Um blog do Ministério Fiel
Quando sinais tornam-se o destino
Imagine que você está dirigindo na estrada para curtir suas tão esperadas férias na praia com a família e amigos. Imagine agora que as pessoas que estão com você no carro, quando veem a placa indicando o caminho para a praia ficam tão alegres e motivadas ao ponto de pedirem para parar o carro a fim de poderem tirar algumas fotos. Mas não só isso. Elas também pegam o guarda-sol, fincam-no na beira da rodovia, posicionam algumas cadeiras, passam o protetor solar, retiram alguma comida e bebidas do isopor, começam a conversar entre si e demonstram-se plenamente satisfeitas por estarem ali ao lado da placa que nada mais é do que um sinal de onde você, até então, pretendia chegar.
Tal situação seria incompreensível e constrangedora, não é mesmo? Por que alguém iria preferir um sinal ao objeto real que ele indica? Pois bem, é exatamente isso que vemos com frequência em determinadas igrejas. Há crentes que buscam bênçãos, milagres, emoções, e deixam a Deus e a Sua Palavra, que deveriam ser o motivo de irem ao culto, em segundo plano. Não é raro ver reuniões cristãs em que a Bíblia não é lida e muito menos pregada. O mais espantoso é que as pessoas vão embora satisfeitas, tendo desfrutado apenas das coisas que são meros sinais, fazendo destes, literalmente, sua motivação última.
O Evangelho de Marcos 16.17-18 relata que Jesus, ao proclamar a grande comissão e antes de ser recebido nos céus, assentando-se à destra de Deus, disse aos Seus discípulos: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados”. Veja que todos esses acontecimentos sobrenaturais são classificados por Jesus como sinais.
A palavra no grego traduzida para sinais é σημεῖον (sēmeíon), para a qual encontramos a seguinte definição: “Sēmeíon – um sinal (tipicamente miraculoso) dado especialmente para confirmar, corroborar ou autenticar. Sēmeíon, então, enfatiza o fim-propósito que exalta aquele que o concede. De acordo, é usada dezenas de vezes no Novo Testamento para aquilo que autentica o Senhor e Seu propósito eterno, especialmente fazendo o que o mero homem não pode replicar ou levar os créditos”.[i] Ora, isso significa que os sinais são meras indicações de algo maior e mais importante realizado por alguém maior e mais importante.
Deixe em suspenso o mérito da discussão acerca da continuidade ou não dos dons espirituais. Fato é que todo cristão tem testemunhos de respostas de oração, de livramentos, e acontecimentos em suas vidas que só podem ser explicados pela ação sobrenatural de Deus. Esses são sinais. Milagres fazem parte da história da redenção na Bíblia, e também de nossa própria redenção pessoal, a começar pelo nosso novo nascimento e conversão, e, depois, nós podemos percebê-los em nossa caminhada com Deus toda vez que O vemos agindo em nosso favor, seja com aparência espetacular ou não. O que deve ser destacado e sempre lembrado, porém, é que, acima de tudo, esses sinais apontam para Jesus e dão autenticidade à Sua Palavra. Não são, portanto, fins em si mesmos, mas são como placas na estrada, que apontam para um destino e indicam realidades espirituais além deles.
A fim de demonstrar o ponto mais claramente, trazemos quatro exemplos bíblicos: um do Antigo Testamento, um dos Evangelhos, e outros dois do livro de Atos dos Apóstolos.
II Reis 5 nos conta a história de Naamã, comandante do exército do Rei da Síria, um homem poderoso e respeitado de sua época e que possuía uma escrava israelita. Ele estava tomado de lepra, e a menina cativa, de quem nem mesmo sabemos o nome, fala para a esposa do comandante a respeito do profeta que poderia curá-lo. Após buscar Eliseu através do rei de Israel, e seguir a orientação que lhe foi dada de se banhar sete vezes no Rio Jordão, mesmo tendo primeiro resistido, Naamã foi curado, e viu sua pele ser restaurada como a de uma criança. Voltando a Eliseu, ele disse: “Eis que, agora, reconheço que em toda a terra não há Deus, senão em Israel”.
