Um blog do Ministério Fiel
Fé cristã e arte: o julgamento estético
Uma das implicações do fato de que a experiência estética possui uma dimensão normativa é que a arte pode ser julgada ou avaliada. Em A arte e a Bíblia, Francis Schaeffer apresenta quatro padrões de julgamento, que são, inicialmente, úteis. São eles:
1. Excelência técnica: o uso que um artista faz dos recursos à sua disposição e a habilidade no uso desses recursos. Eventualmente, podemos não concordar com a mensagem transmitida por uma canção, ao mesmo tempo em que reconhecemos a habilidade de um compositor no trabalho com as palavras e a música.
Não estaremos sendo verdadeiros com um artista como pessoa se desprezarmos sua arte simplesmente porque discordamos de seu ponto de vista. Escolas cristãs, pais cristãos e pastores cristãos têm se afastado de muitos jovens exatamente por causa disso. Por que escolas, pastores e pais, têm deixado de fazer distinção entre excelência técnica e conteúdo, grande parte das obras de arte de qualidade tem sido rejeitada com escárnio e chacota. Em vez disso, se o artista tiver alto nível de excelência técnica, ele deve ser reconhecido, ainda que discordemos de sua cosmovisão. As pessoas devem ser tratadas de maneira justa (SCHAEFFER, F. A arte e a Bíblia, p.53-54).
2. Validade: a honestidade do artista para com sua cosmovisão. Schaeffer entendia que a arte é algo sério demais para ser vivenciado apenas como meio de subsistência econômica. “Se o artista produz uma obra de arte somente por causa de um cliente – seja esse cliente um veterano ilustre, ou uma moderna galeria de arte à qual ele deseja ter acesso, ou os atuais críticos da arte – então seu trabalho não tem validade” (54).
3. Conteúdo: a cosmovisão refletida pela obra de arte. Neste ponto, Schaeffer levanta um aspecto interessante: quanto maior é a qualidade de uma obra de arte, mais importante deve ser a crítica ao seu conteúdo. Afinal,
“…quando algo falso ou imoral é expresso por meio de uma arte de alta qualidade, isso pode ser mais destrutivo e devastador do que se fosse comunicado por meio de uma arte de qualidade inferior ou de uma afirmação prosaica” (p.56).
4. Coerência entre veículo e conteúdo: relação harmônica entre o conteúdo comunicado pela arte e os suportes escolhido para a comunicação.
No julgamento estético devemos estar atentos para o risco de julgar um artista a partir de uma única obra de arte. Ninguém pode dizer tudo o que gostaria em uma única obra. Por isso, “devemos julgar o desempenho de um artista e sua cosmovisão com base no maior número possível de suas obras” (p.75).