Mulheres ensinando homens: Qual é o limite? (Parte 1/2)

Onde está o limite quando se trata de mulheres ensinando homens? Mulheres podem pregar nos cultos aos domingo? Dar aula na EBD? Liderar um pequeno grupo? Ensinar um curso de seminário? Falar em uma conferência? Falar em um retiro para casais? Ou em um programa de rádio?

As mulheres podem ensinar as Escrituras quando existirem homens entre os ouvintes? Será que os homens deveriam sequer estar lendo este artigo? Até onde as mulheres podem ir? Essa é uma pergunta de uma infinidade de mulheres que desejam ser fieis à Bíblia e que desejam exercer seu dom espiritual de ensino de uma forma que honre o padrão de Deus de liderança masculina na igreja.

As discussões envolvendo esses limites me fazem lembrar de outra questão do tipo “quão longe é longe demais?”: Antes do casamento, quão fisicamente afetuoso um casal pode ser? Eles podem segurar a mão um do outro? E beijar? Eles podem beijar por cinco segundos, mas não por quinze? Podem dar um selinho, mas não podem beijar de língua? Quão longe é longe demais?

Bem, a Bíblia não especifica exatamente.

Tentar montar uma lista de regras sobre comportamentos permitidos seria enganoso e ridículo. Mas não fomos deixados a esmo. A Bíblia fornece, sim, um limite claro. O ato sexual antes do casamento passa desse limite.

Deus nos revela o princípio da pureza, traça uma linha clara para nos dizer “isso aqui passa do limite” e, para nos ajudar a discernir o restante, provê o dom do seu Espírito habitando em cada um de nós na comunidade dos santos. E, felizmente, quando vacilamos, ele permanece pronto para nos estender seu perdão e graça abundantes e custosos.

Fazendo a Pergunta Certa

Sexo antes do casamento passa do limite. Mas me deixe fazer a seguinte pergunta: É possível que um casal honre esse limite fisicamente e ainda assim viole o princípio da pureza? É claro que sim.

Portanto, uma mulher que considera apenas o limite e pergunta, “quão longe é longe demais?”, está, na verdade, fazendo a pergunta errada. Perguntas melhores seriam, “eu amo o que Deus ama?”, “estimo o que ele estima?”, “o que faço com o meu corpo indica que eu estimo a pureza?” e “de que maneira posso melhor honrar a Cristo no modo como interajo fisicamente com meu namorado?”.

A essa altura você pode estar resmungando, “pensei que ela falaria sobre mulheres ensinando os homens na igreja”. Sim, eu estou. Mas penso que a pergunta de como eu – como mulher com dom espiritual de ensino – devo honrar a liderança masculina na igreja tem muitas semelhanças com a pergunta de como uma jovem deve honrar o princípio da pureza. Tanto na primeira quanto na segunda situação, Deus não nos deu uma lista detalhando quão longe é longe demais. Ele nos deu um princípio geral, traçou uma linha clara para nos dizer “isso aqui passa do limite” e nos concedeu a dádiva do seu Espírito Santo habitando em nós para ajudar-nos a descobrir o restante na sabedoria da comunidade.

Amando o que Deus Ama

Deus deseja que honremos seu plano divino honrando o princípio da liderança masculina em nossos lares e igrejas. A igreja é a família e o lar de Deus (1 Timóteo 3.15; Hebreus 3.6; Gálatas 6.10).

A parte “família” é fundamental. A Bíblia ensina que na unidade do núcleo familiar, assim como na coletividade das famílias da nossa igreja, o pai – ou os pais, no caso da igreja – tem a responsabilidade de liderar amorosamente e governar humildemente a unidade familiar. Esse padrão é repetido em múltiplos níveis: o marido é o cabeça do seu lar, pastores são os cabeças de suas igrejas locais, Cristo é o cabeça da Igreja global e Deus Pai é o cabeça de Cristo (1 Coríntios 11.3; 1 Timóteo 3.4-5; Hebreus 3.6).

Deus deseja que valorizemos e honremos esse padrão e o apreciemos da forma como ele o aprecia.

O termo bíblico para um líder eclesiástico é presbítero ou bispo. Atualmente, as igrejas frequentemente chamam seus líderes de “pastores”. Algumas igrejas chamam de “pastor” todas as pessoas do quadro de colaboradores remunerados – mesmo se a pessoa for mulher e não um presbítero. Para evitar confusão com todas essas terminologias conflitantes e para eu ser clara sobre o que quero dizer, chamarei os homens que ocupam o cargo bíblico de presbítero/bispo e que governam e lideram a família da igreja de “pais da igreja”.

