Dois princípios para experimentar mais de Deus (Parte 1)

Segunda de manhã. O dia começou muito bem. Ainda levitando pela experiência do dia anterior na igreja, Marcos senta à mesa para comer um sanduíche de bacon. As crianças brincam tranquilamente na sala de estar. Lá fora, o sol brilha e os pássaros cantam. Será que a vida poderia ser melhor que isso?

Marcos chega à estação e descobre que o seu trem foi cancelado. Agora, uma quantidade dobrada de passageiros abarrota o trem seguinte e Marcos tem de ir em pé. Ele perde as esperanças de conseguir ler seu livro. O cara ao seu lado claramente nunca ouviu falar em desodorante. Os próximos quarenta minutos não serão nada agradáveis. Como um dia pode ser arruinado tão rapidamente?

Ontem, Deus parecia tão presente para Marcos. Mas hoje… Hoje é diferente. Hoje só há trens superlotados, passageiros suados… Hoje, Deus é… Quem ele é? Ele não é ausente — Marcos não duvida de que Deus está em todo lugar. Mas Deus também não parece estar de fato presente. Não de uma maneira que Marcos possa tocar ou ver.

Eu creio em mais. Mais de Deus. Mais no porvir, é claro, mas também mais no presente. Podemos conhecer mais a Deus. Você pode conhecer mais a Deus.

E eu escrevi o livro “Experimentando mais de Deus” justamente para ajuda-lo sobre como você pode experimentar mais de Deus. O livro é governado por dois princípios-chave — princípios que o ajudarão a deleitar-se mais em Deus. Não são princípios complicados. Não são habilidades nas quais você precise ser perito nem façanhas que exijam grande força de vontade. Contudo, suspeito que muitos cristãos não tenham uma percepção profunda de relacionamento com Deus, nem desfrutem mais desse relacionamento, porque não compreendem plenamente esses dois princípios. São eles:

  1. Deus é conhecido por meio das três pessoas, de modo que nós nos relacionamos com o Pai, o Filho e o Espírito.
  2. A nossa união com Deus em Cristo é a base para a nossa comunhão com Deus na experiência.

Podemos conhecer a Deus: o princípio do três-e-um

Ao orarmos, é muito fácil pensar que estamos orando a uma coisa ou a uma força. Pode parecer um tanto abstrato. Tentamos imaginar Deus, mas Deus é invisível. Como podemos ver o Deus invisível? Como pessoas finitas podem conhecer o infinito? A resposta é: não podemos! Não temos um relacionamento com “Deus” num sentido genérico. Não podemos conhecer a essência de Deus — a “divindade” de Deus. A sua natureza está além da nossa compreensão.

Mas podemos conhecer as pessoas de Deus. Deus vive em comunhão eterna, em que o Pai, o Filho e o Espírito relacionam-se mutuamente em amor. E, quando Deus se relaciona conosco, ele se relaciona conosco da mesma maneira — como Pai, Filho e Espírito. Então, quando falamos sobre ter um relacionamento com Deus, na verdade é uma forma abreviada de falar sobre ter um relacionamento com Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

A implicação prática é simples: o seu relacionamento com Deus será mais rico e profundo se você pensar em como você se relaciona com o Pai, o Filho e o Espírito. Pense em como cada membro da Trindade se relaciona com você e em como você responde a ele.

Ao orar, por exemplo, pense em como você dirige suas palavras ao Pai, por meio do Filho, com o auxílio do Espírito. Ou, ao ler a Bíblia, pense em como o Pai revela a si mesmo no seu Filho, pelo Espírito Santo, ou pense em como o Filho comunica o seu amor a você por meio do Espírito Santo.

Pare e pense nisso agora, por um momento. Como o Pai se relaciona com você e como você se relaciona com ele? E o que dizer do Filho? E do Espírito?

Neste livro, mostraremos como cada membro da Trindade age para conosco e como nós devemos responder a isso. Descobriremos que o Deus trino — o Deus que é Pai, Filho e Espírito — está interagindo conosco de milhares de formas, cada dia.

Então, o primeiro passo ao relacionar-se com Deus é relacionar-se com cada uma das distintas pessoas da Trindade — Pai, Filho e Espírito. Mas nunca devemos pensar nas três pessoas sem, ao mesmo tempo, reconhecermos que Deus é um. A unidade de Deus é importante porque significa que conhecer uma das pessoas é conhecer todas as três. Você nunca se relaciona com elas individualmente. Isso significa que veremos nosso pensamento, constantemente, mover-se de uma pessoa para a outra. Isso também significa que este livro será prazerosamente “desordenado”. Não conseguiremos falar sobre relacionar-se com o Pai sem falar sobre como somos amados no Filho, ou sobre como o Espírito nos habilita a clamar: “Aba, Pai”. Não conseguiremos falar sobre a presença de Jesus sem falar sobre a obra do Espírito.

No filme O mágico de Oz, Dorothy e seus companheiros saem em busca do mágico de Oz, pensando ser ele uma figura divina que lhes pode conceder um cérebro, um coração e coragem. Mas tudo se revela uma farsa. Por trás da aparência intimidante, há apenas um homem velho e patético. A magnífica imagem é apenas uma fachada.

Às vezes, as pessoas podem pensar que Deus se parece um pouco com o mágico de Oz. Jesus é a face atraente de Deus, mas é apenas uma fachada por trás da qual esconde um velho rabugento. Nada poderia estar mais longe da verdade. A unidade da Trindade significa que, ao vermos Deus em Cristo, não estamos vendo uma máscara ou uma fachada. Não há surpresas por trás do que vemos em Cristo. Jesus é o perfeito Verbo de Deus e a imagem de Deus, porque Jesus é Deus. Ver o Filho é ver o Pai. Ele “é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3). O Pai e o Filho são um único ser. Não há outro Deus escondido por trás do cenário. Jesus de fato é o que Deus Pai é. Relacionar-se com o Filho é relacionar-se com o Pai e o Espírito.

Gregório de Nazianzo, teólogo do século IV, expôs essa verdade assim: “Não posso cogitar o uno sem que seja imediatamente circundado pelo fulgor de três, nem posso discernir três sem que subitamente me refira ao uno”.[1]

A verdadeira espiritualidade cristã envolve um constante movimento do uno para os três e dos três para o uno. Precisamos treinar nosso coração para pensar nas três pessoas e em como nos relacionamos com elas distintamente. Mas, ao mesmo tempo, precisamos treinar-nos a pensar nos três como um, de modo que se relacionar com uma das pessoas é encontrar as outras duas.

Na próxima postagem veremos o segundo princípio: “A nossa união com Deus em Cristo é a base para a nossa comunhão com Deus na experiência.”

[1] Gregório de Nazianzo, “On Holy Baptism”, Oração 40.41, citado em João Calvino, A instituição da religião cristã (São Paulo: Unesp, 2008), tomo 1, 1.13.17, 133.

Artigo adaptado do livro Experimentando mais de Deus, de Tim Chester. Publicado pela Editora Fiel.