Um blog do Ministério Fiel
Adotando métodos bíblicos de comunicação | Parte 2/2
O texto abaixo foi extraído do livro Pastoreando o Coração da Criança, de Tedd Tripp, da Editora Fiel.
Seu primeiro objetivo, na correção, não deve ser dizer a seus filhos como se sente acerca do que eles fizeram ou disseram. Deve, antes, procurar entender o que está acontecendo dentro deles. A Escritura diz que é da abundância do coração que a boca fala; portanto, você deve levá-los a entenderem o que está acontecendo por dentro.
O importante na correção não é expressar seus sentimentos, sua ira ou mágoa; antes, é entender a natureza do conflito que seu filho está vivendo. O importante é entender o “porquê” do que foi feito ou dito. Você precisa entender não apenas o que aconteceu, mas o que está acontecendo dentro de seu filho. Lembre-se: é da abundância do coração que a boca fala. Suas perguntas ao corrigir são estas: Qual é o conteúdo específico da abundância de seu coração, nesta circunstância? Qual foi a tentação? Como ele reagiu a essa tentação?
Se puder entender e ajudar seu filho a entender estas questões, você estará a caminho de entender o “porquê” do acontecimento. Você precisa ir além do comportamento e discernir o mundo interior de seu filho, nesta situação. Embora nunca se possa entender as questões do coração infalivelmente, esta é uma investigação cujo esforço vale a pena. Imagine a cena: seu filho está colocando os tênis novos. Você sabia, ontem à tarde, quando os comprou, que o menino não estava realmente muito feliz com aqueles tênis, mas eram os que você podia comprar. Agora, enquanto se prepara para ir à escola, ele está chorando. Como lidar com a situação? Se o seu objetivo é fazê-lo saber como você se sente, pode dizer-lhe algo assim:
– Olhe, sei que você não gosta dos tênis, mas era este que eu podia pagar. Não reaja como um bebê chorão. O que o Paulo diria, se lhe dissesse que você está chorando por causa de uma coisa dessas. Afinal, os tênis vão ficar gastos, e, dentro de alguns dias, ninguém vai saber como eram. Por que você se importa com o que aqueles garotos vão pensar dos seus tênis? Quem disse que eles são especialistas no assunto? Você deveria ser grato simplesmente por ter um par de tênis. Esses tênis, que você não gosta, custam mais do que o meu primeiro carro. Olhe, tenho de ir para o trabalho. Tenho coisas mais importantes com que me preocupar do que com um par de tênis…”
Porém, se o seu objetivo principal é entender os conflitos interiores do seu filho, poderia ter uma conversa assim:
– Você está chateado por causa dos seus tênis, não está?
– Estou.
– Percebi que você não tinha gostado deles, quando o compramos, ontem à tarde. Você não quis me dizer, não é?
– É.
– O que você não gosta neles?
– Eles são estranhos.
– Eu não entendo o que quer dizer.
– O Paulo disse que eles são feios.
– Quando foi que ele os viu? Nós só o compramos ontem à tarde.
– O Luís comprou um par destes, e o Paulo disse que ele parecia um “duda”.
– O que é um “duda”? Ah! Deixa para lá. O que se parece com um “duda” neste tênis?
– Esta tira vermelha, atrás. Eles não põem tiras vermelhas nos novos. Estes são sapatos do ano passado; por isso, foram baratos.
– Ah! Entendo; você está com receio de que eles o chamem de “duda”, certo?
– É.
– Isso dói mesmo, não é?
– É. Isso me deixa com raiva. Não sei por que eles têm de se importar com os meus tênis, mas sei que eles vão me chamar de “duda”.
O que você está aprendendo? Seu filho está lutando com sentimentos já experimentados por você. Há uma pressão real lá fora, na classe do terceiro ano. Ele está sofrendo a pressão de ser aprovado por seus colegas. Esta circunstância está trazendo à tona as esperanças e os temores do seu coração.
O objetivo de sua comunicação pode ser descrito em várias proposições simples:
- O comportamento que você vê é um reflexo do que existe no coração do seu filho.
- Você deseja entender o conteúdo específico do coração dele.
- As questões internas do coração são de maior valor do que as questões específicas do comportamento, visto que provocam o comportamento.
Resumindo: Você quer entender os conflitos interiores de seu filho. Precisa olhar para o mundo através dos olhos dele. Isto permitirá que conheça quais aspectos da mensagem de vida do evangelho se fazem adequados a esta conversa.
