Adotando métodos bíblicos de comunicação (Parte 1/2)

Leia a parte 2.

Os vendedores se cansam da comida de restaurante. Meu pai entendia isto, por isso frequentemente trazia vendedores para jantar em casa.

Em uma destas noites, quando nós, crianças, hesitávamos em obedecer, papai lembrou-nos de nosso dever ao perguntar: O que diz Efésios 6.1? Mentalmente recitávamos: “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo”, e prosseguíamos em nossa tarefa.

O poderoso efeito que esta pergunta teve sobre nós impressionou o nosso convidado. Ele estava certo de haver encontrado um novo método de fazer as crianças obedecerem. Ao final da visita, não pôde mais conter sua curiosidade.

“Por falar nisso”, ele finalmente perguntou, “o que diz Efésios 6.1? Gostaria de ensinar aos meus filhos”.

Como muitos pais, o amigo de meu pai queria um método eficaz para lidar com seus filhos. Pensou que talvez o método de Efésios 6.1 funcionaria com suas crianças.

Se rejeitarmos os métodos avaliados brevemente, no capítulo anterior, o que, então, deveremos fazer? Que luz a Palavra de Deus derrama sobre nossa abordagem da educação de filhos? A Palavra de Deus precisa informar não apenas os nossos objetivos, mas também os nossos métodos.

Métodos e objetivos deveriam ser complementares. Você quer que seu filho viva para a glória de Deus. Você deseja que seu filho entenda que a vida que vale a pena viver é aquela sob o senhorio de Jesus Cristo. Seus métodos devem mostrar submissão a esse Senhor. Métodos designados somente para produzir crianças bem-ajustadas e bem-sucedidas não funcionam, porque seu objetivo não é simplesmente sucesso e bom ajustamento.

Uma abordagem bíblica a respeito de criar filhos envolve dois elementos que devem ser entretecidos juntos. Um elemento é a comunicação ampla e plena. O outro é a vara. No livro de Provérbios, encontramos estes dois métodos, lado a lado.

“Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá.

Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno. Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á também o meu; exultará o meu íntimo, quando os teus lábios falarem cousas retas.

Não tenha o teu coração inveja dos pecadores; antes, no temor do Senhor perseverarás todo dia.

Porque deveras haverá bom futuro; não será frustrada a tua esperança.

Ouve, filho meu, e sê sábio; guia retamente no caminho o teu coração.” Provérbios 23.13-19

“Ouve a teu pai, que te gerou,

e não desprezes a tua mãe, quando vier a envelhecer.” Provérbios 23.22

“Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem dos meus caminhos.”

Provérbios 23.26

Estas passagens unem a vara e a comunicação abundante. Salomão casa a comunicação extensiva com o uso da vara. Ambas são essenciais na criação bíblica de filhos. Juntas, formam uma abordagem que agrada a Deus, que é espiritualmente satisfatória, coesa e unificada para disciplina, correção e treinamento das crianças. O uso da vara preserva, enraizada biblicamente, a autoridade dos pais. Deus outorgou autoridade aos pais, ao chamá-los para agir como seus agentes, na educação dos filhos. A ênfase na comunicação abundante anula a disciplina fria e tirânica. Fornece um contexto para a comunicação honesta, contexto esse em que a criança pode ser conhecida e aprende a conhecer-se. Ela tende a tornar-se sensível, evitando o sentimento de mágoa e o melindre.

A vara e a comunicação devem ser sempre entretecidas no verdadeiro pastoreio dos filhos. Para fins de estudo, vamos separá-las. Primeiro, veremos a comunicação e, depois, a vara.

Comunicação

Eis o resumo de uma conversa recente que tive com um pai:

– Fale-me sobre sua comunicação com seu filho, pedi.

– Oh! Comunicamo-nos bem, – ele respondeu – ontem à noite ele me disse que queria uma bicicleta, e eu lhe disse para comer o seu feijão.

O comentário trouxe um sorriso aos meus lábios, mas refleti sobre isso e percebi que era provavelmente uma descrição precisa da comunicação entre a maioria dos pais e seus filhos. A mamãe e o papai dizem aos filhos o que fazer. As crianças falam aos pais a respeito de seus desejos e sonhos.

Diálogo não monólogo

Tendemos a pensar em comunicação como a habilidade de nos expressarmos. Assim, conceituamos a comunicação como “nós falando aos nossos filhos”. Em vez disso, deveríamos procurar “falar com os nossos filhos”. Comunicação não é monólogo; comunicação é diálogo. Não é apenas a habilidade para falar, mas também a habilidade para ouvir. Provérbios 18.2 fala a este respeito com penetrante perspicácia: “O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior”. Provérbios 18.13 relembra-nos que “responder antes de ouvir é estultícia e vergonha”.

A mais sublime arte na comunicação não é aprender como expressar seus pensamentos; é a arte de aprender como extrair os pensamentos de outrem. Seu objetivo na comunicação deve ser entender seu filho, não simplesmente fazer com que seu filho o entenda. Muitos pais nunca aprendem estas habilidades. Nunca descobrem como ajudar seus filhos a articularem seus pensamentos e sentimentos.

Há uma certa ironia em tudo isto. Quando as crianças são pequenas, frequentemente deixamos de engajá-las em uma conversação significativa. Quando elas tentam engajar-nos, respondemos com desinteressados “hum-hum”. Eventualmente, elas aprendem as manhas. Entendem que não estamos interessados no que acontece dentro delas. Aprendem que uma “boa conversa” para nós é, para elas, um “bom ouvir”. Quando se tornam adolescentes, o jogo vira. Os pais desejam engajar seus adolescentes em um diálogo, mas os adolescentes desistiram do diálogo há muito tempo.

Cristina é um bom exemplo. Seus pais trouxeram-na para um aconselhamento. Disseram que era introvertida. Sabiam que estava com problemas, mas ela não falava com eles. Sua mãe gritava muito. A comunicação era limitada a períodos de atividade vulcânica. De tempo em tempo, enquanto saltavam as lavas, Cristina aprendeu a esconder-se. Seu pai era uma pessoa fechada, distante. Ele raramente se envolvia com alguém em uma conversa. Cristina, aos quatorze anos de idade, está agitada e turbulenta no íntimo, mas nunca teve o benefício do envolvimento compreensivo de seus pais. Com o aconselhamento bíblico ela está aprendendo a conversar, e mamãe e papai estão aprendendo a ajudá-la a expressar-se e, então, ouvir o que ela tem a dizer.

Artigo adaptado do livro Pastoreando o Coração da Criança, de Tedd Tripp. Publicado pela Editora Fiel.