Um blog do Ministério Fiel
Nossa idade: tudo tem um tempo determinado
O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Sem Medo da Minha Idade, de Elyse Fitzpatrick, futuro lançamento da Editora Fiel.
Há cerca de um ano, percebi que havia uma estranha saliência no meu dedo anelar. “O que é isso?”, perguntei-me. Aquilo estava me incomodando e eu tentei mexer para descobrir o que era. Depois, em uma conferência que eu estava frequentando, falei com um reumatologista: “O que é essa estranha saliência no meu dedo?” — indaguei.
Ele encostou a mão para sentir o que era e disse: “É um nódulo de Heberden. Faz parte do envelhecimento; é só um esporão calcificado da cartilagem da junta”.
“Ah, faz parte do envelhecimento…” Isso deveria me fazer sentir-me melhor? A intenção era me fazer sentir melhor?
A verdade sobre nossa condição é que todos nós estamos envelhecendo — mesmo que você ainda não tenha sido agraciada com alguma saliência estranha. Mas não estamos apenas envelhecendo. Estamos avançando rumo a uma eternidade que terá início com uma transformação que só podemos imaginar como será.
Durante a minha pesquisa para um dos capítulos de Mulheres ajudando mulheres, deparei-me com a seguinte declaração impressionante: “Estou escrevendo este livro por uma razão intensamente pessoal. Tenho uma doença terminal. Você está convidado a ler pelo mesmo motivo. Você também tem uma doença terminal… A vida é sempre fatal”[i].2 Você costuma refletir sobre essa verdade? Você tem consciência de que sua vida vai se acabar e que há um dia que se aproxima com uma velocidade cada vez maior em que tudo o que você conhece será transformado? Todas as ilusões serão removidas; todas as falsidades serão expostas; e a verdade se tornará visível.
Se você for como eu, é fácil esquecer essas verdades — até que algo acontece para nos lembrar. Minha memória não funciona, meus filhos estão completando trinta anos ou eu recebo notícias indesejadas de que meu pai ou minha mãe está doente, fazendo com que a realidade da vida, que estava um pouco de lado na minha consciência, volte a receber o foco da minha atenção. A vida nem sempre será o que é hoje. Eu sou finita, sou frágil e sou dependente.
Você já parou para refletir sobre a imprudência dos jovens? Eu olho para os jovens do meu bairro andando de skate e fico perplexa; eles são jovens e se consideram invencíveis. Eles não sentem a dor e a rigidez que fazem parte das minhas manhãs, e os fatos sobre o futuro são tão irreais para eles quanto a ideia de que haverá um dia em que andar de skate deixará de encantá-los. Eles assumem riscos tolos porque não conhecem a verdade que meu pequeno nódulo de Heberden me ensinou: a vida é curta, a vida é preciosa e eu sou vulnerável.
Encontrando bênçãos nas pequenas saliências
Deus não é bom? Ele poderia nos ter deixado sem essas mudanças, poupando-nos de ver que estávamos caminhando rumo ao nosso destino último até chegarmos a um momento em que descobriríamos que tudo chegou ao fim. Em vez disso, ele colocou placas de sinalização no caminho. Como aquele autoproclamado profeta na esquina da rua com seu prognóstico: “O fim está próximo!”, o Senhor colocou um aviso dentro de cada uma de nós: “Pense no que você está fazendo! Prepare-se para a eternidade!”. O salmista orou para que o Senhor nos ensinasse “a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). Não é interessante que, para aprender a contar nossos dias, torna-se necessário alcançar a sabedoria divina? João Calvino comentou:
“Ainda o mais habilidoso em matemática, e aquele que pode empreender com precisão uma investigação e acuradamente chegar a milhões e milhões, não obstante é incapaz de contar oitenta anos de sua própria vida […] Os homens medem todas as distâncias fora deles mesmos, sabem a quantos quilômetros está a lua do centro da Terra, qual espaço há entre os diferentes planetas; e, em suma, podem dividir todas as dimensões tanto do céu quanto da terra; enquanto, não obstante, não podem contar setenta anos em seu próprio caso.”[ii]
Em diversas parábolas, Jesus, amorosamente, nos advertiu sobre a tolice de não compreender a brevidade da vida. Em uma delas, ele advertiu que deveríamos estar sempre cingidas e preparadas para seu retorno. Em outra, advertiu-nos que o dono da casa, que estava dizendo para si mesmo, “Sou financeiramente seguro e posso descansar”, quando menos esperasse, teria de prestar contas de sua alma. A parábola do homem rico que viveu de forma egoísta, mas depois foi atormentado, enquanto Lázaro deleitava-se em prazeres que nunca conheceu, também serve para ensinar aos sábios: Olhem para a Palavra! Observem o mundo! Leiam as manchetes das mudanças de seu corpo!
