Um blog do Ministério Fiel
Distração pode te custar tudo
Um dos ditos mais repetidos de Jesus nos Evangelhos é alguma versão disso: “Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça” (Marcos 4.23). Se formos sábios, ouviremos com atenção o que quer que Jesus diga, especialmente o que ele diz repetidamente. E nesse caso, ouvir é exatamente o que ele está nos dizendo para fazer.
Há uma razão muito importante por trás da exortação de Jesus:
“Atentai no que ouvis. Com a medida com que tiverdes medido vos medirão também, e ainda se vos acrescentará. Pois ao que tem se lhe dará; e, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”.
Você entende o que Jesus está dizendo? O fato de esse aviso em si mesmo ser um pouco difícil de entender ilustra seu ponto: escute e pondere com cuidado, pois, se você não o fizer, não entenderá e, se não entender, perderá qualquer capacidade para entender o que deve fazer.
Tudo depende de quão bem você ouve o que Deus está dizendo – o que comumente chamamos de palavra de Deus. E ouvir bem a Deus exige muita atenção. Você está prestando atenção?
O estranho objetivo das parábolas
Jesus dá esse aviso no contexto em que ele conta uma série de parábolas. As parábolas eram “histórias de enigmas” nas quais Jesus ocultava profundos segredos do reino de Deus em metáforas breves e que muitas vezes soavam terrenas. Nas histórias registradas em Marcos 4, ele usa os solos de um fazendeiro (Marcos 4.1-8), uma lâmpada de óleo (Marcos 4. 21-25) e sementes (Marcos 4.26-32).
Leia-os. Você os entende? Naturalmente, Jesus explica a parábola dos solos (Marcos 4.13-20). Mas e a lâmpada ou as sementes? Essas histórias parecem mais simples do que são. Nós realmente não as entenderemos a menos que estejamos prestando atenção.
E nós temos Bíblias! Nenhum dos ouvintes originais de Jesus havia ouvido essas parábolas antes. Elas não foram escritas para que pudessem ser lidas repetidamente, ter sua estrutura gramatical examinada e ser convenientemente referenciadas com outras partes das Escrituras. Os primeiros ouvintes ouviram essas histórias uma vez. Se eles não estivessem prestando atenção, eles poderiam perder o reino. Isso seria uma distração que custaria muito.
Quando Jesus explicou aos seus discípulos por que ele ensinava por parábolas, ele disse que o fazia, citando partes de Isaías 6.9-10, para que seus ouvintes “vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles” (Marcos 4.12). Aqui, novamente, a explicação difícil de entender de Jesus ilustra seu ponto: se não estivermos ouvindo atentamente, perderemos o que ele está dizendo.
Deus está realmente dizendo enigmas para que as pessoas não entendam? Não e sim. Jesus contou parábolas para revelar os mistérios espirituais do reino, e ele realmente queria que as pessoas os entendessem. É por isso que ele disse: “Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça” e “Preste atenção”. Mas seu método revelador testou a vigília espiritual e a seriedade dos ouvintes. Aqueles que estivessem escutando e realmente prestando atenção ouviriam. Mas o espiritualmente entorpecidos e distraído não o ouviriam. Jesus queria dar o reino ao primeiro, não ao segundo. Aqueles que não prestam atenção revelam sua estupidez espiritual – insensibilidade que tem sérias consequências: perder o reino de Deus.
As formas contra intuitivas de Deus
Se as palavras de Jesus aqui soam contra intuitivas, elas são. Jesus falou e agiu de maneira consistente com as palavras e os caminhos de Deus ao longo da Bíblia, capturados neste texto:
“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos”. (Isaías 55.8-9)
Eu vi essa passagem, ou uma parte dela, citada em memes cristãos, calendários e cartões comemorativos, muitas vezes com uma bela paisagem inspiradora, com o mar ou o céu ao fundo. Mas se inseríssemos imagens bíblicas como pano de fundo, elas seriam coisas como uma árvore proibida no Éden, a existência de Satanás, uma inundação terrível, Abraão prestes a sacrificar Isaque, Jacó disfarçado de Esaú, José definhando na prisão, Israel com um mar diante deles e do exército egípcio atrás, Raabe, a prostituta cananeia, casando-se com um israelita, entrando na linhagem messiânica, Davi escondendo-se de Saul em uma caverna, Jeremias chorando por causa de mulheres judias cozinhando seus bebês, Jesus dormindo em um cocho e, acima de tudo, Jesus adulto mutilado e pendurado em uma cruz romana.
