Um blog do Ministério Fiel
2 Salmos sobre as relações entre Revelação Geral e Revelação Especial
SALMO 19: O Salmo 19 belamente se divide em duas partes. A primeira parte (v. 1-6) atesta que os céus proclamam a glória de Deus e anunciam as obras das suas mãos (v. 1) de forma contínua (v. 2) e geral (v. 6), não proposicional (v. 3), mas por todos entendível (v. 4). A segunda parte (v. 7-14), afirma a perfeição da lei e seu papel admoestador, consolador e transformador na vida do servo do Senhor.
O Salmo 19 conclui (v. 14) com um desejo do salmista de que as palavras em seus lábios e em seu coração sejam agradáveis ao Deus Redentor da Aliança. Esse meditar agradável a Deus é exemplificado nos versículos anteriores.
Assim, pode-se concluir deste texto que a vida pensante do servo do Senhor deve envolver a contemplação destes dois livros formosos de Deus (Confissão Belga, artigo 2) de forma teorreferente (usando a linguagem de Davi Charles Gomes). Esse tipo de sabedoria composta é demonstrada bem no livro de Provérbios e na vida de Salomão. O livro de Provérbios em parte é o exame minucioso do comportamento humano e o aprendizado moral com a criação. O Provérbio 6.6 resume bem esses dois elementos: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio.” Assim, para sermos biblicamente sábio, o servo o Senhor deve se dedicar ao estudo tanto da Escritura como da Criação. Como disse, isso é bem ilustrado na vida de Salomão. 1 Reis 4.29–34 atesta que a sabedoria (dada por Deus) de Salomão resultou na composição de milhares de provérbios, bem como no estudo de botânica e zoologia.
Então, o servo do Senhor deve carregar o Livro da Revelação Geral em uma mão e o Livro da Revelação Especial na outra. Mas como esses livros se relacionam? O Salmo 8 nos mostra.
SALMO 8: O Salmo 8 começa de forma parecida com o 19, afirmando que a majestade de Deus está exposta nos céus (v. 1). O diferencial é que o Salmista irá enxerga a Revelação Geral sob a lente da Revelação Especial, em particular, Gênesis. A grandeza das obras de Deus nos céus (v. 3) leva o salmista a questionar a posição pequena mas honrada do ser humano (v. 3-4), o qual foi feito à imagem de Deus e recebeu domínio sobre a Criação.
O Salmo 8 concluiu (v. 9) reafirmando a magnificência do nome de Deus em toda a terra, a qual é mostrada na Revelação Geral (a grandeza do céu que revela a grandeza do dedo de Deus e a constituição e posição do homem que revelam a maior glória e honra do Criador), porém interpretada pelas lentes da Revelação Especial.
Assim, como afirma Cornelius van Til “[…] somente aquele que olha a natureza através do espelho da Escritura entenderá a revelação natural como o que ela realmente é” (O pastor reformado e o pensamento moderno: o evangelho apresentado como um desafio à descrença atual (São Paulo: Cultura Cristã, 2010), p. 15).
Portanto, devemos atentar-nos a:
— Não desprezar a primazia da Revelação Especial sob a Geral. Não porque há falta de clareza da parte de qualquer uma das duas, mas há falta de olhos apropriados para o ser humano caído. Até mesmo o regenerado precisa regular seu foco através dos óculos da Escritura.
— Não desprezar o estudo da Criação. A primazia da Escritura não afirma a dispensabilidade da Ciência, pelo contrário a Escritura impulsiona o conhecimento intelectual da Criação desde o Jardim (v. 19-20). Esse é o padrão sapiencial bíblico.
— Não desprezar a Deus no estudo da Criação. Por outro lado, afirmar a importância da Ciência não deve nos levar a estudar a Criação como os ateus. Deus não sai de cena em nossos estudos científicos. Ele não deve ser inferiorizado ao Deus da Lacuna, mas mantido exaltado como o Deus Criador. A reflexão deve levar a adoração.
Carregue os dois livros nas mãos, mas empilhe da forma correta.