O jovem cristão e a universidade

Uma pesquisa feita em 2006 nos Estados Unidos concluiu que cerca de 58% dos cristãos questionam sua fé após os estudos universitários. Essa conclusão contribui para reforçar algo que costumamos afirmar empiricamente: que a Universidade é um ambiente desafiador para o jovem cristão, no que diz respeito à manutenção de sua fé e vida espiritual.

Embora essa seja uma impressão generalizada, os jovens e seus pais não costumam estar preparados para lidar com os desafios espirituais do ingresso na vida universitária. Frequentemente, eles são tão absorvidos pelas emoções e atividades que esse ingresso impõe, que sequer consideram a existência desses desafios. Outras vezes, até os consideram, mas não sabem muito bem como lidar com eles. E em outras, optam pelo adiamento ou a fuga.

Evitar a universidade é a saída?

Embora o ambiente universitário seja de fato desafiador para um jovem cristão, não creio que evitá-lo seja a saída. Primeiro porque evitar a Universidade não significa ficar livre de desafios espirituais. Esse não é o único ambiente desafiador com o qual nos deparamos ao longo de nossa vida. O mal contaminou o mundo por inteiro, e impõe desafios em suas mais variadas partes. Além disso, a Universidade pode ser um instrumento de preparo para o serviço a Deus. Um dos propósitos pelos quais Deus nos criou foi conhecer o mundo e desenvolvê-lo para a sua glória. No mundo contemporâneo, altamente especializado, a Universidade funciona, regularmente, como um importante ambiente de treinamento em ferramentas necessárias para o cumprimento deste propósito divino. Outra razão pela qual creio que evitar a Universidade não é a saída, é que ela pode ser campo de atuação missionária. Embora vivamos em um mundo contaminado pelo pecado, sabemos que Deus tem um projeto de restauração de dimensões cósmicas. Nós somos anunciadores desse projeto, e não há lugares onde esse anuncio não deva ser ouvido. Finalmente, existem exemplos de pessoas que enfrentaram ambientes de oposição à fé cristã, sem cederem ao risco de negociar a sua fé. Cometendo um anacronismo propositado, podemos nos lembrar de Daniel e seus amigos. Eles receberam “bolsa integral na Universidade da Babilônia”, foram submetidos a um ensino cujo conteúdo era contrário à fé que professavam, mas mantiveram intocadas a sua identidade.

Por essas razões, evitar a Universidade não parece ser a saída. Obviamente, há um momento adequado para o ingresso na Universidade. E não se trata de estabelecer uma ocasião única para todos os jovens [relacionada à faixa etária por exemplo], mas de se considerar a maturidade e preparo de cada um.

Quais são os desafios, afinal?

Quando fazemos essa pergunta, geralmente esperamos que a resposta discorra sobre as principais ideologias anticristãs presentes no pensamento universitário. Isso, porque temos a ideia de que os desafios do jovem cristão na universidade são exclusivamente intelectuais, e tudo o que ele precisa para enfrenta-los é de uma mente perspicaz.

Certamente, o universitário cristão encontra desafios intelectuais, mas nem todos são desta natureza. Há desafios de natureza variada, os mais fundamentais são de natureza espiritual. Geralmente, quando um jovem universitário abandona a fé, não o faz por ter sido convencido da racionalidade de uma determinada ideologia, mas por ter encontrado nela, correspondência com o modo de vida que já desejava ter. Por isso, o maior desafio do jovem cristão na Universidade é cuidar do coração. E isso inclui, por exemplo:

Não ceder ao orgulho. A Universidade é o ambiente do conhecimento, e, lidar adequadamente com o conhecimento não é fácil. A Bíblia afirma, com todas as letras, que o saber ensoberbece (1 Coríntios 8.1). Quando começamos a conhecer determinados aspectos do mundo e da vida com maior profundidade, temos a tendência de nos sentir suficientemente capazes para funcionar como a medida de nossas decisões. Então os pais, a Bíblia, a igreja, e tudo o mais que se apresente como fonte de direção e conselho são deixados de lado e substituídos pelo “eu sei”.

Vencer o medo da exposição. A Universidade é o ambiente do “conhecimento científico”. Embora a ciência moderna tenha tido berço cristão, e não haja qualquer contradição necessária entre fé e ciência, é inegável que nos últimos anos a ciência tem se desenvolvido mormente a partir de uma cosmovisão materialista. Consequentemente, cosmovisões que tem em alta conta a dimensão espiritual, como é o caso do cristianismo, muitas vezes são relegadas a uma condição de inferioridade, e tratadas de modo pejorativo. Frequentemente, os jovens cristãos são tentados a ceder em seu compromisso religioso, pelo medo da exposição.

Aprender a lidar com a Liberdade. Finalmente, a Universidade é o ambiente da “liberdade”. Isso não seria um problema, não fosse o fato de que a ideia de liberdade defendida pelo discurso universitário é a de ampla autonomia ou total independência, envolvendo o questionamento e superação de toda norma ou autoridade. O que torna esse terceiro ponto algo ainda mais desafiador é o fato de que a defesa desse tipo de liberdade não se reduz ao discurso, mas se encarna na vida cotidiana de boa parte dos universitários, que abre espaço para uma espécie de curtição irresponsável e sem limites, da qual a prática da sexualidade livre e o uso de drogas legais e ilegais são alguns exemplos. Muitos jovens cristãos se perdem nessa circunstância, pela dificuldade de equacionar a liberdade desfrutada com o avançar da idade e, muitas vezes, a saída de casa, com essa atmosfera de autonomia estimulada pelo ambiente universitário.

