Um blog do Ministério Fiel
A Doutrina de Missões Globais
Em 1890, a Igreja Batista Bethlehem (uma Igreja Batista sueca de 29 anos na época) enviou os membros Mini e Ola Hanson para um povo não alcançado na Birmânia, chamado Kachin. Eles eram conhecidos como vingativos, cruéis e traiçoeiros. O rei da Birmânia declarou aos Hanson quando chegaram lá: “Então vocês ensinarão os Kachins? Vocês veem meus cachorros ali? Eu lhes digo, será mais fácil converter e ensinar esses cães. Vocês estão desperdiçando suas vidas”.
Os Kachin eram completamente analfabetos, e não tinham língua escrita. Pelos 30 anos seguintes, os Hanson organizaram 25.000 palavras e publicaram um dicionário Kachin-Inglês. Em 1911, Hanson concluiu uma tradução Novo Testamento. Em 11 de agosto de 1926 ele completou o Antigo Testamento.
Em uma carta de 14 de agosto daquele ano, Hanson escreveu: “É com sincera gratidão que coloco esse trabalho aos pés do meu Mestre. Estou consciente que é compreensível para todos. Orem conosco para que o nosso divino Mestre abençoe este trabalho para a salvação de todo o povo Kachin”. Hoje praticamente todos os Kachin podem ler e escrever em sua própria língua, assim como em birmanês, a língua nacional. E há mais de meio milhão de cristãos kachin.[1]
Assim, o legado de missões em Bethlehem remonta a cem anos. E tem sido um dos maiores privilégios da minha vida, sem qualquer exagero, fazer parte da sustentação e crescimento desse legado. Eu sempre pensei: Ó Senhor, se vacilarmos como igreja, se tropeçarmos, se deixarmos cair as cordas, muitos missionários cairão. Manter a força desta igreja não diz respeito apenas aos santos aqui ou o impacto que temos em Twin Cities. É sobre as centenas de parceiros globais que entraram nas minas com cordas sustentadas por esta igreja.
6.1 Uma imagem poderosa do esforço missionário
Segurar a corda tem sido uma figura poderosa para nós ao longo dos anos. Ela foi usada por William Carey, que abriu caminho para a Índia em 1792 e via a sua missão como um mineiro penetrando em uma mina profunda, que nunca havia sido explorada, sem ninguém como guia. Ele disse a Andrew Fuller, John Ryland e seus outros amigos pastores: “Eu descerei, se vocês segurarem a corda”. E John Ryland relata: “Ele fez com que cada um de nós jurasse, ao redor da boca do poço da mina, que enquanto vivêssemos, jamais soltaríamos a corda”.[2]
Agora, ao legar a liderança da igreja — da missão, existem 109 famílias e pessoas solteiras (192 adultos, 170 crianças, 362 almas!) que puseram as cordas do seu apoio em nossas mãos. Isso é incrível, assustador e maravilhoso. Que privilégio! Somos todos enviados ou enviamos, ou somos desobedientes. Existem aqueles que descem às minas, aqueles que seguram as cordas e aqueles que pensam que isso não lhes diz respeito. Alegre-se por fazer parte de uma igreja que não apenas apoia, mas envia pessoas, mais de cem famílias e pessoas solteiras para levarem o evangelho aos povos do mundo.
6.2 Você tem um desejo de ir?
Anualmente, o foco semanal de Bethlehem em missões globais tem sido um ponto crítico nos fogos missionários que queimam ao longo de todo o ano. A cada ano concluo com uma mensagem onde convido um grupo de ouvintes a chegar à frente do auditório. Convido-os a vir a fim de dar testemunho da maravilhosa obra de Deus em seu senso de chamado para as missões transculturais de longo prazo, e para buscar clareza, confirmação e coragem para esse chamado ao orarmos por eles.
