Educação escolar cristã – Parte 4/4

Parte 1 | Parte 2 | Parte 3

A Educação Escolar Cristã a Nível Universitário

Se na educação básica as bases são lançadas, é na educação superior que: (a) os elos existentes entre as diversas áreas de conhecimento são aclarados, (b) a coerência filosófica entre a nossa fé e as demandas da nossa vida prática é constatada e (c) uma visão integrada da vida, como a temos no Salmo 19, é estabelecida. Na universidade nos é concedida a oportunidade de tornar mais real a proposição do Salmo 24.1 – “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam”. O curso universitário, ministrado do ponto de vista bíblico, levará o estudante a afirmar, como em Eclesiastes 12.13 – “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem”.

Os grandes expoentes na história da Igreja Cristã sempre deram a máxima importância à educação superior. Agostinho escreveu De Doctrina Christiana, um tratado sobre educação, sua importância e seus métodos. Lutero disse:

“Certamente não aconselho a ninguém a enviar os seus filhos para estas escolas onde as Sagradas Escrituras não reinam. Qualquer um que não se ocupe incessantemente com a Palavra de Deus, certamente se tornará corrupto; consequentemente, devemos estar sempre vigiando o que acontecerá com as pessoas que estão nas instituições de ensino superior.”

Temo que estas instituições de ensino sejam portas abertas para o inferno, se não ensinarem diligentemente as Sagradas Escrituras e as colocarem nas mentes dos jovens.

Calvino teve como seu trabalho principal a sistematização dos princípios bíblicos e cristãos em uma filosofia coerente de vida. Ele também fundou, em Genebra, uma “Academia Cristã”, instituição de educação superior, seguindo os moldes e as diretrizes bíblicas.

Abraham Kuyper, estadista e teólogo holandês do século passado, ao fundar a Universidade Livre de Amsterdam, baseou o seu discurso inaugural em Isaías 48.11  “A minha glória não a dou a outrem”, indicando que quando nos omitimos na esfera educacional, deixando que Satanás proclame as suas filosofias, abertamente e sem contestação, enquanto passiva e retraidamente assistimos aos seus avanços em todas as esferas, estamos fazendo exatamente o que Deus expressa não permitir: estamos deixando que a sua glória seja dada a outrem! No entendimento de Kuyper o ensino que abstrai Deus não possuía integridade possível, pois Deus está presente em toda a vida. Ele escreveu: Deus está presente em toda vida com a influência do seu poder onipresente e Todo-poderoso. Nenhuma esfera da vida humana é concebida na qual a religião sustente suas exigências para que Deus seja louvado, para que as ordenanças de Deus sejam observadas, e que todo labora seja impregnado com sua ora em fervente e contínua oração. Onde quer que o homem possa estar, tudo quanto possa fazer, em tudo que possa aplicar sua mão – na agricultura, no comércio, na indústria –, ou sua mente no mundo da arte e ciência, ele está, seja no que for, constantemente posicionado diante da face do seu Deus, está empregado no serviço do seu Deus, deve obedecer estritamente seu Deus e, acima de tudo, deve objetivar a glória de seu Deus.

Kuyper indica que a compreensão teológica da soberania de Deus é o que dá coerência à nossa compreensão do universo. Vejam esses destaques, em sua argumentação:

  • O amor à ciência, … que objetiva uma visão unitária de conhecimento de todo o cosmo, é eficazmente assegurado pela nossa crença calvinista, na pré-ordenação de Deus.
  • A crença nos decretos de Deus significa que a existência e o curso de todas as coisas, isto é, de todo o cosmo, em vez de ser uma frívola sequência do capricho e da chance, obedece à lei e à ordem. Existe uma firme vontade que executa os desígnios tanto na natureza, como na história.
  • Somos forçados a confessar que existe estabilidade e regularidade regendo todas as coisas. O universo, em vez de ser um amontoado de pedras ajuntadas aleatoriamente apresenta-se às nossas mentes como um monumental edifício erguido num estilo coerentemente austero.
  • sem esta visão, não há interconexão, desenvolvimento, continuidade. Temos uma crônica, mas não história.

