“Fuja e nunca mais volte”

Como os vilões deixam as cicatrizes mais profundas

Os vilões mais perigosos falam. Isso serve como uma sólida apologética ao poder das palavras.

Os piores vilões são falantes. Eles não roncam e resmungam de forma desarticulada quando derrubam prédios – eles observam, planejam, esperam, sorriem. Embora interpretações sem inspiração destruam o monstro da sofisticação de Frankenstein, Mary Shelley nos deu um antagonista verdadeiramente horrível: uma criatura forte, inteligente e falante, capaz tanto do bem quanto do mal, amor e ódio. Os parafusos no pescoço, o grunhido confuso, é uma paródia da verdadeira vilania.

Scar, no querido Rei Leão da Disney, não é uma paródia do mal. Ele é um vilão arquetípico, não apenas um bruto selvagem. Isso era algo difícil de ver para mim como criança. Ele me deixava nervoso. Não importava o quanto eu gritava para a tela, Mufasa e Simba não conseguiam ouvir meus avisos. Eu adorava ver os Power Rangers, Tartarugas Ninja e Batman combaterem o mal, mas ver alguém ser esfaqueado pelas costas me atingiu com um “nervoso” diferente. O grito aturdido de “Et tu Brute?” Corta a vítima e o expectador.

O mentiroso devora a mente e o espírito de sua presa. Ele visa a alma, não apenas o corpo. Os mentirosos usam suas palavras para transformar a força de suas presas contra elas mesmas. Eles fingem inocência em sua astúcia: “Deus realmente disse”? Eles balançam a cabeça e sorriem quando dizem: “É certo que não morrereis”. Eles atraem (não empurram) sua vítima para fora do penhasco: “Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”.

Scar, como o maior adversário da humanidade, não oprime; ele engana. Seu sussurro, não sua mordida, é que arruína as almas.

Nas Terras do Reino

Era sabido por todos, nas “Terras do Reino”, que Mufasa era o rei. Ele era o majestoso e benevolente alfa: o justo, o severo, o terno. Tal como acontece com os melhores governantes, seu rugido soava como o mais feroz, e seu riso o mais sincero. Ele era um rei digno do nome.

Mas nem todos recebiam bem seu reinado. Sozinho, alguém se mantinha nas sombras. O irmão mais novo de Mufasa, Taka, recebeu seu apelido de “Scar” (Cicatriz), depois de ter sido golpeado em seus olhos durante um ataque fracassado à vida de Mufasa. Em seu golpe fracassado, a lenda do leão imita a verdadeira história do dragão: “E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos”.(Apocalipse 12. 9).

Anos após a fracassada tentativa de assassinato, o Rei Leão pega Scar, ainda em segundo na fila (e inexplicavelmente o único outro leão masculino nas Terras do Reino), aguardando o momento, esperando nas fendas das montanhas, para ser entronizado. Sua estratégia muda, no entanto, com o nascimento de Simba, o novo herdeiro do trono. O cetro, nunca possuído, atrai Scar de volta às antigas tramas.

Mas Scar é prudente. Ele não vai atrás de Mufasa – ou mesmo de Simba – sozinho. Ele conspira com hienas em sua primeira tentativa de matar o filhote. Ele o atrai, sempre de maneira indiferente, a entrar no cemitério dos elefantes. Ele consegue, mas Mufasa resgata seu filho.

A próxima tentativa na vida de Simba é o evento definidor do filme. Scar e companhia atraem Simba para os desfiladeiros, incitando uma debandada de gnus, na qual Mufasa se empenha para salvar seu filho novamente. Mufasa resgata Simba, escapando do penhasco onde Scar, do topo, observando tudo se desdobrar, vê sua oportunidade. Vendo Mufasa vulnerável, ele requer sua vingança, cravando suas garras nas patas de Mufasa e jogando-o para baixo do penhasco. Simba encontra seu pai abaixo do desfiladeiro, morto.

Scar agora tem que improvisar. O que fazer com Simba, o legítimo herdeiro?

