Um blog do Ministério Fiel
Buscando manter a sanidade no ministério pastoral
O ministério pastoral conta com privilégios, alegrias e bênçãos imensuráveis. O ministro do Evangelho tem o privilégio de atuar como pastor assistente do Supremo Pastor e cuidar da igreja por quem Cristo morreu (cf. 1Pe 5.1-4 e At 20.28). Há ainda a graça de ser cooperador da alegria de muitos que, alcançados pelo Evangelho, são reconciliados com Deus e experimentam a restauração de vidas, emoções e relacionamentos (cf. 1Co 1.24). Também o Senhor coroa de bênçãos aqueles que desempenham esse serviço fielmente, não mercadejando a Palavra, mas sendo verdadeiros embaixadores de Cristo. Dessa maneira, há muitas razões de regozijo no ministério pastoral.
Mas o ministério também é urgente e exigente, e no afã de servir a Deus no trabalho da igreja, o pastor pode chegar ao desgaste e esgotamento. O simples fato de ele dedicar tanto tempo e atenção àqueles que necessitam de cuidados espirituais, emocionais e relacionais é, às vezes, suficiente para consumir suas energias e lhe roubar o vigor. Em outras palavras, a alegria e júbilo resultantes da restauração de vidas é, no geral, precedida pelo desgaste e esforço resultantes do cuidado e investimento nas pessoas em necessidade de restauração. O ministro também frequentemente precisa atender algumas situações emergenciais do seu rebanho. Visitações hospitalares, atendimento a funerais, mediação em conflitos, socorro a famílias em crise e tantas outras coisas não são programadas e nem obedecem à agenda diária do pastor. Quando qualquer uma dessas coisas acontece, além de atendê-las, o pastor ainda precisa cumprir os outros compromissos previamente assumidos. Tudo isso contribui com o esgotamento do obreiro.
Há ainda a necessidade de o pastor equilibrar as atividades ministeriais e seu cuidado com a família. A família do pastor é continuamente observada pelos membros da igreja. Alguns a olham como modelo e outros como uma área na vida do ministro a ser corrigida. Isso acaba se tornando cansativo para o obreiro. Além do mais, ele geralmente evita reclamar da igreja no contexto familiar a fim de que isso não influencie os seus a nutrir uma perspectiva negativa da igreja. Ao absorver essas tensões geradas pelas deficiências do rebanho, o ministro se consome emocional e espiritualmente. Tudo isso sem contar que, no geral, o salário que ele recebe faz com que o orçamento familiar tenha que estar sempre “no limite” e o que foge desse esquema gera ansiedade e preocupação.
Além do que foi dito até aqui, embora o pastor aparentemente goze de tempo livre para organizar sua agenda semanal, o fato é que sempre lhe falta tempo. A preparação do sermão, da lição da escola dominical, do estudo bíblico semanal, bem como os atendimentos e aconselhamentos a serem realizados, a execução de programações tradicionais da igreja etc., tudo consome tempo. As demandas e expectativas da igreja nem sempre são realistas nesse sentido e o pastor acaba trabalhando muito mais do que a jornada regular de trabalho em nosso país. Tempo para um ministro dedicado é algo extremamente precioso.
Finalmente, o ministério é, em várias ocasiões, marcado pela solidão e angústia de não poder compartilhar as dores e angústias com outras pessoas. Discorrer sobre algumas dessas questões implicaria, muitas vezes, em expor pessoas e revelar segredos de outros. Com isso, o ministro sofre calado, orando a Deus, mas nem sempre compreendido pelas pessoas ao seu redor, inclusive sua própria família. Como já foi dito acima, na tentativa de proteger seus familiares, especialmente a esposa, o pastor absorve suas dores e essa dinâmica o adoece.
Nesse contexto de privilégios e privações, como pode o pastor manter sua sanidade? O que ele pode fazer para preservar não apenas sua saúde, mas também sua alegria e contentamento ao realizar aquilo para o que o Senhor o chamou? Infelizmente não existe uma resposta simples para essa pergunta. Ainda assim, procuro apresentar algumas sugestões práticas nas linhas a seguir. Primeiro, é importante que o pastor seja direcionado por alguns princípios e, depois, que ele se lembre que obedecer a alguns passos firmes poderão ajudá-lo nesse processo.