Lucas 17.11-19 nos fala dos dez leprosos que foram curados no caminho para se apresentar ao sacerdote, conforme Jesus lhes ordenou. Ocorre que só um voltou para dar glórias a Deus, ao que Cristo lhe falou: “Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”.
O livro de Atos relata alguns milagres realizados pelos apóstolos, dos quais dois são bastante ilustrativos. No capítulo 13, há a história da conversão de Sérgio Paulo, governador da ilha de Chipre. Quando Paulo e Barnabé chegaram para lhe expor o evangelho, um de seus magos, Barjesus, se opôs à pregação, e pela repreensão de Paulo, ficou imediatamente cego. Ao final, “o procônsul, vendo o que sucedera, creu, maravilhado com a doutrina do Senhor”.
Em Atos 20.7-12, temos a história do jovem chamado Êutico, que adormeceu durante o prolongado discurso de Paulo, e caiu da janela no terceiro andar de onde estava sentado, vindo a falecer. Paulo desceu, inclinou-se sobre o rapaz, trouxe-o de volta à vida, e “subindo de novo, partiu o pão, e comeu, e ainda lhes falou largamente até ao romper da alva”.
O que há em comum entre todos esses relatos bíblicos, senão a pouca importância dada aos milagres por quem os recebeu frente a Deus que os concedeu? Os únicos que se satisfizeram somente com os milagres foram os nove leprosos que não voltaram para Jesus, e que, se não se arrependeram mais tarde em suas vidas, tudo nos leva a crer que estão hoje no inferno. Os demais buscaram algo mais que as bençãos, e celebraram Aquele que as operou. Naamã reconheceu que “em toda a terra não há Deus, senão em Israel”. O leproso estrangeiro que voltou para dar glória a Deus foi declarado salvo mediante a fé por Jesus: “Levanta-te e vai! A tua fé te salvou”. Sérgio Paulo não se maravilhou com o milagre que viu, mas sim com o ensinamento que ouviu: “vendo o que sucedera, creu, maravilhado com a doutrina do Senhor”. E os que estavam na casa em que Êutico foi ressuscitado, não começaram uma reunião de sinais e maravilhas, mas subiram de volta para o terceiro andar para desfrutar ainda mais dos meios de graça: partiram o pão e continuaram ouvindo da Palavra de Deus pela boca de Paulo, que “ainda lhes falou largamente até o romper da alva”, ou seja, da meia-noite, quando o rapaz caiu e foi ressuscitado, até o amanhecer.
Voltando à analogia do início deste texto, alguns preferem as placas na estrada ao destino que elas indicam. São pessoas que amam mais as bênçãos do que a Deus. Entretanto, cristãos de verdade e espiritualmente maduros têm sede de Cristo e de sua Palavra, e não se ocupam em busca de acontecimentos extraordinários, ainda que os celebrem quando os presenciam ou os experimentam. Fato é que onde o Espírito Santo está atuando, Ele usa o extraordinário para autenticar a pregação diante do incrédulo, fortalecer a fé dos que já creem, e, principalmente, apontar para Cristo, conforme o próprio Jesus falou em João 5.36: “porque as obras que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço testemunham a meu respeito de que o Pai me enviou”; e como João também remarcou em 20.30-31, já se encaminhando para a conclusão do seu Evangelho: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”.
Assim, os que se satisfazem apenas com os sinais, fazem deles o seu destino final, e, esquecendo-se de regozijar no Deus que os concede, não crescem no entendimento de Sua vontade que se dá através de Sua Palavra, a Bíblia. Esses, infelizmente, tendem a ficar no meio do caminho. Não chegarão ao destino e nunca desfrutarão, portanto, da realidade maior para a qual os sinais apontam, a vida eterna em Cristo Jesus.
[i] Word-studies, 4592. Helps Ministry Inc. Tradução minha.