Um blog do Ministério Fiel
O homem promíscuo
Em dois textos anteriores falando sobre a pornografia (aqui e aqui), houve algum retorno de pessoas que compartilharam acerca do vício em conteúdo pornográfico e de como isso gera uma tensão profunda entre tal vício e o desejo que elas tem por intimidade com Deus. E não acredito que o fato destas pessoas serem homens não tenha significância.
Obviamente, seria difícil que algumas mulheres viessem comentar num texto de autoria masculina em busca de auxílio para vencer a pornografia. E também estou ciente de que as mulheres são consumidoras de conteúdo pornográfico. Todavia, acredito que exista uma afetação maior na ala masculina. Como homem e como pastor, minha experiência me leva a crer que os homens são a maioria dos afetados por este mal. Portanto, neste texto, quero falar diretamente com o “clube do bolinha”.
Há na cultura uma espécie de incentivo para que o homem seja promíscuo. E por promiscuidade entenda relações sexuais desregradas que envolvem mais de um parceiro. Isso é estimulado a todo momento, onde até para vender shampoo se utiliza de mulheres em trajes sensuais que levam os homens a cobiçarem. E por falar em cobiça, ela é o xis da questão.
A promiscuidade e a pornografia são estímulos externos de quem possui a cobiça alojada no coração. Isso é efeito da Queda, este evento que ocorreu no tempo e no espaço e que relegou a raça humana a condição de seres alienados de Deus e de si mesmos. John Milton em sua obra maior – o poema épico Paraíso Perdido – descreve no Canto XI qual foi a reação de Adão ao descobrir que os seus descendentes caíram em desgraça e numa visão ter visto as consequências que culminariam no dilúvio:
“Das virtudes na estrada iam tão puros…E logo, por acinte ou por fraqueza. Em trilhas tortuosas se transviam! Vejo até nisto que as desgraças do homem tem na forma da mulher o delito.”
Mas após falar isto, o arcanjo Miguel – que ali estava para conduzi-lo (com Eva) para fora do Éden – vai corrigir Adão e assim lhe diz:
“O homem que se efemina. Em si tem toda a culpa: os Céus lhe deram sublimes dotes, e a sapiência entre eles para no posto seu manter-se digno”.
Milton, de forma poética, todavia verdadeira, através da resposta de Miguel, fala de algo que acontece com todo homem que se deixa seduzir e se entrega a promiscuidade: Ele deixa de ser macho[1]. Ele perde sua masculinidade não no sentido biológico, mas no sentido teleológico. O telos do homem, isto é, sua finalidade, é exercer liderança e conduzir a mulher. Quando ele cede a sedução, logo passa de condutor para conduzido. É aí que o propósito de Deus para ele se desvirtua.
Ao contrário do que diz certa canção popular, ser um homem feminino fere, e muito, o lado masculino. No relacionamento pactual entre macho e fêmea, o casamento passará por maus bocados se os papéis se inverterem. Ou se o homem se entregar a qualquer mulher que não seja a sua (seja na vida real ou virtual). O paradigma de masculinidade é Cristo e Ele só tem uma noiva. E ele a ama de maneira sacrificial. “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela”. Efésios 5:25
Todo o homem precisa imitar a Cristo e ser fiel a uma única mulher, satisfazendo-se com ela na beleza da relação pactual que é o casamento. Esse é o padrão divino. E por isso que os líderes da igreja, os presbíteros, dentre alguns padrões de conduta que deveriam apresentar para estarem aptos ao episcopado e serem modelos para sua congregação, precisavam ser maridos de uma só mulher (1 Timóteo 3.2 e Tito 1.6). A monogamia faz parte da ordem criacional. Deus não deu um harém para Adão. Ele deu Eva. E esta foi a mulher que lhe complementou e após estarem reunidos, macho e fêmea, Deus disse “muito bom”.
Numa sociedade licenciosa como a nossa, falar em monogamia é motivo de piada em muitos círculos. Pureza é visto como algo insano e o sexo livre é exaltado. Num mundo pornificado, ser promíscuo é lei. Mas o que a pornografia tem feito? Ela tem saciado os homens ou os tem feito escravos? Como vimos, ela tem causado o efeito desastroso de mudar a direção teleológica do homem, tornando-o efeminado. O homem promíscuo pode até se gabar de ser o “pegador”. Ele pode ter um bloquinho contabilizando cada pulada de cerca que deu e se achar muito macho por isso. Mas no fundo, no fundo, o homem promíscuo não passa de uma mulherzinha. O homem só é homem quando cumpre seu papel pactual de ser o cabeça da sua esposa.
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[1] Douglas Wilson vai abordar de maneira sagaz este tema no livro Fidelidade (CLIRE, 2015).