Um blog do Ministério Fiel
3 dias com David Brainerd
Este texto foi extraído da reedição do livro A Vida de David Brainerd, de Jonathan Edwards, Editora Fiel
Dia do Senhor, 11 de setembro (em Horse Neck). Preguei à tarde sobre Tito 3.8. Penso que Deus nunca me ajudou tanto em descrever a verdadeira religiosidade, detectando com clareza e desmascarando, embora de modo cortês, as falsas aparências na religião, o zelo mal dirigido, os ciúmes partidários, o orgulho espiritual, etc., bem como um espírito dogmático e autoconfiante, juntamente com sua fonte originária, ou seja, a ignorância de coração. No começo da noite, dediquei-me a conversar com aquela gente a fim de tentar suprimir certas ideias confusas que havia percebido entre eles.
13 de setembro. Cavalguei até New Haven. Senti-me deprimido, pois, não estava em minha melhor atitude mental. À noite mantive proveitoso diálogo com alguns crentes. Embora minhas tribulações interiores sejam grandes, a vida de solidão oferece-me maior oportunidade para fixar e penetrar até aos mais profundos recessos da alma. Ainda assim é melhor viver sozinho do que viver sobrecarregado pela agitação e pelo tumulto. Sinto grande dificuldade em manter qualquer senso das realidades divinas, ao mesmo tempo em que vagueio de lugar para lugar, sempre cheio de cuidados e atividades variadas. Uma atividade estável e fixa em um lugar facilita uma vida dedicada à religião.
14 de setembro. Hoje deveria ter recebido o meu diploma. Mas Deus achou melhor negar-me esse privilégio. Pensei que me sentiria grandemente temeroso, sendo dominado pela perplexidade e confusão mental, ao ver meus colegas de classe receberem seu diploma. No entanto, naquele momento, Deus permitiu-me dizer, com calma e resignação: “Seja feita a vontade do Senhor”. De fato, pela bondade divina, dificilmente tenho sentido minha mente tão calma, tão sedada, em tão grande consolo, faz muito tempo. Há muito venho temendo um período como este, esperando que a minha humildade, mansidão, paciência e resignação seriam muito testadas; mas achei muito maior prazer e consolo divino do que esperava. Espiritualmente, senti-me sério, terno e afetuoso na oração particular que fiz hoje com um querido amigo crente.
15 de setembro. Fiquei satisfeito ao ouvir os ministros exporem os seus sermões. Sempre é um consolo para mim ouvir e participar de diálogos religiosos e espirituais. Oh, quem dera que os ministros e os crentes em geral fossem mais espirituais e mais consagrados a Deus! Ao avizinhar-se a noite, a conselho de meus amigos crentes, ofereci as reflexões que constam abaixo, por escrito, ao reitor e diretores da universidade reflexões essas que são essencialmente as mesmas que havia oferecido ao reitor tempos antes, rogando-lhe que as aceitasse a fim de que, se possível, eu evitasse todo motivo de escândalo da parte daqueles que buscam tais motivos. As reflexões que ofereci foram as seguintes:
“Se eu disse, diante de várias pessoas, acerca do Sr. Whittelsey, um dos professores do Yale College, que não acreditava que ele tivesse mais graça do que a cadeira sobre a qual eu estava recostado, agora confesso humildemente que nisso pequei contra Deus, agindo de maneira contrária às normas de sua Palavra, e ofendi o Sr. Whittelsey. Eu não tinha o direito de brincar assim com o seu caráter e nem tinha justa razão para falar como o fiz. Minha falta foi ainda agravada por ter dito aquilo acerca de quem era meu superior em muito, a quem eu tinha a obrigação de tratar com respeito e honra especiais, em razão da relação entre eu e ele na universidade. Confesso também que esse tipo de conduta não cabe a um crente; exagerei e não demonstrei o humilde respeito que deveria ter expresso para com o Sr. Whittelsey. Há muito estou convicto da falsidade daquela apreciação por meio da qual então eu havia justificado a minha conduta. Com frequência tenho refletido, com tristeza, sobre essa minha conduta. Por ter sido um ato pecaminoso, espero e estou disposto a humilhar-me, rebaixando-me por tal motivo diante de Deus e dos homens. Humildemente peço perdão aos diretores da universidade e de toda a sociedade, e do Sr. Whittelsey em particular. Mas quanto à acusação, feita por uma pessoa, de haver dito acerca do reitor do Yale College, que me admirava que ele não tivesse caído morto por haver multado os eruditos que seguiram o Sr. Tennent a Milford, professo aqui, com toda a seriedade, que não me recordo de haver dito qualquer coisa nesse sentido; mas se o fiz, o que não tenho certeza que fiz, condeno rigorosamente essa atitude, detestando toda essa espécie de comportamento, mais ainda da parte de um aluno contra o reitor. E agora me apresento para julgar e condenar a mim mesmo por ter ido uma vez à reunião em New Haven, pouco antes de ter sido expulso, embora o reitor me tivesse recusado o visto de saída. Por causa disso, peço humildemente o perdão do reitor. E quer os diretores da universidade acharem por bem remover a censura acadêmica que pesa sobre mim, ou não, ou acharem por bem me conferir os privilégios que desejo, estou disposto a apresentar-me, se assim acharem correto, a fim de admitir isso, humilhando-me pelas coisas aqui confessadas.’’
