Um blog do Ministério Fiel
Ataques de Pânico
Artigo adaptado do livro Refresh, de Shona & David Murray, Editora Fiel.
Ao longo dos meses que conduziram ao meu naufrágio, eu me sentia completamente exausta e perdi completamente o apetite. Eu simplesmente não tinha vontade de comer. Certa noite, eu estava tentando descansar e ler um livro quando, de repente, senti um pânico interior, como se algo terrível estivesse prestes a acontecer. Meu coração começou a acelerar sem qualquer motivo aparente e eu não conseguia me acalmar. Isso se repetiu diversas vezes ao longo das semanas seguintes.
Eu estava muito triste e chorava sem motivo aparente. Eu me sentia sozinha mesmo quando estava cercada de pessoas que me amavam. Passei a ter pensamentos obsessivos e, às vezes, passava horas pensando em eventos tristes. Os momentos de pânico passaram a me acometer com maior frequência e eu ficava constantemente aterrorizada. Meu coração acelerava — algumas vezes por horas a fio. Parece que a melhor estratégia era a distração, então, como meio de fugir dessas sensações terríveis e estranhas, eu me esforçava para estar sempre ocupada, mas também porque havia muito a ser feito.
Eu não tinha mais entusiasmo. Trocar as fraldas, cozinhar, fazer as compras, criar dois meninos cheios de vida, cuidar de um bebê agitado e esperar outro bebê que estava a caminho tornaram-se realidades assustadoras. Eu tinha pavor do período da manhã e queria me esconder debaixo das cobertas; mas a clara percepção de que as pessoas precisavam de mim era o que me dava força para continuar. As semanas se passavam, eu praticamente não conseguia dormir e chorava cada vez mais. Nada me interessava. Eu sentia que era uma péssima mãe, uma péssima esposa, uma péssima filha e uma péssima cristã. Eu me sentia culpada por incontáveis tarefas que eu não conseguia concluir ou que, segundo meus padrões, eram malfeitas — e isso me deixava sufocada. Embora eu estivesse dirigindo em velocidade máxima, nunca conseguia avistar a linha de chegada.
Envolta pelo desespero
Concentrar-me em meus momentos devocionais tornou-se cada vez mais difícil, e eu sentia que o Senhor estava longe. Eu era cativa da exaustão mental. Houve uma noite em que eu tentava orar, mas me esquecia, a toda hora, do que estava pensando ou dizendo. Comecei a sentir como se estivesse caindo de um precipício; eu caía cada vez mais e não havia fundo. Todo o meu mundo emocional desmoronou. Ao longo da noite, eu dormia e acordava repetidas vezes. As imagens e os pensamentos mais terríveis sobre Deus inundavam minha mente como se viessem de uma fonte interminável. Eu respondia com versos de salmos bem conhecidos, que eu repetia
constantemente, em uma tentativa desesperada de me apoiar em Deus e em suas promessas. Eu clamava e clamava ao Senhor, mas as trevas do desespero pairavam sobre mim. Como um pequeno barco perdido em meio a uma terrível tempestade após ter perdido o leme, minha mente estava despedaçada, minhas emoções estavam minadas e as ondas de desespero me afogavam sem misericórdia.
Sem descanso
Ao longo desse período negro, eu dormia exausta, mas acordava imediatamente, poucos minutos depois, incapaz de interromper o tormento mental. Então, cheguei à conclusão deque eu havia sido entregue pelo Senhor ao diabo, que eu não podia ser cristã e que tudo o que me restava era ser lançada no inferno. Muito antes de meu relógio despertar pela manhã, eu acordava repentinamente, como um pássaro assustado. Enquanto todos na casa dormiam, eu tinha de levantar para escapar da dor que me invadia. Eu me via atormentada por ondas de pensamentos que batiam na praia do meu coração. “O que vai acontecer com meus filhos a caminho para a eternidade? Quem vai criá-los? Que tragédia de consequências imensuráveis —uma mãe que perdeu a mente e a alma. Eles terão de conviver com essa realidade. E o que dizer sobre David, que percebe a existência de algo terrivelmente errado comigo, mas não é capaz de entender? O que acontecerá com o bebê que estou carregando, por quem ainda não sinto qualquer vínculo emocional?”
