Um blog do Ministério Fiel
Como a comida expõe o que ocorre na alma de um pastor?
Como pastor Batista do Sul, tento participar da Convenção Anual todos os anos. É importante estar presente e consigo ver amigos pastores que nunca vejo, exceto neste evento anual. Ademais, a Convenção Batista do Sul (CBS) sempre inclui uma imprevisibilidade que, às vezes, é divertida. Para quem não sabe, esta convenção atrai cerca de 5.000 a 7.000 pastores e membros das igrejas da CBS em todo o país. Há um momento da convenção que oferece tempo para um “microfone aberto”. Em outras palavras, qualquer pessoa pode se levantar, pegar o microfone e falar uma proposta ou tratar de algum problema. Qualquer pessoa. Como você pode imaginar, algumas palavras curiosas, tristes e contenciosas já foram ditas ao longo da história dessa reunião denominacional.
Uma conversa de “microfone aberto” se destaca para mim. Ocorreu em um ano que a geração mais antiga, que historicamente considerava o álcool como um pecado e como destrutivo em todos os sentidos, estava defendendo a sua posição contra uma geração mais jovem que não tinha as mesmas convicções. De fato, a geração mais jovem via o consumo de álcool como um dom de Deus, se fosse feito com responsabilidade e moderação, citando que não havia um mandamento bíblico contra o álcool, mas sim contra a embriaguez. A conversa se tornou intensa e acalorada quando um dos lados falava, depois o outro lado respondia. O diálogo parecia estar prestes a sair do controle, até que um jovem pastor de 30 anos foi ao microfone e disse:
Não há ninguém nesta sala que compreenda os efeitos devastadores do álcool como eu. Fui criado pelo meu pai. Um pai solteiro. Ele era um alcoólatra. Eu precisei cuidar do meu pai quando criança e vê-lo beber até a morte quando tinha quatorze anos. Eu gostaria de proibir o uso de álcool, mas a Bíblia não me permite fazê-lo. Não desejo gritar onde a Bíblia permanece em silêncio.
Então, ele bravamente foi aonde nenhum Batista do Sul se atrevera a ir:
Essa conversa me entristece. Quando olho em volta desta sala, parece que um consumo excessivo de álcool não é o nosso maior problema, mas sim uma escravização e excesso de consumo de alimentos.
E com essas palavras penetrantes, o elefante na sala da maior denominação protestante do mundo foi escoltado até o centro do palco. Existe um problema enorme de obesidade na CBS, particularmente com os pastores da convenção. Aos olhos de alguns, estar extremamente acima do peso é cativante em um pastor, pois é um sinal de que eles são amados e bem alimentados, pois de modo semelhante, ser gordo em certas culturas é um sinal de riqueza. Contudo, este é um problema significativo e não expressa apenas os hábitos alimentares dos pastores, mas o estado de suas almas. Este artigo considerará os hábitos alimentares do pastor e como esses hábitos podem afetar a sua própria alma.
Dois tipos de pessoas
Aqui há uma grande generalização para ressaltar um aspecto. Há basicamente dois tipos de pessoas neste mundo e como elas lidam com o estresse: aquelas que comem quando estão estressadas e aquelas que não comem quando estão estressadas. A comida e o propósito para o qual a usamos pode ser um vislumbre muito esclarecedor do estado de nossas almas. É assim comigo. Venho de uma longa linhagem de pessoas que buscam comer quando estão estressadas. Aqueles que comem ao se estressarem cruzam a linha de comer por prazer e suprimento de nutrientes para o corpo, e deslizam para aquele lugar perigoso de permitir que a comida seja um meio de consolo. Estou convencido de que essa é a principal razão para o grande problema da obesidade nos EUA. Como resultado dos níveis intensos de estresse que os pastores enfrentam constantemente, também estou convencido de que é por isso que muitos pastores estão acima do peso e doentes.
Não ignoremos também o outro lado dessa questão: aqueles que evitam alimentos para lidar com o estresse. Essa exposição da alma é mais oculta porque ela não é evidente como um pastor obeso e com excesso de trabalho que provavelmente é escravizado pela comida. Contudo, isso faz com que um pastor lide com as dificuldades do ministério de uma maneira que não é saudável para o seu corpo e despreze o pedido de ajuda em sua alma.
Cuidando da alma
Como um pastor passa a perceber não apenas os seus hábitos alimentares, mas também como a comida expõe o que ocorre em sua alma? Aqui estão quatro maneiras de refletir sobre isso.