Para Agostinho, Lutero, Calvino, Kuyper e tantos outros reformadores, a tarefa de avançar com a educação, de forma generalizada, até aos níveis mais superiores, era um simples ato de obediência ao Senhor!

A universidade cristã deveria ser a antítese da universidade secular. Na realidade, a universidade secular é assim impropriamente designada, pois ela se constitui em uma diversidade, em vez de em uma universidade. Isto é, encontramos diversificação, incoerência, visão dissociada das coisas, inversão de valores, e assim por diante. A norma é a “cola” ao invés dos princípios de honestidade. Os líderes estudantis não são aqueles que mais se destacam do ponto de vista acadêmico, mas, pelo contrário, justamente aqueles que dedicam o menor tempo possível à procura do conhecimento. O paradoxo, é que a universidade secular não preenche a sua finalidade, não atende as necessidades e nem fornece as respostas às pessoas. O homem moderno perdeu sua confiança e segurança. Ele não confia na sociedade e no seu desenvolvimento; é desprovido do seu relacionamento com o passado. Está solitário e vaga no escuro, resignado ao fato de que ninguém pode justificar a vida, que um padrão válido não pode ser localizado em lugar nenhum e que é vã a procura por um significado em sua existência. É Cristo que dá coerência à vida e a universidade verdadeiramente cristã há de tê-lo como centro das respostas que dará às indagações de todos. Os princípios básicos da Educação Escolar Cristã não somente podem como devem ser extrapolados ao nível universitário, uma área que tem sido praticamente abandonada ao domínio da academia inconsequente às questões últimas da vida, e onde, em muitos sentidos, impera o mal.

Provérbios 8 e 9 nos dá uma magnífica exposição dos diferentes aspectos da “sabedoria”. Entre outras coisas, lemos ali que o mundo foi criado por ela (8.22-31); que o homem é parte dela (8.31); que ela intervém entre Deus e o homem (8.32-35); que o amor à sabedoria é o amor à vida (8.36); e que ela é a base da lei, da ordem, da paz, da prosperidade e da vida (8.13-21). No Novo Testamento, em várias passagens (Lucas 7.34,35; João 1.1-17; 8.58; 1 Coríntios 1.24,30; Romanos 16.27; Colossenses 2.3), a sabedoria é personificada em Cristo, o único mediador entre Deus e os Homens; Deus manifesto em carne, à nossa semelhança. Sabemos que a sabedoria não significa mero conhecimento, mas sim a aplicação correta do conhecimento adquirido. Somente instituições cristãs de ensino, comprometidas com a apresentação dos princípios bíblicos de forma integral, praticando a Educação Escolar Cristã poderão educar os nossos jovens corretamente. Somente tais instituições centralizadas em Cristo poderão objetivar que seus alunos apliquem sabiamente os conhecimentos adquiridos, servindo a Deus em qualquer área profissional que venham a ser colocados. Nossa oração é a de que possamos examinar as nossas responsabilidades como cristãos e fazer muito mais do que temos feito no sentido de promover o estabelecimento e a disseminação da verdadeira Educação Escolar Cristã.

O Que Estão Ensinando aos Nossos Filhos

Neste livro, Solano Portela faz uma avaliação crítica do cenário atual da educação brasileira, tanto secular como religiosa. Segundo ele, a proposta pedagógica predominante no Brasil vai além de uma metodologia educacional e contém sérias contradições com os princípios da fé cristã. A partir dessa análise, Solano propõe o desenvolvimento de uma pedagogia para a educação escolar cristã, chamada de pedagogia redentiva, ao apontar para uma educação de excelência fundamentada em uma cosmovisão bíblica sobre a vida e o mundo.

CONFIRA

Por: Solano Portela. © 2017 Editora Fiel. Website: editorafiel.com.br. Traduzido com permissão. Fonte: Extraído do livro: Solano Portela, O Que Estão Ensinando aos Nossos Filhos?

Original: Educação escolar cristã – Parte 4/4. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados.