Um blog do Ministério Fiel
Fé cristã e arte: o conceito de arte cristã
O que é arte cristã?
Algumas vezes definimos arte cristã pelo agente: como aquela que é produzida por cristãos. Outras vezes, a definimos por sua temática: como aquela que lida com “temas religiosos”. E outras vezes, a definimos por seu propósito utilitário: como aquela que se presta ao culto público e à evangelização.
Não é difícil, contudo, perceber que essas definições são insuficientes. O primeiro critério [agente] possui um nível tão alto de subjetividade que jamais nos permite apontar de maneira convicta que obra de arte seria verdadeiramente cristã. O segundo, por sua vez, parte de uma distinção entre sagrado e secular, que não se sustenta à luz do ensino bíblico, uma vez que a própria Bíblia está repleta de temas “não religiosos” nos termos considerados por esta tensão. O terceiro e último nos oferece uma definição segundo a qual não é possível apontar qualquer distinção substancial da arte cristã em relação à não cristã.
Esquematicamente, podemos dizer que a arte cristã possui as seguintes características:
1. Uma cultura cristã como berço. A arte é um reflexo da cultura. Isto significa que a produção de arte cristã pressupõe a existência de uma cultura cristã. O impacto da cultura sobre um artista é tão grande que, ao contrário do que costumamos imaginar, Schaeffer concebia a possibilidade de que um artista não cristão produzisse arte cristã por constrangimento cultural. Na verdade, ele distingue quatro tipos de artistas, levando em conta a relação com a cultura: o cristão coerente, o não cristão coerente, o cristão incoerente e o não cristão incoerente.
2. Reverberação da cosmovisão cristã. A arte sempre se desenrola dentro de uma moldura; a da arte cristã é a cosmovisão cristã: CRIAÇÃO/QUEDA/REDENÇÃO. Dentro desta tríade básica, podemos distinguir entre um tema maior e um tema menor. O maior é a esperança que procede da redenção, e o menor é a imperfeição do mundo rebelde, existente em virtude da queda. Eles são definidos como “maior” e “menor” no sentido de que um deve triunfar sobre o outro – a redenção sobre a queda. Neste particular, o artista cristão está sujeito a dois riscos, basicamente: o de enfatizar o tema maior em detrimento do tema menor e produzir arte romântica e o de focar o tema menor em detrimento do maior e produzir arte pessimista.
3. Opção por estilos adequados. Considerando que estilos não são invólucros neutros, a arte cristã deve valer-se de estilos que estejam adequados, tanto à temática interna da obra, quanto à cosmovisão que lhe funciona como moldura. Neste ponto, é preciso acrescentar que a arte cristã deve ser arte atual. “Não podemos supor que se um pintor cristão se tornar ‘mais cristão’ ele terá necessariamente de se parecer mais com Rembrandt” (A arte e a Bíblia, p.62). E que ela deve ser cultural, isto é, deve considerar os traços da beleza de Deus descobertos por graça, no contexto da cultura na qual é produzida.