Para entender seu filho e ajudá-lo a compreender a si mesmo, existem habilidades a serem desenvolvidas. Você deve aprender a ajudar seus filhos a se expressarem. Precisa aprender a facilitar a conversação. Necessita saber como perceber o que existe por detrás do comportamento e das palavras. Deve buscar a sabedoria para discernir questões do coração. Provérbios 20.5 diz: “Como águas profundas, são os propósitos do coração do homem, mas o homem de inteligência sabe descobri-los”. Para cumprir nossa tarefa de pais, precisamos buscar a sabedoria.
Esta é uma oportunidade maravilhosa para ser utilizada lado a lado com nossos filhos. Quando você aprende sobre seus conflitos internos com o pecado, então está no caminho certo. Você, assim como eles, é um pecador. Portanto, pode usar seu conhecimento da natureza da tentação, a fim de ajudá-los a entenderem suas próprias tentações.
Em qual das conversas exemplificadas acima a criança se considerará compreendida? Em que conversa pode o evangelho ser mais poderosamente apresentado? As respostas são óbvias.
Isto implicará no desenvolvimento de habilidade em explorar o coração. A maioria dos pais já teve com seus filhos uma conversa semelhante a esta:
Mamãe: – Por que você bateu na sua irmã?
Júnior: (pausando, olhando para o chão) – Não sei.
Mamãe: (exasperada) – O que você quer dizer com “não sei”?
Júnior: – Não sei.
E assim vai. Se a mamãe é do tipo “pavio curto”, será melhor para o Júnior começar a saber alguma coisa com urgência! Qual é o problema aqui? O Júnior está simplesmente se recusando a falar? Provavelmente, não. Ele está simplesmente sendo questionado sobre o que não sabe responder. Ele não tem a profundidade de entendimento e de autorreflexão que o capacite a responder inteligentemente às perguntas de sua mãe. Ele precisa que as perguntas sejam formuladas de uma maneira diferente.
O “Por que você…”, como forma de questionamento, não funciona com as crianças (e raramente com os adultos). Sugiro algumas perguntas produtivas:
- O que você estava sentindo, quando bateu em sua irmã?
- O que sua irmã tinha feito para deixá-lo com raiva?
- Ajude-me a entender por que bater nela iria fazer as coisas melhorarem.
Ou, talvez: Como foi que a briga tornou-se pior depois que você bateu nela?
- O que ela fez contra você? (Não é necessário negar o fato de que seu filho também sofreu com o pecado de alguém. É óbvio; se ele foi atingido pelo pecado de outro, deixe que lhe fale sobre isso.)
- De que outra maneira você poderia ter reagido?
- Como você acha que a sua reação mostrou confiança em Deus como aquele que cuida de você?
Cada resposta a estas perguntas pode abrir outros caminhos de investigação, para entender o que estava por detrás do comportamento do Júnior.
Assim, existem muitas perguntas diferentes que se dirigem ao pecado da criança e que ajudam os pais a entender os conflitos espirituais do coração de seu filho, em relação a Deus e sua necessidade de graça e redenção em Cristo. Insisto neste ponto: você precisa esforçar-se por entender a natureza do conflito interno que foi expresso no comportamento; por exemplo, quando Júnior bateu em sua irmã.
Enquanto a criança responde às perguntas, seu papel é ajudá-la a entender a si mesma e incentivá-la a falar com clareza e honestidade sobre seus conflitos internos com o pecado.
Há três questões que você deve examinar juntamente com seu filho: (1) a natureza da tentação, (2) as possíveis reações de qualquer pessoa à tentação e (3) as próprias reações dele à tentação.
Neste processo, você está tanto acima quanto ao lado dele. Está acima, porque Deus lhe chamou a exercer um papel de disciplina e correção. Está ao lado, porque também é um pecador que luta com a ira contra os outros. Os pais tendem a assumir um ou outro lado. Alguns assumem tanta solidariedade com a criança, em sua falha (como posso corrigi-lo, se tenho os mesmos sentimentos?), que deixam de corrigi-los. Outros, posicionam-se tão acima que são hipocritamente distanciados de seus filhos. Lembre-se de que você interage com seus filhos como agente de Deus. Portanto, tem o direito e a obrigação de censurar o mal. Deve fazê-lo como um pecador, ao lado deles, sendo capaz de entender como o pecado funciona no coração humano. Portanto, a correção deve ser feita com humildade de coração.