Um blog do Ministério Fiel
O Espírito Santo não vai pregar no seu lugar
Como o ato natural de pensar se torna a ocasião para a experiência sobrenatural da adoração autêntica – ver, experimentar e mostrar a beleza e o valor de Deus? Deixarei o apóstolo Paulo mostrar a resposta.
Em Romanos 5.3–5, Paulo acaba de defender que os cristãos se regozijem com o sofrimento. Seu argumento (e note que é realmente um argumento lógico!) É assim: “… nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde”.
Depois vêm dois argumentos sobre por que a esperança não nos confunde. A relação entre esses dois argumentos traz implicações espetaculares para a pregação e a maneira pela qual os meios naturais, como o pensamento racional e a observação histórica, tornam-se a ocasião para experiências sobrenaturais da beleza e do valor de Deus.
Quando falo de meios naturais, incluo não apenas a argumentação lógica, mas também a observação histórica. O princípio por trás de como Deus faz com que os meios naturais sirvam à experiência sobrenatural é o mesmo para a lógica e a história. No argumento de Paulo sobre porque a esperança não nos envergonha, a interseção entre o natural e o sobrenatural é entre a observação histórica e a obra do Espírito Santo, dando-nos um senso sobrenatural do amor de Deus.
“Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado. Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios”. (Rm 5.5,6).
A Experiência sobrenatural do amor de Deus
O primeiro argumento de Paulo sobre por que a esperança não nos confunde é que o Espírito Santo está presente em nós (“nos foi outorgado”); e o que ele faz em nós é tornar real o amor de Deus. Esse não é um mero fato que aprendemos da Bíblia. É uma experiência real que temos hoje. “O amor de Deus foi derramado em nossos corações através do Espírito Santo”. Isso realmente acontece em nossos corações. É uma prova sensível e segura do amor de Deus por nós, porque Deus, o Espírito Santo, está em nós, dando-nos essa prova do amor de Deus.
Portanto, a primeira maneira de Paulo nos mostrar por que nossa esperança não vai nos decepcionar é dizer que Deus nos dá uma verdadeira experiência sobrenatural para confirmar nossa esperança. É sobrenatural porque é dado através do Espírito Santo, que é sobrenatural. É isso que pretendemos em nossa pregação – experiências sobrenaturais, transformadoras e radicais que fortaleçam a beleza e o valor de Deus, incluindo seu amor por nós.
Nossa pregação não tem como objetivo a mera transferência de informações, a mera persuasão às verdades doutrinárias ou a mera excitação humana sobre Deus. Nosso objetivo é a experiência autêntica do próprio Deus, dada pelo Espírito – neste caso, como Paulo chama aqui, o derramamento do amor de Deus em nossos corações através do Espírito Santo (Rm 5.5).
Um terreno natural para uma experiência sobrenatural
Mas então Paulo faz algo em Romanos 5.6 que tem enormes implicações para a pregação. Ele dá o terreno, ou base, para a experiência sobrenatural. E é uma base natural. Uma base histórica. Podemos ver o fundamento na palavra “porque” (grego gar) com a qual o versículo 6 se inicia. “… o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado. Porque …”. O que torna essa base tão impressionante é que é a declaração de um fato histórico, juntamente com uma interpretação teológica do fato. “o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado. Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios”. (Rm 5.5,6). “Cristo morreu” é um fato histórico. “Pelos ímpios” é uma interpretação teológica do fato.
Como o natural e o sobrenatural estão relacionados aqui? Há uma experiência sobrenatural do amor de Deus dada pelo Espírito Santo ao coração, e há a declaração da base – o fundamento – dessa experiência do amor de Deus na história (“Cristo morreu”) e teologia (“pelos ímpios”). A experiência é sobrenatural (dada pelo Espírito Santo). O fundamento é natural (um fato histórico e uma afirmação teológica com a qual até o diabo concordaria).
Eles se relacionam assim: o que significa ser amado por Deus é revelado pela observação histórica e teológica: “Cristo morreu pelos ímpios”. O Espírito Santo não dá essa informação ao coração. A Bíblia e o pregador dão isso à mente. Não é tarefa do Espírito Santo descrever o amor de Deus para você. Esse é o trabalho que Deus designou para a história e as Escrituras – e a pregação.
Nosso povo aprende a natureza e o conteúdo do amor de Deus pela maneira como o amor agia na história de Jesus Cristo. Então o Espírito Santo pega essa verdade natural – anunciada por você, o pregador, com exultação expositiva – e faz um milagre sobrenatural com ela. Ele faz com que o coração deles veja o amor de Deus como supremamente belo e o sinta como supremamente precioso. Ele lhes dá a experiência real e sincera descrita no versículo 5: “O amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo”.
Unindo o Natural e o Sobrenatural na Pregação
Tanto o fato natural da história, com sua interpretação, quanto a obra sobrenatural do Espírito Santo são essenciais. Se alegarmos ter experiências do amor de Deus sem fundamentos sólidos na história e no seu significado dado por Deus, nos tornamos céticos, “emocionalistas” e fanáticos. Se pretendemos entender o que aconteceu na história e seu significado teológico, mas não experimentamos o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, nos tornamos estéreis, impotentes e intelectualistas.
O lugar da pregação nesse processo é ser o porta-voz da verdade histórica e teológica de que “Cristo morreu pelos ímpios”. Declaramos, todas as coisas maravilhosas sobre a morte de Cristo que o texto e a realidade por trás disso nos dão, para dizer – essa é a nossa exposição. E exultamos com tanta alegria quanto o Espírito nos concede provar. Essa é a nossa pregação – exultação expositiva.
Mas nosso objetivo é o que somente o Espírito Santo pode fazer – a experiência sobrenatural do amor de Deus no coração de nossos ouvintes. Nosso objetivo é que eles vejam, experimentem e mostrem a beleza e o valor desse amor. A glória da pregação é que, embora não possamos fazer isso acontecer por nosso próprio esforço, uma vez que é obra do Espírito Santo, ele não poupará esforços para esclarecer a beleza e o valor dos fatos históricos e das interpretações teológicas.
Proclamar as maravilhas e riquezas é o nosso trabalho. Essa é uma obra indispensável e gloriosa.