Um blog do Ministério Fiel
A Bíblia: inspiração verbal ou inerrância?
O trecho abaixo foi extraído com permissão do Livro Eu Sou Volume 1, de Héber Campos, Editora Fiel.
Michaels prefere dizer que “inspiração verbal é um termo mais adequado para expressar uma doutrina viável da Escritura do que o termo inerrância”. Há muitos evangélicos que rejeitam a expressão inspiração verbal porque temem ser colocados entre aqueles que creem numa teoria mecânica do ditado.
De fato, é inapropriado dizer que as palavras que os autores bíblicos usaram vieram diretamente de Deus, mas os que creem numa inspiração verbal aceitam o fato de que, embora as palavras tenham sido usadas por homens, foram usadas pelo simples fato de que Deus quis que estivessem lá. Roger Nicole assinala:
Se Deus não guiou os escritores sagrados na escolha do material que decidiram incorporar ao seu próprio texto, então seria para sempre impossível distinguir entre o que é verdadeiramente Palavra de Deus e aquilo que pode ser simplesmente o registro acurado de uma fonte falível. No mesmo nível que material aparece endossado pelo escritor sagrado, deve ser visto como endossado por Deus também.
Os autores bíblicos agiram sob a “inspiração do Espírito Santo”, que fez com que registrassem exatamente o que Deus queria que eles registrassem. E as palavras usadas pelos escritores não é matéria de indiferença. Embora seja correto dizer da Palavra de Deus em palavras de seres humanos, essas palavras humanas são as palavras que Deus escolheu. Precisamente desse modo, e não de outro, Deus disse o que quis dizer. E, em qualquer caso, seria incorreto chamar a Bíblia de “livro de ideias inspiradas”. Ela é um livro de palavras, e não apenas de conceitos ou ideias… Falar de ideias inspiradas implica tornar a Bíblia alguma coisa diferente do que é e menos do que realmente é. Inspiração deve ser inspiração verbal.
Se Deus escolheu as palavras que os escritores usaram, podemos dizer, junto com os defensores da inerrância, que é desprovida de erros, porque Deus não erra naquilo que faz. Portanto, não há vantagem em usar o termo inerrância (que apresenta certas inconveniências), já que a inspiração verbal recobre todo o sentido atribuído pelos defensores da inerrância.
Inerrância, portanto, significa simplesmente que a Bíblia é a Palavra, ou as palavras de Deus. O que a Bíblia diz é o que Deus diz. Nesse sentido, inerrância realmente não acrescenta nada ao conceito de inspiração verbal. Chamar a Bíblia “Palavra de Deus” e chamá-la “inerrante” não são duas assertivas, mas uma só. Portanto, visto por esse prisma, não há necessidade de se dizer que se crê na inspiração verbal e na inerrância.
Não há, contudo, nenhuma objeção ao termo inerrância, contanto que seja usado simplesmente como sinônimo para inspiração verbal. No entanto, quando ele se torna (como acontece com muitos evangélicos modernos) uma espécie de segunda “mais alta” caracterização, ou uma caracterização mais ortodoxa da Bíblia, seu valor se torna questionável”. Imagine alguém dizer:
Primeiro, a Bíblia é a revelação de Deus verbalmente inspirada e, segundo, é de fato exata e sem erro — como se Deus fosse agradecido por ter nosso selo de aprovação de sua obra! Quando fizemos a primeira afirmação, dissemos tudo o que tinha de ser dito. A segunda assertiva, porém, não é somente anticlimática, como é algo que está além de nosso poder determinar com absoluta certeza, devido às limitadas ferramentas de que dispomos.
Não há justificativa, portanto, para o uso dos dois termos dentro de uma ortodoxia evangélica. Seria redundância. Se a Escritura é a Palavra de Deus, ou seja, se cremos em sua inspiração verbal, então deve ser inerrante. Se não é inerrante, então não poderemos considerá-la inspirada ou com plena de autoridade. “A vantagem do termo inspiração verbal é que ele aponta para Deus, afirmando que, em sua totalidade e em todas as suas partes, a Bíblia vem de Deus e expressa, palavra por palavra, o que Deus tenciona dizer.”