Princípios a serem mantidos
À fim de se evitar o desgaste e, com ele, a murmuração e a raiz de amargura que tanto adoecem o coração, o pastor necessita se orientar por alguns princípios que o ajudam a manter o equilíbrio. Esses princípios devem governar sua mente e acalmar o seu coração. Cada um desses princípios pode ser cultivado ao logo da carreira ministerial e motiva o pastor a encontrar novo ânimo em seus afazeres.
- Lembre-se de que Deus está mais interessado com o que ele está fazendo em você do que através de você.
Muitos pastores acabam sendo dominados pelo ativismo por julgarem, com isso, estarem glorificando a Deus. Alguns até precisam estar ocupados para se sentirem valorizados e, por isso, os compromissos na agenda se tornam uma “loucura”. Porém, o mais importante para o Senhor é o que Ele está realizando em nós, ou seja, se o fruto do Espírito tem sido uma realidade em nossas vidas e se estamos sendo verdadeiramente conformados à imagem de Cristo. O que fazemos é importante, mas o fundamental é o que Deus faz em nós.
- Procure se lembrar de que o ministério não consiste apenas de suas realizações para o Senhor, mas das realizações dEle através de você.
O ministro é responsável por fazer aquilo para o qual o Senhor o vocacionou, principalmente a dedicação à oração e às Escrituras no cuidado com o rebanho (cf. At 6.4, 1Co 4.2 e 2Tm 4.1-5). Nesse empreendimento, sucesso é medido pela fidelidade e não pela estatística empresarial. Além do mais, é importante que o ministro se lembre que que seu trabalho não se resume em seus feitos, mas inclui os feitos do Senhor por intermédio dele. Por exemplo, conversão de vidas, transformação de relacionamentos, convicção de pecados e tantas outras coisas só são possíveis pela operação graciosa de Deus no pastorado de alguém. Um ministério bem-sucedido é completamente dependente do Senhor.
- Mantenha o equilíbrio entre a responsabilidade ministerial e a responsabilidade de suas ovelhas diante de Deus.
Há atividades pelas quais o ministro responde, mas também há elementos que são responsabilidades das ovelhas do rebanho. Por exemplo, o ministro é responsável por expor fielmente as Escrituras à sua congregação. Mas é responsabilidade de cada membro da igreja se fazer presente e prestar atenção para compreender o que está sendo ensinado. O Senhor Jesus ensinou que até aqueles que confrontam outros não são responsáveis pela resposta desses àquela confrontação (cf. Mt 18.15-17). Há muitos pastores se cobrando por resultados que não pertencem à sua esfera de responsabilidades.
- Lembre-se de que, enquanto você pastoreia alguns, você também necessita se deixar pastorar por outros.
O pastor que prega continuamente, mas dificilmente se senta para ouvir e receber a ministração da Palavra por outras pessoas, geralmente se sente árido e vazio. Submeter-se à exposição pública da Palavra é uma maneira de se deixar pastorar e cuidar. Quem que se dedica a ajudar outras pessoas, também necessita se deixar ser ajudado. Aquele que aconselha, precisa ser aconselhado. Tudo isso faz parte do processo designado por Deus para o crescimento e amadurecimento espiritual do crente e com o pastor não é diferente. Portanto, procure encontrar alguém com quem possa “abrir o coração”, alguém que possa orar por você e a quem você possa prestar contas sobre suas dores, angústias e pecados que tanto roubam sua alegria.
Certamente todo ministro conhece e concorda com esses princípios na teoria. A prática ministerial, porém, pode ser diferente e o pastor acaba se desgastando desnecessariamente em muitas áreas. Portanto, como acontece em outras esferas da vida, nesses casos também todos carecemos ser lembrados.
Passos a serem seguidos
Ao refletir sobre seu ministério pessoal, cada ministro sábio deveria estabelecer alguns limites. Esses marcos podem ajudá-lo no melhor desempenho das atividades ministeriais, mas também podem contribuir com seus relacionamentos familiares e realizações pessoais. Certamente esses limites são de caráter pessoal, mas seguem aqui algumas sugestões a esse respeito.