Acusador dos Irmãos

Tendo acabado de atirar seu irmão para a morte, o assassino derrota Simba usando suas palavras. Ele o acusa. Simba é o responsável pela morte do pai. Ele ataca sua identidade: como ele pode ser um filho adequado ou governante do reino? Ele deve banir a si próprio e nunca mais voltar. Ele induz o jovem filhote ao pânico, concluindo: “Fuja Simba. . .. Corre. Fuja e nunca mais volte.

Isso soa familiar?

O nome de Satanás significa literalmente “acusador”. Ele é aquele que acusa os crentes dia e noite diante de Deus (Apocalipse 12.10). Como Scar, o maligno orquestra muitas tentações, constantemente tentando nos atrair com falsas promessas para os desfiladeiros. Encontrando um aliado na natureza do homem, ele sugere, espera e observa – pronto para nos acusar no momento em que caímos.

Você tem ouvido a voz dele recentemente? Ele está sempre pronto para condenar todo fracasso e envergonhar todo pecado. Você fez isso de novo, eu vi. Como você pode realmente se considerar um filho do rei? Fuja e nunca mais volte. Como Scar, Satanás lhe diz mentiras para tentar fazer você se banir a si mesmo do reino dos céus porque ele não pode removê-lo à força.

Quando Satanás diz a verdade

Satanás nem sempre precisa mentir. Ele vai forçar até mesmo a verdade de seus lábios, a fim de nos amaldiçoar. E, ao contrário de Simba, somos culpados. De pé diante do Juiz justo, o promotor infernal aponta para pecados reais e clama por nossa condenação. Qual é a nossa defesa contra suas mentiras e verdades? Jesus.

Nosso Rei, nosso Mufasa investiu contra a debandada, subiu a rocha para Scar derrubá-lo e suportou nosso castigo de um Pai que o “moeu”. Seu grande ato, nos desfiladeiros do Gólgota, levou à nossa posição de direito. e a vida diante de Deus (Romanos 5. 18). Cristo sofreu uma vez pelos nossos pecados, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus (1Pedro 3.18). Ele nos libertou ao custo de sua vida por causa de seu grande amor. E ele não permaneceu imóvel no vale.

Scar odeia isso. Se ele mente aos incrédulos que eles não estão doentes e, portanto, não precisam de um Salvador, ele diz aos crentes que esse sacrifício não foi suficiente, que Deus não os perdoará, que seu pecado é muito grande, que seus pecados são muitos, que eles não são realmente filhos – que Deus franze a testa e tapa  o nariz quando se aproxima de nós.

A Canção de Mufasa

Simba, como muitos que não ouviram a voz da verdade como nós, viveu longe de seu reino, se alimentando de vermes e cantando “Hakuna Matata”. Sua vergonha o fez negar quem ele era. Ele vivia como um javali e um suricato.

Se Satanás não pode nos destruir definitivamente, se ele não pode definitivamente nos roubar a vida que o Espírito deu ou a graça que Deus concedeu, se ele não pode desfazer a nova criação, ou fazer com que você morra como um filho da ira, ele quer banir você para a selva, longe da voz de Deus, longe do seu propósito. Se você tem “poder de ser feito filho de Deus” Deus (João 1.12), ele quer envergonhar você para que não exerça esse poder.

Nala, uma leoa, encontra Simba no exílio, sem saber quem ele é. Ele fugiu de sua identidade, de sua família, de sua vocação. E ele, como muitos de nós, precisa ouvir alguma coisa. Precisamos ouvir uma voz diferente. As palavras de Mufasa trouxeram Simba para casa. Mufasa nos fala hoje: Você é filho. Você é luz. Você é sagrado. Você está perdoado. Você é novo. Levanta-te e não peques mais.

Ele expõe mentiras. Adverte contra o pecado. Ruge o seu amor por seu povo. Hoje, se você ouvir sua voz, não endureça seu coração e nem permita que Satanás silencie suas palavras com acusações sobre o pecado perdoado. “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e intercede por nós”. (Romanos 8. 33,34). Levante-se da sua culpa. Levante-se do seu pecado. Levante-se do seu chiqueiro – eles não são lugar para um príncipe ou princesa do rei. Mostre-se na planície do safári e ele correrá ao seu encontro com um anel, um manto e uma canção de amor.

Por: Greg Morse. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Run Away and Never Return.

Original: “Fuja e nunca mais volte”. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.