Deus tornou-me disposto a fazer qualquer coisa que seja coerente com a verdade, por amor à concórdia, e a fim de que eu não sirva de pedra de tropeço a outras pessoas. Por esse motivo, posso esquecer e desistir daquilo em que realmente acredito ser meu direito, em algumas instâncias, após a busca mais madura e imparcial. Deus deu-me a boa disposição de que, se alguém me ofendeu por cem vezes, e eu tenha ofendido a esse alguém apenas uma vez (embora por tantas vezes provocado), sinta-me inclinado e deseje de todo o coração humildemente confessar a minha falta, pedindo-lhe perdão de joelhos; embora, ao mesmo tempo, ele sinta-se justificado em todas as ofensas feitas contra mim, fazendo uso de minha humilde confissão somente para denegrir o meu caráter ainda mais, apresentando-me como a única pessoa culpada; sim, ainda que essa pessoa me quisesse ofender e dissesse: ‘’ele sabia de tudo antes, e eu o estava ajudando a arrepender-se”. Embora o que eu disse sobre o Sr. Whittelsey tenha sido dito somente em conversa particular, a um amigo ou dois, e tenha sido ouvido por alguém que apenas passava, e tenha sido relatado ao reitor, e por ele extraído de meus amigos, e visto que a questão foi divulgada e tornou-se pública, dispus-me a confessar minha falta publicamente. Mas confio que Deus pleiteará a minha causa.
Fui testemunha do profundo espírito cristão que Brainerd demonstrou na ocasião. Eu estava então em New Haven, e ele achou conveniente consultar-me. Aquela foi a minha primeira oportunidade de vê-lo pessoalmente. Ele demonstrava uma grande calma e humildade, sem a mínima aparência de exaltação de espírito quanto a quaisquer maus tratos que pudesse supor que sofreria, ou quanto a qualquer hesitação para rebaixar-se diante daqueles que, segundo ele pensava, tinham-no prejudicado. A sua confissão foi feita sem qualquer reclamação ou aparência de relutância, até mesmo em particular, a seus amigos, diante dos quais se abriu francamente. Foram feitos vários apelos, em seu favor, às autoridades da universidade, a fim de que ele pudesse receber seu diploma de formatura; e, particularmente, pelo Pastor Burr, de Newark, um dos representantes da sociedade escocesa. Ele fora enviado de Nova Jersey a New Haven, pelos demais representantes, com essa finalidade. Foram usados muitos argumentos, mas sem qualquer sucesso. De fato, os diretores da universidade ficaram tão satisfeitos com as reflexões que Brainerd fez acerca de si mesmo, que se manifestaram dispostos a admiti-lo novamente na universidade. Mas não dariam seu diploma de formatura, enquanto não tivesse permanecido ali pelo menos por doze meses, o que não aceitou, visto ser contrário à opinião declarada dos representantes de sua missão. Ele desejava receber seu diploma, pois pensava que poderia contribuir para ampliar a sua utilidade. Não obstante, quando esse privilégio lhe foi negado, Brainerd não manifestou qualquer desapontamento ou ressentimento.
– Jonathan Edwards