Um blog do Ministério Fiel
Mulheres podem pregar no culto?
Por que Andrew Wilson (aqui e aqui) e Tom Schreiner (aqui) e John Piper (aqui) dedicam o seu precioso tempo para escrever sobre as suas diferenças em relação a assuntos secundários, quando desfrutam de tão grande acordo sobre coisas gloriosas que são mais importantes? A resposta mais imediata é: Porque precisamos decidir quem pregará no próximo domingo. Nossa atenção à essa questão é porque não temos escolha.
Em outras palavras, ao contrário de questões secundárias, como diferenças escatológicas, a questão atual simplesmente não pode ser evitada para pastores. É o tipo de problema que afeta imediatamente o que você faz no culto. E é o tipo de problema em que fazer dos dois jeitos não é uma opção. Se as mulheres são chamadas a pregar, fazemos do jeito de Andrew. Se elas não são chamadas a pregar, fazemos do jeito de Tom e do meu. Não podemos aceitar os dois jeitos.
Eu gostaria que problemas como esse não existissem. As implicações para trabalhar na mesma equipe da igreja são limitantes. E isso é triste. É claro que existem dezenas de outras coisas que podemos fazer juntos, mas manter uma boa consciência enquanto trabalhamos na mesma equipe de liderança da igreja seria difícil.
Em outras palavras, a razão pela qual os pastores discutem sobre essas coisas é porque amamos o nosso povo e queremos fazer o que é melhor para eles. Isso é algo muito bom, mas às vezes tem consequências desagradáveis.
A diferença fundamental?
Então, aqui está minha pequena contribuição para o diálogo entre Andrew e Tom.
Minha principal questão é: Qual é realmente a diferença fundamental entre Andrew e eu nesta questão? Apesar do diálogo até agora, não tenho certeza. Parece que posso tratar desse assunto de forma um pouco diferente. Vejamos.
Andrew percebe mais do que um tipo de ensino no Novo Testamento, e um destes em particular deve ser dado por presbíteros (todos do sexo masculino) (1Tm 2.12), enquanto os outros não são restritos. A definição do tipo restrito de ensino parece ser: “a definição, defesa e preservação da doutrina cristã pelos líderes autorizados pela igreja”.
A definição do tipo irrestrito parece ser: “um termo genérico para falar sobre a Bíblia em uma reunião da igreja”. Ou: “explicar as Escrituras uns aos outros de um modo pessoal, de acordo com o dom”.
Qual é o fator decisivo no que é apropriado?
O que eu não posso dizer a partir da explicação de Andrew é: Qual é o fator prático decisivo para tornar uma dessas atividades apropriada para as mulheres em relação aos homens e a outra inapropriada?
A julgar pela expressão “definição e defesa da doutrina cristã” como a marca do ensino restrito, meu palpite é que a questão fundamental para Andrew é a autoridade do presbítero de tomar decisão oficial sobre a doutrina. Os presbíteros decidem as definições e parâmetros doutrinários. E assim oferecem defesa e proteção à essa verdade.
Então, parece, dentro daqueles parâmetros doutrinários decididos oficialmente, que homens e mulheres podem “explicar as Escrituras uns aos outros de um modo pessoal”.
Assim, para Andrew, a linha divisória entre ensino apropriado e ensino inapropriado para as mulheres parece ser se ela está envolvida em criar um credo ou declaração de fé para a igreja. Parece que, desde que ela esteja teológica e exegeticamente dentro daquela declaração de fé determinada pelos presbíteros, não é relevante como ela prega a sua mensagem aos homens.
Em outras palavras, a adequação da autoridade que ela expressa não é definida por sua conduta, ou força, ou clareza, ou repreensões, ou correções, ou conselhos, ou ordens proferidas aos homens, nem pela frequência com que ela pode pastorear os homens da igreja dessa maneira. O fator prático decisivo na diferenciação de discursos apropriados e inapropriados pelas mulheres é como elas se relacionam com a instituição oficial e a preservação da doutrina.
