Um blog do Ministério Fiel
Casamento: um fim em si mesmo?
Em março deste ano, tive o privilégio de fazer as traduções da 4ª Conferência Fiel Mulheres, em que a palestrante internacional foi a Kathleen Nielson. Além dela, Renata Gandolfo, Hernandes Dias Lopes e Jonas Madureira foram muito usados por Deus para falar sobre verdades bíblicas acerca da idolatria dos nossos corações, e sobre quem de fato merece receber toda a nossa adoração. Foi um tempo incrível, éramos mais de 1.100 mulheres juntas, e já aviso: Fiel Mulheres 2020 já está com as inscrições abertas! Corre lá.
Aqui vou disponibilizar uma síntese dos pontos principais das preleções da Kathleen Nielson (algo que me foi inclusive pedido durante a conferência por algumas mulheres). Então, farei isso com duas de suas preleções: uma sobre casamento (ministrada no sábado à noite), e a outra que sobre o oposto da idolatria (proferida no domingo de manhã). A preleção do primeiro dia, que foi sobre a idolatria do corpo, eu recomendo que você leia o capítulo 7 do livro de sua autoria: O Que Deus Diz Sobre as Mulheres!
Portanto, já deixo claro, transparente e cristalino: esse texto não é meu! Somente a tradução e a síntese. Recomendo muito que assista às palestras da Conferência Fiel Mulheres 2019 no YouTube do Ministério Fiel, porque foram excelentes!
Enfim, sem mais delongas, com vocês: Casamento: um fim em si mesmo ou uma placa de sinalização?
Imagine a seguinte situação: você tira férias, e planeja ir à praia. Faz suas malas, separa tudo o que precisa, carrega o carro com toda a tralha necessária, e parte, rumo ao seu destino. Até que, no meio do caminho, você encontra uma placa de sinalização, indicando em qual direção deve seguir para chegar à praia. Você então encosta o carro, descarrega tudo, monta o guarda sol, passa protetor solar… senta na frente da placa, e passa as férias ali!
Não faria o menor sentido, faria? Exatamente. A placa não é o nosso objetivo ou destino, ela apenas aponta para ele.
Da mesma forma, somos encorajadas na Bíblia a não encararmos o casamento como um objetivo em si mesmo, mas sim como uma placa de sinalização, que aponta para uma realidade futura muito maior e melhor. Sendo assim, quando paramos diante dessa placa, “casamento”, e construímos nosso ídolo ali, ao invés de seguir adiante, na direção à qual essa placa nos aponta, estamos perdendo o principal. Precisamos conhecer o que nos espera lá na frente, porque apenas quando depositamos nossa esperança na realidade maravilhosa do porvir é que seremos motivadas a caminhar em direção a ela, ao invés de parar no meio do caminho.
Essa realidade, segundo a Bíblia, é a eterna união de Cristo com a igreja! É para isso que o casamento terreno nos direciona.
Em Apocalipse 19, vemos uma cena de grande regozijo no céu, quando um coro celestial celebra a união de Deus com o Seu povo – Cristo e a igreja. É uma festa, um banquete: O banquete de casamento do Cordeiro. Jesus é o Cordeiro perfeito, e a noiva é uma imagem do povo redimido de Deus, celebrando a conclusão do plano de Deus de se livrar de seus inimigos e estar conosco por completo, finalmente, e para sempre.
Veja Apocalipse 19:1-10:
“Depois disso ouvi nos céus algo semelhante à voz de uma grande multidão, que exclamava:
‘Aleluia! A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus, pois verdadeiros e justos são os seus juízos. Ele condenou a grande prostituta que corrompia a terra com a sua prostituição. Ele cobrou dela o sangue dos seus servos.’
E mais uma vez a multidão exclamou: ‘Aleluia! A fumaça que dela vem, sobe para todo o sempre.’
Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus, que estava assentado no trono, e exclamaram:
‘Amém, Aleluia!’
Então veio do trono uma voz, conclamando: ‘Louvem o nosso Deus, todos vocês, seus servos, vocês que o temem, tanto pequenos como grandes!’
Então ouvi algo semelhante ao som de uma grande multidão, como o estrondo de muitas águas e fortes trovões, que bradava:
‘Aleluia!, pois reina o Senhor, o nosso Deus, o Todo-Poderoso. Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua noiva já se aprontou. Para vestir-se, foi-lhe dado linho fino, brilhante e puro.’
E o anjo me disse: ‘Escreva: felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro!’ E acrescentou: ‘Essas são as palavras verdadeiras de Deus.’
Então caí aos seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: ‘Não faça isso! Sou servo como você e como os seus irmãos que se mantém fiéis ao testemunho de Jesus. Adore a Deus! O testemunho de Jesus é o espírito de profecia’.
Que imagem alegre! E que esperança podemos ter quando consideramos Cristo como nosso noivo final e definitivo!
O livro de Apocalipse usa literatura apocalíptica, que usa bastante linguagem simbólica, para comunicar verdades sobre realidades invisíveis que são tão maravilhosas que nós não conseguimos nem começar a entender de nenhuma outra forma. Apocalipse coloca Jesus tanto na figura de um leão como na de um cordeiro, para nos apontar para ilustrações do poder e da beleza daquele que se deu como sacrifício por nós – o Cordeiro – e que irá conquistar e reinar eternamente sobre todas as nações da terra – o Leão!
Quando se fala sobre o banquete de casamento do cordeiro, devo lembrar do quanto na Bíblia é falado sobre o Cordeiro: devemos pensar no cordeiro pascal, cujo sangue salvou o povo de Deus da morte no Egito; então, nos lembramos dos cordeiros sacrificados no templo do Antigo Testamento pelo pecado do povo; depois, vem aquele momento crucial em que João Batista aponta para Jesus e diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Finalmente, em Apocalipse, chegamos ao Cordeiro. Em Apocalipse 4, ele aparece como um cordeiro que parece ter sido morto – mas ele é um cordeiro no trono, vivo. E agora, em Apocalipse 19, o Cordeiro é o noivo!
Poderíamos traçar também um breve panorama sobre como o casamento aparece como ilustração de algo maior na Bíblia, desde Isaías, Oséias, e relatos nos Evangelhos, todos apontando pequenos vislumbres do que Ele pretendia mostrar: a beleza de homens e mulheres se ajuntando, em uma perfeita união, para adorá-lo e servi-lo. E essa união aponta para aquela que teremos um dia com Cristo! Então, desde o início, precisamos entender: Deus criou o casamento para simbolizar a união entre Cristo e a igreja.
Por isso, fazer do casamento um fim em si mesmo é o mesmo que encostar à beira da estrada e tomar sol olhando para a placa de sinalização!
Veremos cinco advertências sobre os perigos de tornar essa imagem temporária do casamento um ídolo, tomando o lugar da realidade eterna para a qual ela aponta.
Primeiro Perigo
Podemos esquecer a primazia da igreja como sendo a nossa eterna identidade
Em Apocalipse 19, o ajuntamento no céu é de uma grande multidão, e são mencionados especificamente os 24 anciãos e os quatro seres viventes ao redor do trono. Esta enorme reunião claramente inclui todas as hostes do céu e todos os humanos que foram salvos e fizeram parte do povo de Deus desde o início até o fim da história humana. É toda a igreja reunida, para louvar a Deus por receber sua noiva.
Este casamento é o que retrata nossa gloriosa identidade final. Não as identidades temporárias que recebemos aqui na terra em função dos papeis que desempenhamos: esposa, casada, solteira, viúva… no que você se baseia para definir a sua identidade? Devemos sempre nos lembrar da importância de abraçar, pela fé, a identidade que iremos carregar até a eternidade: somos membros do corpo de Cristo, a igreja.
Segundo Perigo
Procurar obter plena satisfação no lugar errado
O versículo 6 de Apocalipse 19 descreve a canção do banquete das bodas do Cordeiro como “a voz de uma grande multidão, como o estrondo de muitas águas e como o som de fortes trovões”. É muito alto! Mais alto do que qualquer um que já ouvimos antes.
Esta é, claramente, uma imagem da maior alegria que podemos imaginar, pois nos regozijaremos em Cristo, nosso esposo celestial, o Cordeiro que morreu para nos tornar seus.
Nesse sentido, mesmo os melhores e mais bem-sucedidos casamentos terrenos oferecem apenas uma minúscula imagem dessa alegria intensa e imensa, que será compartilhada entre Cristo e sua igreja, para sempre.
Em Apocalipse 21, tem-se a descrição da nova Jerusalém, descendo do céu, da parte de Deus, “preparada como uma noiva adornada para o seu marido”. Dr. Carson, em determinada ocasião, estava ajudando um grupo a ver a imagem dessa cidade reluzindo com joias preciosas como uma noiva, e então tirou um tempo para considerar a promessa de realização alegre que esta imagem coloca diante de nós, quer sejamos casadas ou não. Ele disse o seguinte:
“Para vocês que são solteiras, sei que a solidão pode ser difícil. Mas, se você pertence a Cristo, daqui a cinquenta bilhões de anos nunca passará pela sua cabeça dizer: ‘Eu fui injustiçada, porque nunca me permitiram desfrutar do casamento’. A intimidade que você desfrutará no novo céu e na nova terra como parte da igreja, que é a noiva de Cristo – nem sequer temos a linguagem para descrevê-la. Será uma intimidade tão irresistível e alegre, que mesmo o casamento mais maravilhoso perde o brilho se comparado a ela”. (Here is our God, p.199)
Ou seja, se colocarmos o casamento como o ídolo de todo o nosso desejo por realização, nós estamos perdendo totalmente a dimensão da glória para a qual ele meramente aponta. Ao buscarmos nossa satisfação plena em Deus, e não na condição de nosso estado civil, temos a certeza de uma gloriosa cerimônia e banquete eternos!
Terceiro Perigo
Podemos minar o valor real do casamento
O fato de que Deus estabeleceu o casamento como um sinal temporário que aponta para uma realidade eterna não denigre o seu valor nem sua importância!
Em Mateus 19, é citado Gênesis 2, “por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne”. Depois, Jesus ainda acrescentou, no versículo 6, “o que Deus uniu, ninguém separe”.
Existe um mistério para o casamento que simplesmente não podemos compreender, a menos que o relacionemos com o mistério de quem Deus é e o que Ele fez por seu povo. Quando percebemos esse mistério, nos deleitamos ainda mais profundamente na beleza da imagem que nos aponta para ela. Mas, quando nós perdemos esse mistério eterno para o qual o casamento aponta, nós podemos minar o seu valor!
Veja, podemos melhorar na divisão de tarefas domésticas, podemos nos esforçar para melhorar a comunicação, podemos marcar encontros a sós com nossos cônjuges, com o intuito de reavivar o romance… mas, se focarmos somente na placa de sinalização, e não na realidade eterna, estamos de novo presas no acostamento na estrada, tomando sol no lugar errado!
O valor e a beleza de um bom casamento vem de sua conexão com Cristo. Nesse sentido, nossa maior necessidade não é só focar nos muitos princípios que devem reger o casamento e a feminilidade, por mais importantes que sejam, e por mais que de fato precisemos aprender sobre eles. De acordo com Paulo em Filipenses 3.10-11, nossa maior necessidade é “Conhecer Cristo, o poder de sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos”.
Isso dá um valor eterno ao casamento. Torna o casamento valioso diante de uma cultura que constantemente o despreza, ou busca redefini-lo. E o torna valioso para qualquer fiel, casado ou não, porque simboliza nossa esperança eterna em Cristo.
Quarto Perigo
Podemos perder a oportunidade de testemunha o evangelho
Que mensagem estamos transmitindo através da forma como tratamos o casamento – o nosso, ou o dos outros?
Nossos casamentos pregam uma mensagem, uma mensagem celestial. Em Apocalipse 19, a festa de casamento é um grande evento “social”, assim como são os casamentos hoje. Hostes celestiais, todos reunidos, muitos convidados entoam “Aleluia! A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus”. Eles seguem reconhecendo que verdadeiros e justos são os seus juízos e, então, como num estrondo crescente no versículo 6, vem a alegria e a exultação no casamento do Cordeiro.
Esta é toda a história da salvação cantada aqui nas cortes dos céus, com Cristo e sua igreja no centro. Esse casamento final, que há de vir, nos ensina o que dizer no meio dos casamentos agora.
Um casamento centrado em Cristo, e uma visão do casamento centrada em Cristo, se destaca muito nos dias de hoje! Em vez de compartilhar nosso orgulho em nós mesmas e em nossas realizações, ou então nossa amargura e decepções, que tal comunicarmos nosso amor e esperança em Cristo como seu povo redimido?
E se nós revelarmos nossa fraqueza, nosso merecimento da soberana ira de Deus, e ainda, o Seu resgate através do Cordeiro que morreu, mas que vive, e que nos espera naquele glorioso dia?
Quinto Perigo
Podemos perder de vista a preciosa graça de Deus, em Cristo Nosso Senhor
Por último, veja Apocalipse 19:9 – “Felizes os CONVIDADOS para o banquete de casamento do Cordeiro”. E sobre as vestes da noiva, o trecho diz, no versículo 8: “Para vestir-se, FOI-LHE DADO linho fino, brilhante e puro”.
A noiva se vestiu – mas FOI-LHE DADO o que vestir: linho fino, brilhante e puro – os atos justos dos santos – pela graça de Deus.
Pela graça de Deus, nós como povo de Deus somos vestidas pela justiça de Cristo – e recebemos poder do Seu Espírito para servi-lo com boas obras, obras que foram preparadas de antemão pode Deus para que as façamos, como povo seu. Esta é a imagem do casamento, com a noiva de Cristo vestida em sua justiça. Foi assim que Cristo tornou a sua igreja pura, bela e sua, eternamente.
Sem a graça de Deus, seríamos como a mulher julgada em Apocalipse 18, debaixo da ira de um Deus verdadeiro de justo. Mas, através da Sua graça, somos convidados a ser a noiva de Apocalipse 19, ansiando por aquele banquete final de casamento, conhecendo Sua graça e, até esse dia chegar, falando sobre ela.
O trecho de Apocalipse 19 termina de forma interessante. João parece um pouco atordoado diante da visão tão alegre desse banquete, e ele cai aos pés do anjo para adorá-lo.
Veja a resposta do anjo no versículo 10: “Não faça isso! Sou servo como você e como os seus irmãos que se mantém fiéis ao testemunho de Jesus. Adore a Deus! O testemunho de Jesus é o espírito de alegria”.
Em outras palavras: tudo isso é sobre Jesus. Devemos direcionar nossa adoração tão somente ao trono celeste. Adore a Deus, diz o anjo. Não adore mais nada nem ninguém. Não pare diante da placa de sinalização. Livre-se dos ídolos. Adore a Deus.