Deus nos dá um limite claro de como devemos honrar o princípio da liderança masculina na igreja. Honramos esse limite deixando que os “pais da igreja” governem e ensinem a igreja. As Escrituras indicam que as mulheres devem permanecer em silêncio quando os “pais da igreja” estão provendo esse tipo de instrução familiar de autoridade. “Pois não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o homem, mas esteja em silêncio” (1 Timóteo 2.12). Esse é o limite que devemos observar se quisermos honrar o princípio da liderança masculina.

Mas o que isso significa? E quanto a uma mulher pregar no domingo de manhã? Ou no domingo à noite? Ou na quarta-feira à noite? Ou na terça-feira de manhã? E compartilhar o seu testemunho? Dar um estudo bíblico junto com um homem? Falar para uma audiência mista em uma conferência religiosa? Apresentar um seminário quando homens estiverem presentes? Liderar uma reunião de oração? Ensinar em um seminário misto? Mentorear homens em particular? Pregar na TV? Ou na rádio? Instruir homens através de artigos e livros?

Se sou uma mulher que tem o dom de ensinar, em que ponto ultrapasso o limite? Assim como no caso da pureza, acredito que formar um conjunto de regras sobre comportamentos permitidos é enganoso e ridículo. Além disso, acredito que perguntar “Quão longe é longe demais?” é fazer a pergunta errada.

Para mim, perguntas melhores seriam, “eu amo o que Deus ama?”, “estou valorizando Jesus ao valorizar o modelo de liderança de Deus?”, “sustento e apoio a liderança masculina como um aspecto bom e belo do sábio plano de Deus?”, “a forma como exerço meu dom de ensino indica que valorizo esse plano?” e “como posso melhor honrar a Cristo no modo como ensino (bem como no contexto em que ensino)?”.

A Responsabilidade dos “Pais da Igreja”

Acredito que a pergunta de como honrar a Cristo através do exercício do meu dom de ensinar gira em torno da questão de eu estar ou não agindo como um “pai da igreja”. O que estou fazendo é sinônimo de estabelecer a direção espiritual e doutrinária para toda a minha igreja (ou tem a probabilidade de ser interpretado dessa forma)?

A maioria das igrejas se reúne para ouvir os “pais da igreja” as ensinarem e as instruírem nos cultos de final de semana, particularmente no domingo de manhã e de noite. Isso não quer dizer que toda semana o culto está focado em ensinar a doutrina e liderar a congregação , ou que os finais de semana são os únicos momentos em que tal instrução ocorre. Mas via de regra, na maioria das igrejas, os cultos do final de semana são o contexto em que o ensino oficial e a liderança da igreja ocorrem.

Porque eu desejo honrar 1 Timóteo 2.12, para o meu bem e para o bem da igreja e porque eu acredito que essa passagem apresenta um limite consideravelmente claro quanto às mulheres ensinarem de modo oficial na igreja local, eu costumo recusar convites para pregar nas manhãs de domingo. O texto indica que o ensino doutrinário fornecido no contexto dos encontros regulares da igreja é responsabilidade dos “pais da igreja”. O modo como eu honro e valorizo o modelo de liderança de Deus é permanecendo em silêncio e deixando os “pais da igreja” instruir a congregação.

Digo que eu costumo recusar convites para falar nas manhãs de domingo. Houve exceções. Uma vez, aceitei um convite para falar no Dia das Mães, quando um “pai da igreja” introduziu minha fala com a explicação de que ele desejava honrar as mães e abrir espaço para que eu desse uma instrução especial para as mulheres naquele dia. Também aceitei convites para falar quando os “pais da igreja” me pediram para apresentar uma visão geral sobre a história e filosofia do pensamento feminista, para falar sobre questões culturais ou questões femininas, para compartilhar meu testemunho ou para relatar como Deus estava operando através do meu ministério.

Já estive em mesas-redondas e participei daquele tipo de ensino no formato de “pergunta e resposta” em cultos de final de semana juntamente com homens. Uma vez num domingo de manhã, um “pai da igreja” e eu ensinamos em parceria, porque o tópico tinha uma aplicação específica do tipo “ele e ela” e ele achou que as mulheres seriam beneficiadas em ouvir as coisas a partir de uma perspectiva feminina.

Também ensinei homens em vários contextos que não seriam qualificados como um culto oficial – como acampamentos, conferências, apresentações tipo seminário, cursos de seminário e workshops. Mais adiante neste artigo, apresentarei algumas diretrizes que uso para me ajudar a determinar se aceitar ou recusar um convite para ensinar homens em um contexto religioso e misto honra 1Timóteo 2.12 e o princípio da liderança masculina.