- Não desperdice o seu tempo com as mídias sociais. De fato, o uso dessas mídias pode abençoar muitas pessoas e contribuir para o avanço do Evangelho. Mas há uma linha muito tênue entre o uso apropriado e o desperdício de tempo e energia preciosas nessa atividade que pode ser viciante. Lembre-se que pastoreio implica em relacionamento real e não apenas virtual.
- Não leve tudo para o campo pessoal. Mesmo as pessoas que rejeitam a instrução bíblica e o cuidado pastoral, em última instância, estão rejeitando Deus que ordenou esse ministério sobre aqueles por quem Cristo morreu. Há ovelhas que ofendem o ministro por desconsiderarem o princípio de autoridade estabelecido pelo Senhor. Há também ocasiões nas quais a igreja necessitará de outro estilo de pastoreio e, em tais momentos, você deve se retirar. Esse processo de transição não precisa ser levado para o campo pessoal, como se você estivesse sendo rejeitado.
- Não se consuma na perseguição de manipuladores. Certamente o pastor deve cuidar e zelar pelas ovelhas, mas focalizar o ministério pastoral à caça de manipuladores desvia o ministro de sua vocação original. Além do mais, essa é uma atividade extremamente desgastante e pode não contribuir muito para o crescimento espiritual do rebanho. O crente manipulador dificilmente se sentirá satisfeito por longo tempo e geralmente volta com mais demandas pessoais.
- Não negligencie sua família. No geral, a família do pastor contém as ovelhas menos pastoreadas do seu rebanho, mas não é correto que seja assim. O primeiro rebanho de qualquer líder na igreja é sua família. A igreja pode ter mais de um pastor, mas a família do ministro só receberá o cuidado que vem dele. O pastor deve estabelecer um exemplo de amor e cuidado da sua família para todo o rebanho.
- Não pense que você é indispensável. Provavelmente a igreja que você pastoreia existia antes de você assumir o pastorado dela e, pela graça de Deus, ela continuará existindo depois que você deixar de ser o pastor dela. Dessa forma, não assuma e nem atue como se tudo dependesse de você. Seu ministério é capacitar pessoas para realizar o trabalho para a glória de Cristo e, no momento que o Supremo Pastor decidir, você será substituído.
- Não tente fazer tudo de uma vez só. As Escrituras ensinam que o “o coração do sábio conhece o tempo e o modo”, pois “para todo propósito há tempo e modo” (Ec 8.5-6). Portanto, sabedoria, paciência e perseverança são ingredientes necessários no desempenho de um ministério frutífero. É necessário estabelecer prioridades no ministério a fim de evitar ser consumido pelas demandas urgentes ao invés de focalizar nas realizações importantes.
- Não faça tudo sozinho. O trabalho ministerial exige que o pastor equipe outros para o desempenho do trabalho em prol do Reino (cf. Ef 4.11-12). Quando o pastor procura fazer tudo por si mesmo, acaba impedindo que outros aprendam e assim compromete o processo do discipulado de outros. Delegar e treinar são atividades difíceis, mas necessárias no cuidado com o rebanho.
- Não confunda seus interesses pessoais com interesses do Reino. Todos nós temos alvos, projetos e sonhos. Alguns desses são lícitos e devem ser buscados no momento e da maneira como o Senhor orientar. O problema, porém, é que muitas vezes sacrificamos a família, a saúde e até a igreja local em nome de projetos pessoais de poder, de influência ou reconhecimento, e apresentamos a justificativa de que o fazemos pelo Reino. Além de enganarmos outros, acabamos engando a nós mesmos e colhendo o fruto amargo da aridez espiritual.
É possível que após ler esse ensaio, pastor, você identifique outros princípios e passos a serem tomados no seu ministério em prol da manutenção de sua sanidade. Minha esperança é que essa reflexão tenha sido útil no sentido de despertá-lo para esse empreendimento. Que o Senhor continue cuidando de todos nós.