E a questão é: “Deus tem trabalhado em você — por vinte anos, ou vinte dias ou vinte minutos — para lhe dar um senso convincente de que, a menos que ele mostre o contrário, você está partindo com a ajuda dele para as nações a longo prazo? (Nós amamos missões de curto prazo, mas não se trata disso). Deus tem operado em você um desejo de passar pelo menos dois anos e possivelmente mais, em uma cultura diferente para espalhar as melhores notícias de todo o mundo — esse Jesus Cristo, o Filho de Deus, quem veio ao mundo para salvar os pecadores, que morreu em nosso lugar e ressuscitou?
Então, o que eu vou fazer, como parte de nossa série sobre as ênfases teológicas de trinta anos em Bethlehem, é oferecer-lhe dez convicções bíblicas que impulsionam nosso compromisso com o alcance global — para missões mundiais — nessa igreja. E enquanto eu lhes dou estas, oro para que elas ardam em sua alma — para alguns de vocês eu oro como um desejo dado por Deus para que possam ir, e para outros como um desejo dado por Deus para que possam enviar.
6.3 Dez convicções bíblicas sobre missões globais
- Deus é apaixonadamente comprometido com a fama de seu nome e que ele seja adorado por todos os povos do mundo, e isso não é egomania, é amor.
As missões, o alcance global, estão se unindo a Deus em sua paixão de amar as nações, oferecendo-se a elas para a alegria transbordante do seu louvor.
- “Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas” (Sl 96.3).
- “Tornai manifestos os seus feitos entre os povos, relembrai que é excelso o seu nome” (Is 12.4).
- Deus envia Jesus em sua missão “para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia” (Rm 15.9).
- Ele realiza as suas obras poderosas na história “para que o meu nome seja anunciado por toda a terra” (Rm 9.17).
- Portanto, a adoração é o alvo e o combustível das missões: As missões existem porque a adoração não existe.
As missões são nossa maneira de dizer: A alegria de conhecer a Cristo não é um privilégio privado, tribal, nacional ou étnico. É para todos. E é por isso que nós vamos. Porque provamos a alegria de adorar a Jesus e queremos que todas as famílias da terra sejam incluídas. “Lembrar-se-ão do SENHOR e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações” (Sl 22.27).
A busca de adoração das nações é abastecida pela alegria de nossa própria adoração. Você não pode louvar o que não gosta. Você não pode proclamar o que não valoriza. A adoração é o combustível e o objetivo das missões.
- As pessoas precisam conhecer sobre Jesus, porque não há salvação nem adoração onde o evangelho do Filho de Deus crucificado e ressurreto não é ouvido e crido.
- “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.12).
- “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).
- “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo 5.12).
- “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19).
Não haverá salvação nem adoração verdadeira entre pessoas que não ouviram o evangelho. As missões são essenciais para a salvação.
- Deus está comprometido em reunir adoradores de todos os povos do mundo, não apenas de todos os países do mundo.
Isto é o que “todas as nações” significa na grande comissão. Nações como Ojibwe, Fulani e Kachin, não como os Estados Unidos, Japão e Argentina. Isto é o que Jesus comprou com sangue:
Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos,
porque foste morto e com o teu
sangue compraste para Deus os que procedem de toda
tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus
os constituíste reino e sacerdotes;
e reinarão sobre a terra” — Apocalipse 5.9-10
O evangelho já alcançou todos os países. Mas, de acordo com o Joshua Project (www.joshuaproject.net), existem mais de 7.000 povos não alcançadas. É por isso que a nossa declaração missionária diz: “Nós existimos para espalhar uma paixão pela supremacia de Deus em todas as coisas para a alegria de todos os povos [plural!] por meio de Jesus Cristo”.
- Portanto, há uma necessidade crítica de missionários semelhantes a Paulo cujo chamado e paixão é levar o evangelho a povos que ainda não têm acesso ao evangelho.
