Tem coisa “legal” no Carnaval!

Faz três anos que eu moro perto do sambódromo do Anhembi em São Paulo. Mas a bem da verdade, desde que cheguei na terra da garoa as avenidas próximas a ele são o meu caminho. Tem 20 anos que eu circulo por ali diariamente, inclusive nos dias que antecedem e sucedem ao carnaval.

Vou confessar uma coisa: eu acho que tem “coisa legal” no carnaval. De todas, a mais impressionante para mim é a engenhosidade dos carros alegóricos. Eles costumam ser levados para o sambódromo dias antes dos desfiles e ficam parados lá, na área de concentração. Algumas vezes, passando pela Olavo Fontoura [nome da avenida em que fica o Anhembi], eu encosto o carro para olhar mais de perto e por mais tempo alguns deles. São grandes! E são bonitos! Nunca fui a um desfile. Nem pretendo ir [a razão ficará clara a seguir]. Mas há coisas que me impressionam nele também. Pense estruturalmente: sujeitos criativos, organizados em comunidades, reunidos para competir quem conta a melhor história através de música e dança. É o tipo de coisa que só pode existir porque Deus existe.

A esta altura você está esperando que eu recomende o carnaval; ou, pelo menos, que eu justifique a presença ou audiência daqueles que, dizendo-se cristãos, resolvem participar da festa ou assisti-la. Então, permita-me decepcionar-te. Tem coisa legal no carnaval, mas isso está longe de justificar a participação de um cristão nele. E a razão para isso é muito simples; tão simples que minha ideia inicial era escrever um texto com o seguinte título: “pode um cristão pular carnaval?”, que teria como conteúdo apenas uma frase: “jura que você tem alguma dúvida sobre isso?”. A razão é que, no carnaval, todas as coisas legais estão a serviço de um ideal moral e religioso pernicioso, relacionado à prostituição, impureza e cobiça, que, segundo a Palavra de Deus, sequer deveriam ser nomeadas entre nós (Ef 5.3). Por maior que seja o espaço atribuído à subjetividade individual na elaboração das informações recebidas da realidade externa, penso ser objetivamente impossível estar num lugar como aquele, ou com os olhos colocados lá, ao mesmo tempo em que se ocupa o pensamento com o que é justo, puro, amável e de boa fama, como exige essa mesma Palavra (Fp 4.8).

Então, já que com respeito à participação do cristão no carnaval a posição deste texto é semelhante a de outros que você já leu, aprenda com ele um importante princípio que pode te ajudar nas decisões de envolvimento com diferentes manifestações culturais. Vai ter coisa legal em todo lugar. Mas a presença de coisa legal não é suficiente para legitimar o seu engajamento. É preciso discernir a direção do todo. Porque o pecado, dentre outras coisas, é perversão; ele tem a terrível capacidade de manipular as dádivas que nos foram entregues por Deus, para que elas sejam usadas contra Ele.

Enquanto vivo nessa difícil tarefa de discernir entre o mal e o bem, sonho com o dia em que nós, sujeitos criativos, teremos nossa história tão identificada com a história de Deus, que só nos reuniremos para contar a história dEle, do jeito dEle, com as dádivas dEle, para a glória dEle!

Por: Filipe Fontes. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: Tem coisa “legal” no Carnaval!