Um blog do Ministério Fiel
Bendito o que semeia livros
A ideia de imprimir símbolos é antiga e nada original. Na antiguidade, impressões já eram feitas na pedra, no couro ou no papiro: símbolos que tinham significado, transmitindo conhecimento ou contando uma história, é algo quase tão antiga quanto a humanidade. Os povos antigos, como os egípcios, desenvolveram várias técnicas de escrita, simbologia icônica e produção literária.
Não é de se admirar que Deus, em sua bondade condescendente com a humanidade, tenha escolhido a literatura, a palavra registrada, para trazer sua revelação à humanidade por meio do povo de Israel, com o qual firmou um pacto sagrado.
A humanidade caminhou desenvolvendo lentamente a tecnologia para produzir livros, mas o processo ainda era rudimentar. A invenção do papel, na China, já no primeiro século da era cristã, seguramente foi um passo muito importante para o aumento da produção gráfica. Os chineses desenvolveram ainda nos séculos seguintes a habilidade de produzir carimbos tipográficos e letras tipográficas em madeira e metal, formando carimbos que produziam um tipo de impressão. Mas ainda assim, todo o sistema elaborado era manual. Não havia um método mecânico de produção e reprodução dos textos.
Até que surge Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg com a sua prensa para produzir livros em grande escala. Sua data de nascimento é 24 de junho de 1400 (não se sabe a data exata e esta data foi escolhida por marcar a virada do século). No ano 2000, 600 anos após o nascimento de Guttemberg, ele foi considerado o homem do milênio.
A invenção da imprensa por Gutemberg em 1450, abriu caminho para a expansão do conhecimento científico, das grandes obras literárias da antiguidade. As oficinas de impressão geraram um novo mercado, o mercado do livro e o mercado da gráfica, além de ter dado uma nova vida à imprensa. Mas a imprensa ainda cumpriria um importante e definitivo papel, que traria mudanças permanentes na história: A difusão da Reforma Protestante.
A imprensa foi o pavio e o fogo que acenderam uma dinamite chamada Martinho Lutero. Em 31 de outubro de 1517 ele afixa suas 95 teses contra a venda de indulgências na porta da igreja do Castelo em Wittemberg. Algumas semanas depois, cópias de suas teses em latim e alemão já circulam em Nuremberg, Leipzig, Basiléia e várias outras cidades. Lutero se tornou um “pop-star” da noite pro dia. Mais que as marteladas, as prensas, os tipos e matrizes exerceram um efeito para a difusão da reforma que em nenhuma outra época poderia ter sido igual. Lutero foi o autor mais publicado de seu tempo, de modo que entre 1518 a 1525, um terço de todo livro produzido na Alemanha era da autoria dele, cerca de 300 mil exemplares.
Assim, a invenção deste alemão foi usada poderosamente para difundir os ensinos de Lutero e de todos os demais reformadores. A imprensa facilitou, além disso, a difusão rápida de notícias, de panfletagem e propaganda, de ciência, de cultura, de arte e de todo tipo de conhecimento.
O poeta brasileiro Castro Alves (1847-1871) compôs um importante poema intitulado “O Livro e a América”. Nele, ele com justiça homenageia Gutemberg com os seguintes dizeres:
Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec’lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou…
O Genovês salta os mares…
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou…Filhos do sec’lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiroOh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia…
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.