Em primeiro lugar, cresça em consciência. A autoconsciência é a ferramenta mais importante para crescermos. Sem conhecermos qual é o problema real, não podemos lidar com ele. Primeiro, se conscientize de sua história familiar e de como você foi ensinado a ver e consumir os alimentos. A comida era uma recompensa? A comida era algo usado para consolo em momentos difíceis em sua casa? Então, cada um de nós precisa estar ciente de como usamos a comida agora. Foi uma profunda verdade para mim, quando percebi que a comida era um meio de consolo para mim em situações de estresse e ansiedade. Até que essa percepção viesse da parte de Deus, eu simplesmente comeria demais e não saberia o motivo. Também trouxe uma visão útil para o outro lado do espectro quando eu estava cuidando de mulheres em minha igreja que estavam lutando contra distúrbios alimentares. O primeiro passo é chegar à conclusão de que a maneira como vemos e consumimos alimentos pode revelar muito sobre as nossas almas.
Em segundo lugar, fique atento ao seu peso. Certa vez ouvi o pastor Al Martin se dirigir a um grupo de pastores, e ele compartilhou essa verdade simples, mas importante, para os pastores: “O que você come e não é queimado no mesmo dia, vai para cá, para ali e para lá (referindo-se a partes de seu corpo)”. Meu peso se tornou um indicador muito útil sobre o quão bem eu estou indo em minha batalha contra encontrar consolo na comida. Quando meu peso aumenta, isso pode significar várias coisas. Mas, quase sempre expõe que estou sob mais estresse e comendo mais como resultado. O controle do meu peso se torna um indicador não apenas do nível de estresse, mas também de como estou lidando com ele. Para o pastor que está de 20 a 40kg acima do peso, isso pode expor uma turbulência ainda maior na alma que não pode ser ignorada.
Entretanto, o peso não conta a história completa. Certa vez conversei com um pastor que se esforçava para comer bastante, e ainda assim era muito magro. Ele lamentou o quão difícil era se esforçar para comer mais e, ainda ouvir com frequência: “Você está muito magro. Precisa comer mais”. Do mesmo modo, há aqueles que estão acima do peso por causa de um problema de tireoide ou no metabolismo, não porque comem demais por causa do estresse. Apesar dessas exceções, nosso peso pode nos dizer muito sobre as nossas almas. Fique atento a isso.
Em terceiro lugar, se preocupe com o seu testemunho pessoal. Manter o peso baixo e ficar em forma se torna mais difícil à medida que envelhecemos. Não estou sugerindo que uma pessoa que tenha um pouco de peso extra e não se exercite com a frequência que deseja corre o risco de prejudicar o seu testemunho do evangelho. Também não estou argumentando que devemos, de alguma forma, buscar um estereótipo atraente para que nossa mensagem seja ouvida. Somos todos vasos quebrados sendo usados nas mãos do Mestre. Porém, qualquer cristão que aparente ser totalmente escravizado a qualquer tipo de substância, seja drogas, bens ou comida, arrisca-se a prejudicar o seu testemunho da liberdade que temos no evangelho. Esse foi o elefante que foi exposto na sala da convenção naquele ano em particular. O evangelho provê, em Cristo, liberdade do pecado e do mundo, e o poder dessa mensagem pode confundir o ouvinte quando é proclamada por um homem que está 50kg acima do peso e fica sem fôlego apenas por caminhar até o púlpito para pregar. O domínio próprio é parte do fruto do Espírito que precisa nascer em nossas vidas para confirmar o nosso testemunho. O apóstolo Pedro convoca todos os pastores a serem exemplos para o rebanho (1Pe 5.3). Esteja atento ao seu testemunho pessoal.
Finalmente, encontre o seu consolo em Jesus. É algo poderoso percebermos o impacto que a comida tem sobre a alma e que usamos o alimento como um meio de consolo neste mundo caído. Mas a solução não é a mera conscientização. Nossas almas são nutridas e cuidadas quando percebemos que nosso consolo no estresse e dificuldades de nossos ministérios não está na comida, mas em Jesus. Precisamos confessar a nossa busca ou rejeição de comida diante de Jesus, quem pode vir e prover o único consolo permanente em meio aos sofrimentos deste mundo. O que ecoa devido a habitação do Espírito Santo em cada um de nós como seguidores de Jesus é que Jesus nos satisfaz de um modo que a melhor comida não pode satisfazer.
Pastores, sejam honestos sobre o lugar que a comida tem em sua vida. Demorou trinta anos antes de eu ser honesto sobre isso. Essa sempre será uma batalha para mim. Asseguro-lhes que a alma continuará a desfalecer na dor e na tristeza que existe, e que a comida tenta disfarçar. Lembrem-se: A graça de Deus irá encontrá-los naquele lugar de franqueza e honestidade e lhes dará forças para andarem em domínio próprio e vitória contra as armadilhas que a comida traz. Isso criará um espaço em suas almas que trará o alívio e a paz que vocês realmente buscam.