Os caminhos de Deus verdadeiramente não são os nossos caminhos. Nenhum de nós teria escrito a história da redenção como Deus tem feito. A história em si aponta para uma personalidade e uma intencionalidade por trás dela.
E se estivermos prestando atenção, poderemos detectar a personalidade e a intencionalidade na forma estranha como Jesus comunica o reino de Deus em parábolas difíceis de entender. Nenhum de nós faria isso dessa maneira.
Familiar, rico e distraído
O principal qualificador é se estamos prestando atenção. Porque, como Jesus disse, se não estamos prestando atenção ao que Deus diz, perderemos o que Deus está fazendo. Essa é uma distração que custa caro.
Pela graça de Deus, temos uma vantagem sobre os ouvintes originais de Jesus: temos a autoridade da palavra escrita de Deus. De fato, nunca tantos cristãos tiveram tanto acesso à palavra de Deus como nós temos hoje.
Mas não devemos ser induzidos a pensar que tanto acesso e familiaridade com o ensino de Jesus significa que não enfrentamos o mesmo perigo que os ouvintes do primeiro século. Podemos ter uma visão mais clara do reino do que as multidões que ouviram as parábolas de Jesus, mas estamos tão ameaçados pela audição desinteressada como qualquer um jamais esteve (Hebreus 5.11).
Nunca os cristãos possuíram tanta riqueza quanto os cristãos ocidentais hoje, o que apresenta muitas tentações para nós e ameaça nos destruir (1Timóteo 6. 9-10). E nunca os cristãos foram bombardeados com tantas e tão variadas distrações quanto nós. Excessivamente familiar, excessivamente rico e excessivamente distraído é uma receita para o tipo de audição desinteressada que muitas vezes se manifesta como sendo capaz de explicar o que Jesus quer dizer sem realmente nos levar a fazer o que ele diz.
É um falso consolo ser capaz de ensinar com precisão um texto se não o obedecermos, se funcionalmente nossas ansiedades e desejos carnais nos governarem, não os mandamentos e promessas de Jesus. Esta pode ser uma forma mais enganosa de audição desinteressada do que simplesmente não ouvir ou esquecer.
Preste muita atenção
“Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos”. (Hebreus 2. 1). Se não estamos prestando atenção, podemos nem perceber que estamos à deriva. Podemos olhar em volta e ver muitos outros cristãos distraídos e desinteressados, que falam sobre a conversa de Jesus sem andar nos passos de Jesus, acham que deve ser normal e presumem que estejam indo bem. A única maneira de sabermos se estamos prestando muita atenção ao que Jesus diz, da maneira que ele quer dizer, é se estamos realmente fazendo o que ele diz (João 14.15).
A vida cristã deve ser uma vida atenta (Marcos 13.37; Lucas 21.36; Efésios 6.18; 1 Tessalonicenses 5.6; 1Pedro 5.8). A vida cristã é uma vida ouvinte (Marcos 4.24; Lucas 8.21; João 10.27; Romanos 10.17; Hebreus 3.7-8). Mas a escuta atenta de Jesus não vem naturalmente. Deve ser cultivada e diligentemente guardada. E não há fórmula para como prestar mais atenção. Ela é cultivada tornando a atenção um hábito – praticando os hábitos da graça. Aprendemos a prestar atenção intencionalmente tentando prestar atenção. O Espírito nos ajudará se pedirmos ao Pai que nos ensine (Lucas 11.9-10; Salmos 25.4).
Então, seja o que for preciso, devemos prestar atenção ao que ouvimos. Pois os caminhos e palavras de Jesus são muitas vezes contra intuitivos, e vivemos em uma época destrutiva de distração. E tudo depende de quão bem estamos ouvindo Jesus.