Eu estou distinguindo os missionários semelhantes a Paulo dos missionários semelhantes a Timóteo. Timóteo saiu de sua casa e serviu culturalmente em uma cidade (Éfeso) diferente da sua (Listra). Mas Paulo disse em Romanos 15.20: “Esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado”. Ainda há muito a fazer onde Cristo foi anunciado. Mas, oh, como precisamos orar por um exército de centenas de milhares de pessoas com a paixão de Paulo de alcançar os povos totalmente não alcançados e remotos do mundo.
- Devemos enviar os parceiros globais de um modo digno de Deus.
É por isso que temos uma equipe de missões, um orçamento para missões e um programa de incentivo a missões, e por que temos equipes de apoio de Barnabés para apoiar nossos missionários. “Bem farás encaminhando-os em sua jornada por modo digno de Deus” (3Jo 1.6). É por isso que aqueles que enviam são tão cruciais como aqueles que vão. Não acreditamos que todos sejam missionários de fronteiras. Missionários de fronteiras cruzam culturas e plantam igrejas onde elas não existem. Mas se nós não vamos, há um grande chamado: Enviem. E João diz: Façam isso de modo digno de Deus.
- É apropriado que tenhamos uma mentalidade de guerra no uso de nossos recursos, desde que os povos não têm o evangelho, e nós temos os recursos para enviá-lo.
Em tempos de paz, o Queen Mary era um transatlântico de luxo, mas na Segunda Guerra Mundial ela se tornou um transportador de tropas. Em vez de três beliches altos, eles empilharam sete. Em vez de utensílios finos, havia alimentos com talheres. Você usa os seus recursos de forma diferente se estiver em um tempo de guerra. E é tempo de guerra. As batalhas são mais constantes que quaisquer outras em nossas guerras mundiais e as perdas são eternas.
Os macedônios em 2 Coríntios 8.2 são um modelo para nós diante de grande necessidade: “Porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade”. Oh, que nos aprofundássemos em nossa compreensão da urgência e nos lembrássemos de que, em última análise, não possuímos nada. Deus nos possui e ele possui tudo o que temos. E ele se preocupa com o esforço de guerra para alcançar as nações com o evangelho que Jesus morreu para enviar.
- A oração é um walkie-talkie em tempo de guerra, não um intercomunicador doméstico.
“Eu vos escolhi a vós outros e vos designei”, disse Jesus, “para que vades e deis fruto… a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda” (Jo 15.16). Eu vos dou uma missão para que as vossas orações sejam frutíferas. A oração é pela missão. É principalmente por aqueles que estão na linha de frente do esforço de guerra clamando pelo envio de ajuda do quartel-general.
Uma das razões pelas quais nossas orações são ineficazes é que tentamos tratá-la como um intercomunicador doméstico para chamar o mordomo em outro cômodo, em vez de tratá-la como um walkie-talkie de guerra para invocar o poder do Espírito Santo na batalha pelas almas.
- Sofrer não é apenas o preço por estar em missões, é o plano de Deus para realizar a obra.
- “Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?” (Mt 10.25).
- “Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome” (Mt 24.9).
- “Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos” (Mt 10.16).
Este não é apenas o preço que muitos devem pagar. Essa é a estratégia de Deus para a vitória. O seu Filho obteve vitória desta maneira. Assim obteremos vitória. “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). Eles venceram (não foram vencidos) por meio do seu testemunho e de sua morte.
- A causa global de Cristo não pode falhar. E nada que você faça nessa causa é em vão.
Jesus disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos” (Mt 28.18-19). Não alguma autoridade. Toda. Jesus não pode ser derrotado. “Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim” (Mt 24.14). Jesus resgatou um povo de todas as nações. E ele os terá. “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10.16).
Há mais, porém essas são dez das nossas principais convicções bíblicas que impulsionam o compromisso da Igreja Batista Bethlehem com o alcance global. E para alguns de vocês, enquanto as leram, essas convicções se tornaram, mais uma vez, uma confirmação de que Deus está conduzindo-os a missões interculturais de longo prazo.
Amém.