Mas, antes que eu chegue lá, deixe-me enfatizar que embora existam exceções, eu acredito que, via de regra, valorizar e honrar o modelo de liderança de Deus significa que eu devo evitar ensinar durante o ajuntamento habitual e semanal da igreja (ou seja, pregar no domingo de manhã) – mesmo que me peçam para fazê-lo. Assim como me submeto ao meu esposo quando ele está provendo liderança espiritual para nossa família, também me submeto ao desejo de Deus de que são os “pais da igreja” que provêm instrução doutrinária e orientação para a minha igreja.

Faço isso com alegria. Não sou um “pai da igreja”. Eu sou uma mulher e, portanto, uma mãe espiritual. Deleito-me no fato de que Deus nos criou macho e fêmea e nos moldou para sermos pais e mães espirituais. É possível eu afirmar, por eu ser uma professora habilidosa, que eu poderia interpretar o texto e pregar o sermão melhor do que muitos “pais da igreja”. Mas isso perderia o principal de vista. Não se trata de competência. Deus criou a família e, na família, homens devem ser os pais e as mulheres devem ser as mães. Não é uma questão de quem é melhor ou mais habilidoso. Papeis de gênero não são nem idênticos, nem intercambiáveis.

Mulheres Podem Ensinar Sob Autoridade Masculina?

Algumas igrejas têm mulheres pregando em suas reuniões coletivas com regularidade. Elas contornam 1Timóteo 2.12 dizendo que as mulheres estão ensinando sob a autoridade dos “pais da igreja”. Na minha concepção, isso é altamente desaconselhável. Em meu casamento, se meu marido me dissesse para fazer algo que fosse claramente contrário às Escrituras, eu recusaria. Minha responsabilidade de obedecer ao Senhor Jesus suplanta a liderança do meu marido. Se um “pai da igreja” me pedisse para pregar e instruir a congregação de forma doutrinária, eu precisaria considerar seriamente se ele estaria me pedindo para fazer algo que fosse contra a vontade de Deus revelada em sua palavra. “Pais da igreja” não podem dar permissão legítima para que alguém desobedeça a Bíblia.

O texto não diz, “preservem alguma semelhança de autoridade masculina em suas igrejas”. Não diz, “a mulher pode ensinar os homens nas suas reuniões se ela estiver sob a autoridade de um presbítero/pai da igreja”. Não diz, “a mulher pode ensinar se ela for casada com um presbítero/pai da igreja”. E também não diz, “uma pastora pode pregar se ela fizer parte do quadro de colaboradores da igreja, atuando sob a autoridade dos presbíteros/pais da igreja”.

O texto diz, “não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o homem, mas esteja em silêncio”. Mesmo que não gostemos disso, não concordemos com isso ou não entendamos isso, o limite é bem claro. Deixar o papel de ensino e instrução oficiais da congregação nas mãos dos “pais da igreja” é o padrão de Deus para os encontros coletivos e habituais da igreja local.

Um pastor ou presbítero pode dar permissão legítima para que uma mulher desobedeça ao texto das Escrituras? Deixe-me lhe fazer a mesma pergunta usando uma situação diferente. E se um presbítero dissesse que você e seu namorado poderiam ter relações sexuais e viver juntos sem se casar? Ou dissesse que você poderia mentir na sua declaração de imposto de renda? Ou mentir sendo uma testemunha em um tribunal? O que você pensaria se uma mulher em sua igreja dissesse a você, “eu posso ler conteúdos eróticos e visitar sites pornô porque meu pastor me deu permissão e estou sob a autoridade dele”? Você rejeitaria essa “permissão” como algo ridículo. Esses exemplos, embora extremos, realçam o fato de que nenhum presbítero, bispo, pastor, “pai da igreja” ou qualquer figura de autoridade eclesiástica tem a autoridade de dar às pessoas permissão para desobedecer a Deus.

Falando de um modo geral, o culto dominical  da igreja é o contexto em que ocorre a instrução doutrinária da igreja. Mas, como eu disse anteriormente, não são todos os cultos dominicais que são focados em instrução puramente doutrinária (nem sempre tem um sermão propriamente dito), nem todos os tipos de compartilhamento ou instrução são ensino exegético e nem todos os tipos de apresentações podem ser categorizados como “oficiais”. Portanto, obviamente, há exceções para a regra. Acredito que existem ocasiões das quais seja perfeitamente apropriado que mulheres façam parte e nas quais seja aconselhável que as igrejas sejam intencionais quanto a incluir uma perspectiva feminina vez ou outra de formas que sejam apropriadas.

Leia a Parte 2 aqui.

Por: Mary A. Kassian. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Women Teaching Men — How Far Is Too Far?

Original: Mulheres ensinando homens: Qual é o limite? (Parte 1/2). © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Harumi Makida dos Santos. Revisão: Renata M Gandolfo e Renata Cavalcanti.