O apóstolo Paulo também admoestou seus leitores: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor” (Ef 5.15-17).
Você consegue perceber qual é o tema? A verdade sobre a eternidade e sobre quanto, rapidamente, nos aproximamos da eternidade peneira o coração de cada pessoa, o que pode revelar um coração tolo ou um coração de sabedoria. Sem a intervenção do Espírito Santo e sem o sacrifício de Cristo, tudo o que seria revelado sobre nós seria tolice. Mas, com a ajuda de Deus, podemos levar a sério os avisos que ele colocou no caminho para que sejamos sábias. Como conheceremos essa sabedoria? Ela se expressa em palavras como a de Davi:
Dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade. Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida é nada. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade. Com efeito, passa o homem como uma sombra; em vão se inquieta; amontoa tesouros e não sabe quem os levará. E eu, Senhor, que espero? Tu és a minha esperança. (Sl 39.4-7)
O coração sábio que almejamos ter inclui diversos fatos importantes.
Você e eu precisamos da ajuda de Deus para obter a sabedoria que Jesus, Paulo e Davi mencionam. Há uma deficiência em nossa compreensão: não apenas uma falta de entendimento, mas uma relutância voluntária para compreender o verdadeiro estado em que nos encontramos. Precisamos que ele torne nossos corações mais humildes e que crie em nós o desejo de amar a verdade.
Haverá um fim para nossos dias aqui na terra. Até os mais tolos entre nós reconhecem essa verdade. Sim, sim, nós pensamos. Eu sei que minha vida vai acabar um dia… mas não será hoje. Esse tipo de pensamento tolo se manifesta de centenas de maneiras em nossa vida cotidiana. Você quer um exemplo? Você tem um testamento? Setenta por cento das pessoas não têm.
A vida que agora vivemos na carne — na melhor das hipóteses, é um mero sopro. O Espírito Santo inspirou Tiago, que disse que a vida é “como neblina que aparece por instante e logo se dissipa”. Da próxima vez que você sair do banho, olhe no espelho. Depois, abra uma janela, veja o vapor indo embora e peça sabedoria para Deus. Pense, “é assim que são os dias da minha vida”.
Todas as vaidades do mundo que atualmente prendem a minha atenção não passam de futilidades. Pense na última vez que você ficou transtornada, com raiva ou preocupada. Que importância essas coisas teriam no Céu? Será que realmente é importante se a parede da sua sala de jantar está amarela demais ou se a taxa de juros do seu investimento diminuiu 0,25%? Como disse Madre Teresa: “Sob a perspectiva do Céu, a mais miserável vida na terra terá sido como uma mera noite ruim em um hotel de estrada inconveniente”.
Somente o nosso relacionamento com nosso Pai celestial através de Cristo durará. A verdade sobre a natureza temporária de nossa vida e dos relacionamentos da vida presente nos faria entrar em desespero se não houvesse um relacionamento que durasse para sempre. Aliás, nosso relacionamento com Deus através de Cristo já existia no coração do Pai antes do nosso nascimento, antes da fundação do mundo (Ef 1.4), e esse é o relacionamento que continuará eternamente.
[i] Peter Kreeft, Love Is Stronger Than Death (San Francisco: Ignatius Press, 1992), xv.
[ii] João Calvino, Comentário dos Salmos, v. 3. São José dos Campos: Editora Fiel, 2009.