Realidade versus mentira
Com uma intensidade feroz, eu tentava focar nos versos da Bíblia que falam de consolação, porém, quanto mais eu fazia isso, mais me tornava obsessiva. Transformei todas as palavras de encorajamento da Bíblia em declarações contra mim e aplicava todas as palavras de condenação a mim mesma. O que também contribuiu para a exaustão mental foi o fato de eu haver começado a ler determinados livros que eu pensava que me resgatariam das trevas profundas em que me encontrava; livros como Graça abundante ao principal dos pecadores, de John Bunyan; The christian in complete armour, de William Gurnall; e Depressão espiritual, de Martin Lloyd Jones. Consegui aproveitar algumas verdades contidas nesses livros, o que me ajudou a manter viva a esperança, mas tudo era intenso e cansativo demais.
Havia vislumbres de realidade, mas esses eram ocasionais e momentâneos. O Senhor certamente disse: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5). Ele acalmou a tempestade para os discípulos. Ele nunca lançaria fora qualquer um que realmente o buscasse. Qual fora o sentido dos últimos 25 anos de minha vida cristã? Ele nunca salva para, em seguida, abandonar. Esse era o meu debate diário. Mas, sempre que eu conseguia firmar-me na realidade, os pensamentos enganosos, os sentimentos subjetivos e as mentiras chegavam imediatamente para destruir toda e qualquer esperança.
O lindo sol e o canto dos pássaros na primavera eram uma agonia para mim. A beleza do céu à noite e todas aquelas estrelas, que testificavam de um Criador fiel, só serviam para quebrar meu coração ainda mais. Comecei a me lembrar da infância — do tempo em que eu ficava sentada do lado de fora da minha casa nas Terras Altas da Escócia, olhando para o céu e entoando as palavras de Salmos 8.3-4:
“Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos,
e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres.
E o filho do homem, que o visites?”2
Problema espiritual?
Como médica de família, eu já havia tratado muitas pessoas em situações semelhantes e, se eu tivesse ouvido minha própria história em um consultório, teria dado, objetivamente, o seguinte diagnóstico: “Sobrecarga mental e depressão severa”. Contudo, meu lado subjetivo — muito mais convincente e persistente — convenceu-me de que meu problema era espiritual, uma falta de vontade ou confiança espiritual. Se ao menos eu pudesse ter mais fé em Deus, então tudo ficaria bem. Afinal, “tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). Mas eu estava no olho do furacão e me sentia fraca e desorientada. Não é o melhor lugar para fazer análises precisas.
Quando, finalmente, naufraguei nas pedras, em março de 2003, David e eu decidimos ligar para o meu pai, um pastor com cinquenta anos de experiência que certamente seria capaz de diagnosticar meu problema espiritual. Contudo, quando ele ouviu a minha história, convenceu-se de que não era tanto um problema espiritual. Era um problema mental e físico com consequências espirituais. Ele disse que, devido a inúmeros fatores, inclusive esgotamento e estresse prolongado, meu corpo estava exausto e minha mente estava sobrecarregada. Os processos físicos e mentais normais haviam cessado e, consequentemente, o que havia de mais precioso em minha vida fora profundamente afetado: meu relacionamento com o Senhor. Esse foi um momento decisivo para mim e para David, pois abriu as portas para uma recuperação maravilhosa e uma bela renovação de minha vida. É sobre isso que quero falar com você no restante deste livro.
Ainda que sua história não seja tão séria ou severa quanto a minha, minha experiência posterior de me encontrar com outras mulheres para aconselhá-las convenceu-me de que muitas mulheres cristãs estão tentando fazer a mesma coisa que quase me destruiu, ou seja, levar uma vida sobrecarregada em um ritmo terrível e insustentável. Ainda que nem todas terminem como eu, contorcidas no chão, pensando que estão prestes a morrer, muitas de vocês estão sofrendo alguma variação do seguinte espectro:
estressada —> ansiosa —> sobrecarregada —> esgotada
—> triste —> deprimida —> considerando o suicídio
Pela graça de Deus, minha jornada não acabou dessa forma e a sua também não precisa acabar. Venha comigo para a Academia Refresh e aprenda comigo a levar a vida no ritmo da graça em um mundo acelerado.