Diferenças criacionais e o chamado à liderança
Então, aqui está uma possível diferença fundamental entre nós. Penso que a diferença prática decisiva entre o ensino que é proibido às mulheres (1Tm 2.12) e o ensino que não é (por exemplo, Tito 2.3–4), não é primariamente a definição de parâmetros doutrinários dos presbíteros, mas a dinâmica pessoal de como as mulheres e os homens devem se relacionar uns com os outros. Para ser mais específico: O fator prático decisivo é se a atividade envolve a liderança pessoal e autoritativa em relação aos homens.
Parece-me que, enquanto homens e mulheres se relacionam uns com os outros na igreja, os homens devem liderar, segundo a analogia do modo como um marido lidera no lar (Ef 5.22-33). Em todos os aspectos da vida da igreja, deve haver um espírito — um ethos, uma cultura — de liderança humilde e servil (autoridade), e um apoio alegre, consciente e voluntário a essa liderança (submissão).
A pregação como o coração da liderança da igreja
Assim, quando eu penso em como essa liderança dos homens é expressa na igreja, vejo a pregação regular da Palavra de Deus no culto semanal de adoração como o coração dessa liderança. Por “coração” me refiro ao tum-tum constante e vivificante da liderança que interpreta e aplica a Palavra de Deus, e inspira, comove, repreende, admoesta, corrige e exorta o povo em nome do Senhor, e assim semana após semana molda e guia a comunidade dos crentes. Esta é a função central do pastoreio dos pastores da igreja.
Eu penso que o ministério semanal de pregação deveria ser o tum-tum constante da liderança que molda as pessoas. Ungida pelo Espírito Santo, essa pregação não é apenas “falar sobre a Bíblia em uma reunião da igreja”. É a exultação expositiva e autoritativa na, sobre e a partir da Bíblia. Isso tem o sentido de Tito 2.15: “Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda a autoridade”. Trata-se da voz autoritativa (não infalível) do servo de Deus no poder do Espírito Santo, autorizado e saturado pelas Escrituras. É a voz do arauto enviado por Deus: “Ouvi! Ouvi! Eis uma palavra do Rei!”.
Como devemos nos relacionar está fundamentado na criação
Uma das razões pelas quais vejo as coisas dessa maneira é que Paulo parece fundamentar a sua compreensão sobre os papéis de homens e de mulheres em quem nós somos por natureza; ou seja, pelo propósito de Deus na criação. Paulo traça as nossas diferenças até a criação, não apenas em 1 Timóteo 2.12-15, mas também em Efésios 5.31-32 e 1 Coríntios 11.7-12.
“Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Ef 5.31-32).
“Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem. Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem. Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade. No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da mulher; e tudo vem de Deus” (1Co 11.7-12).
E o relato da criação em Gênesis 1—3 parece expor a liderança do homem, fundamentada no propósito principal da criação da masculinidade e da feminilidade.
Logo, quando medito sobre as diretrizes de como as mulheres se relacionam com os homens na igreja, eu não me concentro apenas nos possíveis atos assegurados por 1 Coríntios 14.26, Colossenses 3.16 e Atos 18.26, mas também em como esses atos se tornam apropriados (ou não) em vista das questões mais profundas sobre a masculinidade e feminilidade em questão no modo como nos relacionamos uns com os outros. Percebo o conceito geral de liderança (emergindo do contexto bíblico mais amplo da ordem da criação divina) como o mais útil para determinar quais papéis que envolvem comunicar a palavra são apropriados para homens e mulheres.
A diferença fundamental está aqui?
Portanto, suponho que onde Andrew e eu podemos diferir, embora eu não tenha certeza, é (1) uma localização diferente do fator prático decisivo por trás do que é apropriado e o que não é, e (2) talvez uma concepção diferente do que a pregação deveria ser.