Afinal, o que fazer?

Quando orou pelo seu povo na famosa oração sacerdotal, Jesus pediu ao Pai: não peço que os tires do mundo, mas sim que os guardes do mal (Jo 17.15). Esse pedido de Jesus revela que seu desejo geral para o nosso engajamento cultural – o que inclui a vida universitária – é que permaneçamos no mundo, sem, contudo, permitir-nos ser dirigidos por ele. O fato de ser um pedido dirigido a Deus revela também que a manutenção de nossa fé e vida espiritual depende primariamente dele. Isso não significa, contudo, que não tenhamos nada para fazer. As sugestões a seguir, que trazem diferentes exigências a pais e filhos, podem ser úteis no enfrentamento dos desafios da vida universitária.

Não deixe para a última hora. Quando se preocupam com os desafios espirituais da vida universitária, muitas famílias o fazem apenas a partir do momento em que o ensino superior se aproxima. De fato, muitas decisões somente precisarão esperar a proximidade do momento, mas definitivamente, a formação espiritual não é uma delas. É de cedo que princípios fundamentais como a humildade, a coragem, e o apreço pela autoridade são sedimentados.

Inclua a comunidade no planejamento. Quando ingressam na Universidade – o que muitas vezes inclui mudança de cidade – muitos jovens cristãos se preocupam com tudo, menos com o engajamento numa comunidade de fé. Muitos deles supõem que podem manter a fé sem o culto e a comunhão. Isso é um grande equívoco. É no contexto da liturgia que nossos hábitos espirituais são formados e fortalecidos, e no contexto da vida comunitária que somos encorajados e corrigidos.

Repense o objetivo. Comumente, o jovem cristão ingressa na Universidade pensando defensivamente, como se seu objetivo fosse simplesmente sobreviver ao ambiente hostil que terá pela frente. Suspeito que o resultado desse pensamento é a passividade, que costuma ser, em tudo, prejudicial. Ao invés de pensar apenas em sobreviver à Universidade, o jovem cristão deveria pensar em servir a Deus nela. Suspeito que imbuído desse objetivo ele tenderia a uma postura mais ativa, que lhe traria maiores benefícios espirituais.

Treine a mente. Como dito anteriormente, os desafios que o jovem cristão enfrenta no ambiente universitário não são apenas intelectuais, mas também o são. Muitos deles sucumbem aos desafios relacionados a essa dimensão, por terem nutrido uma experiência religiosa anti-intelectualista, muito voltada para a dimensão afetiva. Mas como afirma o título do livro de John Stott: crer é também pensar. Então, treine a mente. De forma resumida isso implica, primeiramente, conhecer a Bíblia, e cultivar uma maneira bíblica de entender o mundo e a vida. É importante lembrar, que o conhecimento bíblico necessário para o enfrentamento bem-sucedido de um ambiente hostil não é, meramente, o conhecimento racional, mas o vivencial. O evangelho é o poder de Deus. Logo, o conhecimento do Evangelho não é apenas algo do qual nos apoderamos; mas algo que se apodera de nós. E nós contribuímos para que isso aconteça na medida em que confiamos e nos submetemos a ele. Como poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a Tua Palavra (Salmo 119.9). Depois, treinar a mente significa conhecer as ideologias anticristãs mais comuns no ambiente universitário, relacionando-as à visão de mundo cristã.

Essas são apenas algumas sugestões. Certamente, há muito mais a fazer, enquanto descansamos em Deus, confiando que dele depende a preservação de nossa fé, a saúde de nossa vida espiritual, e as condições para viver neste mundo mau de maneira que nosso próximo e o próprio mundo sejam abençoados e Ele glorificado.

Inconformados – Renovando a Nossa Mente

O século atual é uma feira de cosmovisões. A hegemonia cultural da qual a fé cristã desfrutou, alguns séculos atrás, afundou, arrastada pela âncora da implausibilidade em um mar de pluralidade. Para a mente secular, o cristianismo é somente um dos inúmeros caminhos existentes. Hoje, em uma mesma classe da universidade, encontraremos ateus militantes, muçulmanos, marxistas culturais, deístas libertários, budistas ocidentalizados e evangélicos não praticantes.

Neste contexto, os jovens cristãos são bombardeado por cosmovisões concorrentes a todo momento. A cada clique na internet, a cada série na TV, a cada aula na faculdade, eles estão em guerra espiritual e intelectual. Como experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus em meio à pressão deste século? Como dar razão da esperança cristã diante de tantas vozes discordantes?

Buscando equipar os jovens cristãos a defenderem e testemunharem sua fé, a Conferência Fiel Jovens 2018 terá como tema “Inconformados”. De 31 de maio a 3 de junho de 2018, Emílio Garofalo, Jonas Madureira, Heber Campos Jr., Mack Stiles e Vinícius Musselman irão desafiá-lo a não se conformar com este século, mas transformar-se pela renovação de sua mente.

 

CONFIRA

Por: Filipe Fontes. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Fonte: O jovem cristão e a universidade.