local, para o centro de emprego, para o médico ou na loja da esquina. A maioria das melhores conversas que eu tive foram repentinas, encontros casuais na rua, e eu apenas decidi mudar minha programação. Espontaneidade flexível, é como nós o chamamos em Niddrie. É onde alguns dos membros da igreja mais focados em tarefas deslizam. Eles não desejam cancelar ou atrasar a reunião para a qual estão indo, não importa o motivo. Alguém pode pará-los na rua, mas eles perdem a oportunidade, porque estão a caminho de algum lugar. O problema é que nós todos estamos em nosso caminho a algum lugar! A chave para uma vida mais intencional é desenvolver um coração evangelístico “no caminho”.

Muitas pessoas cujas vidas são focadas em tarefas e dirigidas por suas agendas não gostam do caos e, assim, tentam desesperadamente impor ordem sobre ele. Muitos crentes aqui pensam que tenho algum dom secreto para fazer as pessoas quererem sair comigo no conjunto habitacional. Mas não tenho. Eu apenas busco as pessoas. Estou constantemente e intencionalmente alerta e sensível a todas e quaisquer oportunidades que aparecem. Eu tenho um interesse real nas pessoas. Eu saio com elas se falamos sobre Jesus ou não. Precisamos ser um povo cujo clamor da oração seja:

 Adentre em meu dia, Senhor, e me ajude a adentrar no de outra pessoa.

Muito do que leio sobre a vida comunitária e missional é referente a adequar as pessoas nas estruturas do nosso dia e nossas vidas. Isso funciona bem no “mundo ordenado”, mas na “cidade caótica” isso não dá certo. Na cidade caótica, a vida missional é informal, improvisada, uma tomada de decisão intuitiva que precisa lidar com o imediatismo da pessoa diante de você. Elas precisam de você AGORA, não uma semana na quinta-feira quando você tiver um tempo livre.

Deus nos ordena a entregarmos as nossas vidas a ele e ao seu serviço. A vontade de Deus para os discípulos foi enviá-los como ovelhas entre lobos. Então, por que tanto da conversa sobre missão e evangelismo se assemelha a um panfleto de saúde e segurança? Nós queremos fazer avaliações de risco bem antes de embarcarmos no serviço evangelístico! Ouço muita conversa como a das seguintes linhas:

Deus não desejaria que fizéssemos algo tolo ou muito dispendioso. Afinal, ele deseja que usemos o nosso senso comum. Devemos ser sábios no que fazemos. Não queremos ser reduzidos a cinzas. Que bem teríamos, então?

Não se preocupe, eu acho que muitos cristãos estão tão molhados que não acenderiam se fossem mergulhados em parafina e abaixados em um vulcão ativo! A Bíblia que li me diz que Deus não quer que sejamos reduzidos a cinzas. Ele quer que façamos mais do que isso! Deus quer que entreguemos as nossas vidas! Imagine como os destinatários originais da carta aos Hebreus se sentiram quando leram o capítulo 12, versículo 4. Eles haviam renunciado a muito pela fé: amigos, empregos e entes queridos e, no entanto, são lembrados: “Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue”. Será que percebemos o que custa chamar alguém a ir a Cristo em um conjunto habitacional? As pressões são enormes. Como podemos chamar as pessoas a uma vida de autossacrifício e, ainda assim, prometer encontrá-las por uma hora, uma vez por semana, se não estivermos muito ocupados? O que estamos realmente dispostos a sacrificar pelo evangelho? Onde está a linha que não queremos cruzar em termos de serviço? Onde o nosso “sim, mas” entra nesse tipo de pensamento? Não devemos vender às pessoas um produto que nós mesmos não estamos comprando e usando.

Evangelismo no caminho significa aprender a ouvir bem, manter nossos olhos espirituais abertos a oportunidades instantâneas, ser espontaneamente flexível, andar com as pessoas em meio a mundanos e, muitas vezes, estar disposto a andar 10 quilômetros a mais pelo bem do evangelho do Senhor Jesus Cristo. Nós pedimos muito em Niddrie, mas em nada tanto quanto Deus requer daqueles dentre nós que prometeram renunciar a tudo para seguir o Senhor.

Por: Mez McConnell. © 20schemes. Website: 20schemes.com. Traduzido com permissão. Fonte: Dying to Disciple: How Far Are We Willing To Go In Our Pursuit Of People?.

Original: Até onde estamos dispostos a ir para evangelizar pessoas?. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva.