Mãe, não esqueça do seu agasalho

*O trecho abaixo foi extraído com permissão do Livro Sem Medo da Minha Idade, Elyse Fitzpatrick, Editora Fiel.

Nossa linda árvore irradiava uma beleza luminescente. Os enfeites de cristal, ouro e vermelho borgonha brilhavam enquanto o aroma do pinheiro enchia nossas casas. Os presentes eram cuidadosamente embrulhados e colocados debaixo da árvore. Já estava tudo preparado, mas a tia Marion não estava presente. Na véspera de Natal, nossa querida tia-avó sofreu um derrame sério que a deixou quase completamente incapacitada e inconsciente de onde ela estava. Todos os enfeites estavam no lugar, mas esse ano nosso Natal estava diferente. Faltava a tia Marion. Naquele dia de Natal, nossa família se reuniu para celebrar um nascimento, mas, ao mesmo tempo, estávamos vivendo à sombra de uma morte iminente. Um membro da família não estava conosco e provavelmente nunca mais estaria. Como a tia Marion nunca se casou, nossa casa e família estendida se tornaram sua família imediata. Ela estava sempre no meio de nossa família, frequentando cada aniversário e celebração de feriado desde a sua aposentadoria, trinta anos atrás. Nós sentimos sua falta naquele dia — e agora sentimos ainda mais.

Logo após sofrer o derrame, ela foi submetida a cuidados paliativos. Algumas adoráveis enfermeiras iam até a sua casa e cuidavam dela, aguardando a chegada de um hóspede indesejado. Ela recebia a visita das enfermeiras duas vezes por semana. Elas davam banho nela, monitoravam seus sinais vitais e davam instruções para as cuidadoras de tempo integral. Aprendemos que os cuidados paliativos eram o sinal de que o fim estava próximo: ela teria menos de seis meses de vida. Com a chegada da equipe hospitalar, acabaram-se as expectativas de que ela poderia melhorar e nosso objetivo passou a ser a aceitação. Nossa preocupação era que ela tivesse o máximo de conforto possível e que nossos corações e o coração dela estivessem preparados para o inevitável.

No final de fevereiro, sua condição se agravou. Ela quase já não tinha mais períodos de lucidez, vendo-se perdida em seus pensamentos em privado. Ela passava horas conversando com membros da família que haviam falecido antes dela, dando risadas e dialogando com o invisível. “Eles querem que eu vá com eles”, disse ela à minha mãe, “mas eu sei que não devo partir antes da hora”. Ela cantava e orava a Deus, e recebeu a visita de seu pastor. Na ocasião, ele cantou “It is well with my soul” [Está tudo bem com a minha alma] para ela, e ela pediu que ele cantasse novo. Nós cremos que o Senhor estava trabalhando em sua alma, graciosamente preparando-a para o céu e libertando-a de seus vínculos na terra.

Como a minha mãe se dedicara a cuidar dela em tempo integral, fiquei encarregada dos preparativos para o funeral. Então, fui até o necrotério que escolhemos e me encontrei com o diretor da funerária. Fizemos algumas escolhas. As informações pessoais dela foram registradas. Eu escrevi uma carta que seria enviada à família e aos amigos dela, e preparei uma lista de correspondência. Ajudei minha mãe, que era sua executora testamentária e procuradora, na tomada de decisões. Estávamos tentando nos preparar e também preparar nossa família.

No começo de março, a equipe paliativa incentivou minha mãe a remover o tubo de alimentação que estava sustentando a tia Marion. “Você acredita que é a coisa certa a ser feita?”, perguntou ela à enfermeira-chefe, que respondeu gentilmente: “Nós só estamos dando continuidade a essa alimentação por sua causa”. Então, minha mãe e eu tomamos a decisão, o tubo de alimentação foi removido e o foco passou a estar cada vez mais centrado nos acontecimentos da casa dela.

Pouco antes de ela morrer, decidi passar na casa dela à noite, para ver como estava. Fiquei horrorizada ao chegar e encontrar a cuidadora na cama com o namorado. Esse evento impensável foi simplesmente o último de uma série de decepções (como, por exemplo, o roubo dos pertences da minha tia) que tivemos com algumas dessas mulheres (não todas). Não é preciso dizer que a demitimos na mesma noite e contratamos outra enfermeira. Daquela noite em diante, passamos a fazer visitas inesperadas para monitorar se minha tia estava sendo bem cuidada.

No dia 8 de março, à uma e quinze da madrugada, o Senhor recolheu nossa tia para si. No meio da madrugada, eu dirigi até sua casa, onde estavam minha mãe e uma cuidadora fiel que cuidou dela por mais de três anos. Então, entrei no quarto que se tornara o mundo dela. Lá estava ela, olhando nos meus olhos, exatamente como estava havia dias. Eu olhei para ela, esperando que ela inspirasse. Ela estava paralisada. Segurei sua mão. Estava gelada. Passei as mãos em seus cabelos e me sentei do lado de sua cama. Abracei minha mãe e oramos juntas. A Marion que nós amávamos não estava mais entre nós, somente seu corpo. Era hora de cuidar de sua casa temporal, que Paulo chamou de “tabernáculo terrestre”.

Como a tia Marion estava sob cuidados paliativos, não foi necessário que o legista levasse seu corpo para o necrotério. O que fizemos foi ligar para o serviço de cuidados paliativos, que, então, enviou uma enfermeira. Quando ela chegou, verificou os sinais vitais da Marion, registrou o horário da morte, jogou fora os remédios, ligou para o legista e para a funerária e perguntou se queríamos que ela orasse conosco. Foi realmente um alívio que cada uma dessas tarefas necessárias, porém intimidadoras, tenha sido realizada por alguém que tem familiaridade com o processo.

Minha mãe e eu fomos até a sala esperar a chegada dos representantes da funerária. Nós conversamos sobre a vida da Marion e a certeza que tínhamos de que ela estava descansando nos braços de seu Salvador. A campainha tocou e, depois de uma rápida conversa e de responder a algumas perguntas, os funcionários da funerária pegaram uma maca. “É melhor que vocês fiquem aqui na sala de estar”, recomendaram eles. Nós obedecemos. Depois de alguns instantes, eles reapareceram carregando o corpo de nossa tia, coberto com um pano de veludo verde. Eu fiquei olhando enquanto eles saíam com ela pela porta da frente, uma porta pela qual ela jamais voltaria a passar, uma porta que fora agraciada com sua presença por mais de três décadas. A porta, então, se fechou e eu ouvi o carro partir. Nós só voltaríamos a ver seu corpo no funeral, cinco dias depois. Ela se fora.

O falecimento de um ente querido é um momento surpreendentemente complicado e estressante. Não é estressante somente por causa da dor que experimentamos; é estressante porque precisamos fazer muitas coisas e há tantas decisões que precisamos tomar.

Deus foi bondoso conosco em nos dar tempo para nos preparar. A ideia de ter de se preparar em meio à tristeza é assustadora. No final deste capítulo, incluí uma lista de pessoas que devem ser contatadas e as providências que devem ser tomadas quando essa hora chegar. Também incluí uma lista de versos bíblicos que talvez você considere útil.

Sem medo da minha idade

Sem Medo da Minha Idade foi escrito para mulheres nos anos intermediários da vida. À medida que envelhecemos, nos perguntamos sobre as muitas mudanças que ocorrem em nossos corpos, casas e ritmo de vida. Como fazemos os ajustes necessários? Como lidamos com a menopausa, o ninho vazio e o tempo livre de aposentadoria? Elyse Fitzpatrick nos mostra como nossa fé pode estar no centro de como respondemos a todas essas transformações. Com humor, transparência e sabedoria bíblica, ela nos ajuda a ver que o propósito de Deus em nos fazer atravessar essas mudanças é nos santificar e glorificar a si mesmo.

Confira

Por: Elyse Fitzpatrick. © Editora Fiel. Website: editorafiel.com.br. Trecho extraído com permissão do livro: Sem Medo da Minha Idade.

Original: Mãe, não esqueça do seu agasalho. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados.