Um blog do Ministério Fiel
Conduzindo Crianças – Tedd Tripp [Conferência Oanse 2020]
Uma Jornada na Graça de Deus
Vivemos em nossos dias grandes desafios para Pais e Igreja na educação cristã da nova geração. Desafios que se mostram cada dia mais e mais complexos e perturbadores. Diante destes desafios a Oanse do Brasil tem buscado apresentar para Pais e Igrejas oportunidades de crescimento e amadurecimento sólido e saudável fundamentados na verdade da Palavra de Deus, que alcance o coração da Nova Geração.
Em 2020, a Conferência Oanse terá a presença do Dr. Tedd Tripp, autor do livro Pastoreando o Coração da Criança, e falará sobre a grande importância de conduzirmos crianças a Cristo.
Resumos — O Evangelho no Antigo Testamento: Esperança para famílias imperfeitas
Eli: o pai pródigo
Infelizmente ao olharmos no Antigo Testamento, temos muitos exemplos de pais falhos (Abraão, Isaque, Jacó, Arão, Eli e Davi). Porém, essas histórias foram escritas para nossa instrução (1Co 10.5-10), a fim de aprendermos lições valiosas com os exemplos negativos. Consideremos, por exemplo, Eli. Eu o chamo de o pai pródigo.
O desrespeito por Deus dos filhos de Eli
Os filhos de Eli desprezavam a Deus (1Sm 2.12-17). Eles eram sacerdotes, mas não tinham o temor do Senhor, nem o conhecimento de Deus. Usavam os privilégios do seu ofício de forma truculenta para ganho próprio. Além disso, eles cometiam pecados sexuais no tabernáculo (v. 22) e faziam o povo de Deus transgredir (v. 24).
Não deixe que as coisas do Senhor se tornem sem valor para você e sua família. Não permita que você caminhe com o Senhor apenas pela inércia. Guarde seu coração!
A cumplicidade de Eli
Eli ficou de canto e se tornou um espectador do que seus filhos estavam fazendo (v. 23-25). Mesmo quando confrontou seus filhos, não levou as ameaças a cabo e tirou seus filhos do sacerdócio ou trouxe a pena devida para seus pecados. Ele era um pai passivo, que acabou sendo ignorado pelo seus filhos.
Porém, quando Deus o confronta, ele não pergunta sobre os filhos, mas aponta o dedo para Eli, dizendo que ele estava desprezando o sacrifício e honrando mais seus filhos que o Senhor. Eli também estava envolvido no pecado e era cúmplice dos seus filhos. Eli não era um líder ineficaz em seu lar. Talvez pensasse que amar é não disciplinar.
Quando estamos dispostos a comprometer a verdade, somos maus exemplos para nossos filhos. Quando falhamos em avisá-los do erro e em cumprir o que afirmamos, nós nos tornamos cúmplices do pecado deles.
Eli era imprudente e desatento.
Outro comportamento terrível que podemos observar, era que Eli sabia sobre seus filhos através de terceiros (v. 22 24). Mesmo presente, ele não estava observando.
Precisamos estar presentes na vida dos nossos filhos. Alguns pais dão de tudo (presentes, passeios), menos eles mesmos. Precisamos olhar, escutar, prestar atenção, conversar e fazer boas perguntas. Indiferença com nossos filhos é mortal!
Alguns falam só de “tempo de qualidade”. Mas não dá para agendar “tempo de qualidade”. “Tempo de qualidade” acontece quando temos grande “tempo em quantidade”.
Eli era hipócrita
Eli falsamente julgou Ana, a chamando de filha de Belial, quando na verdade os filhos de Belial estão em sua própria casa. Há algo muito ruim quando repreendemos o erro nas vida dos outros, mas ignoramos os pecados dentro da nossa casa.
Eli estava espiritualmente fraco
A palavra de Deus estava escassa, e Eli ficava cego, não só naturalmente, mas espiritualmente (1Sm 3.1-2). Temos um pai que não está andando com o Senhor, para quem Deus não é tão real quanto deveria ser.
Nossos filhos precisam ver a realidade espiritual em nós. Como pais precisamos amar o Senhor acima de todas as coisas (Dt 6.5-7). Seu amor e sua devoção a Deus é a fundação para tudo o que você tem a dizer.
A condenação de Deus
O Senhor traz condenação matando os filhos maus na guerra e Eli no mesmo dia (1Sm 1.36; 4.5–22). Eli morre com o coração e pescoço quebrado. Quando a nora dele dá a luz, ela chama o filho de Icabô, foi-se a glória de Israel. Não devemos nos enganar: de Deus não se zomba (Gl 6.7-9)!
A misericórdia de Deus
Há um contraste neste texto, no meio da escuridão de 1 Samuel 2. Como podemos aprender sobre a graça de Deus ao lermos sobre a falha de Eli?
Após apontar a falha dos filhos de Eli, o texto diz que Samuel ministrava perante o Senhor e crescia diante de Deus (1Sm 2.18-21, 26; 3.1). Enquanto os filhos de Eli caem em mais e mais iniquidade, o menino Samuel cresce em favor e graça diante de Deus enquanto ministra na presença de Deus.
No meio da história terrível de Eli e seus filhos, temos a história da resposta de oração de uma mulher quebrantada (Ana, 1Sm 1). Como Samuel, nas horas de trevas, precisamos dizer: “Fala, Senhor, porque o teu servo ouve” (1Sm 3.19).
Isaque e Jacó: O problema do favoritismo
Quando consideramos a família de Isaque e Rebeca, percebemos que essa era uma família disfuncional na forma como tratavam seus filhos.
O favoritismo de Isaque e Rebeca
Jacó e Esaú eram gêmeos, porém Deus revelou que o mais velhos serviria o mais novo. E Isaque poderia ter usado essa revelação de forma poderosa com seus filhos, conversando e interagindo com eles. Poderia ter encorajado Esaú em confiar que Deus sempre faz o que é certo, mesmo quando não entendemos. Poderia ter encorajado Jacó à humildade, dizendo que era Deus que havia determinado a bênção, não porque ele era melhor seu irmão.
Além da revelação, há a questão de os gêmeos serem bem diferentes. Esaú era aventureiro e Jacó, caseiro. Isaque deveria considerar isso e que fora chamado para pastorear a ambos, dando amor e apoio a ambos. Porém, Gênesis 25 diz que Isaque amava Esaú e Rebeca, Jacó, caindo no erro trágico do favoritismo.
É fácil termos como favorito o filho que parece mais conosco, com uma personalidade que se encaixe com a nossa. Porém, as diferenças entre os gêmeos não eram morais, e uma não era necessariamente melhor que a outra.
Os efeitos do favoritismo são terríveis. Não ter a aprovação dos pais gera grandes prejuízos. Gera ciúmes ou raiva do filho negligenciado, além de um grande vazio. E também produz danos para o filho favorito, levando-o à arrogância. Tudo isso traz um relacionamento quebrado entre os irmãos e tensão entre os cônjuges.
Lições a serem tiradas
Nós devemos evitar esses erros. Todos os nossos filhos são diferentes e foram tecidos por Deus (Sl 139.13-16). Como crentes, devemos crer que esta é a criança que Deus projetou de forma singular para nós, com suas forças e fraquezas, habilidade e responsabilidades. Seremos arrogantes se rejeitarmos o projeto de Deus.
Criação de filhos não é sobre nossas preferências, mas sobre pastoreá-los de forma apropriada à maneira que eles são. Precisamos entender que a graça não muda a personalidade, mas muda como o pecado afeta a personalidade.
Alguns filhos podem ser disciplinados com um olhar, outros precisarão de mais. Nós devemos nos adaptar às suas necessidades e devemos evitar a tentação de favorecer o filhos que se espelha em nós.
O impacto do favoritismo da história de Jacó
A ausência do amor de Isaque pelo seu filho trouxe impactos horríveis em sua vida. Ele se tornou um enganador, que roubou a progenitura e a bênção de seu irmão. Ele se tornou um negociador, que mesmo quando Deus vem com bênçãos incondicionais, responde de forma condicional (“se Deus…, então eu…”; cf. Gn 28.10–22).
Jacó não havia quem o amasse além de sua mãe, que estava longe, então ele tenta suprir sua carência. Ele acredita que um relacionamento suprirá suas necessidades e busca satisfazer seus desejos e paixões de forma desesperada. Ele oferece um seu trabalho por sete anos por Raquel, que era um dote bem maior que o habitual. Quando o tempo se cumpre, ele está ansioso para coabitar com sua esposa, porém ao amanhecer viu que era Lia.
Jacó, o enganador, fez uma pergunta que nos soa irônica: “Por que, pois, me enganaste?” E Labão dá uma resposta bombástica: “aqui não privilegiamos a mais nova antes da mais velha”.
Todo engano que Jacó havia praticado, volta para ele.
Lições a serem tiradas
Esse homem carente colocou toda a sua esperança em Raquel, mas na manhã “viu era Lia”. Nós também colocamos nossas esperanças em relacionamentos, posses, cargos, posições, e quando os alcançamos percebemos que de manhã sempre é Lia. Somente Deus satisfará as nossas necessidades.
Agora, pense na situação de Lia. Ela era a irmã feia. E mesmo quando consegue se casar, seu marido a despreza. Lia a esquecida. Porém, Deus não a esqueceu, e lha deu filhos.
Porém, ao ter filhos, ela tenta chamar a atenção de seu marido através do nomes deles: Rubem (ver), Simão (ouvir), Levi (ligar). A esperança dela é ser vista e ouvida, ela quer estar conectada a seu marido.
Porém, entre o terceiro e quarto filho, ela entende que mesmo que seu marido não lhe dê atenção, Deus não se esqueceu dela. Por isso nomeia o quarto filho Judá (louvor): desta vez adorarei ao Senhor. Ela pega os desejos mais profundos do seu coração e os transporta de Jacó para o Senhor. O Senhor que a amou a coloca na linhagem do Messias.
Quais são os desejos do seu coração? Você está colocando em seu cônjuge ou em seus filhos as esperanças da sua vida? Perceba que somente Deus suprirá nossas necessidades mais profundas. O amor que tanto precisamos não está em outras pessoas, mas no Senhor.
Lia é uma imagem da graça. Não é por algo que há em nós que Deus nos ama, mas por sua misericórdia. Muitas vezes, tentamos subir as escadas para chegarmos por nossos esforços até Deus, porém Deus veio até nós em Cristo. Jesus é a escadaria que conecta céus e terra e nos traz as bênçãos de Deus.
Diná: a liderança falha de um pai
Quando lemos Gênesis 34, temos uma cena vergonhosa, cheia de violência sexual e física. Muitas vezes, ignoramos essa passagem, porém 2 Timóteo 3.16-17 diz que toda Escritura foi dada para nos equipar, inclusive esta terrível cena.
A falha espiritual de Jacó como pai
Ao observarmos o texto, a passividade de Jacó diante do estupro de sua filha é chocante. Precisamos lembrar que Diná era filha de Lia, a esposa desprezada. Então, quando Simeão e Levi, que também eram filhos de Lia, veem o ato detestável e a passividade de Jacó, eles agem em violência.
Jacó falhou em proteger sua filha. Ele permitiu que ela fosse a uma cultura pagã em busca de companhia e amigos. Porém, todo pai é chamado para ser um guardião fiel de seus filhos.
Pais, vocês foram chamados a proteger suas filhas da cultura imodesta que as cerca. O mundo não busca se vestir de forma mansa e tranquila, modesta e discreta como a Escritura ensina (1Tm 2.9-10; 1Pe 3.3-5), porém de forma sensual.
Será que Jacó foi indiferente? Preguiçoso? Afastado? Ingênuo? Como pais precisamos nos perguntar o que nos leva a recuar e falhar em proteger nossos filhos.
Além de falhar em proteger sua filha, Jacó também falhou em ensinar sua filha a interagir de forma piedosa com a sua cultura. Nós estamos criando nossos filhos na cultura do estímulo visual (“olha o meu estilo”) e precisamos ensinar nossos filhos a interagir com o mundo com os ouvidos abertos para a verdade revelada de Deus, com os padrões de Deus. Devemos constantemente ajudá-los a avaliar a cultura, desafiando seus pressupostos. Crítica cultural deve ser uma tarefa diária em nossas vidas.
Cuidado com se envolver tanto com seu trabalho ou com seu lazer e acabar deixando seus filhos serem atraídos por uma cultura com valores contrários à Palavra de Deus. Precisamos vacinar nossos filhos contra os perigos da cultura.
A terceira falha é que Jacó falhou ao ser passivo em relação ao abuso de sua filha. Que tipo de liderança é essa que não faz nada quando sua preciosa filha é violentada? Jacó conhecia a Deus, mas falhou com passividade diante do abuso.
Jacó não ajudou e confortou sua filha Diná; não ajudou seus filhos a responderem de forma adequada; não ensinou como viver em um mundo caído; não levou sua família a buscar a ajuda de Deus; e não buscou justiça.
Diná precisava ouvir o conselho de (1) conhecer a Deus na agonia, desonra e perda; como pensar sobre sua experiência; (3) como interagir com os outros que sabiam; (4) como evitar a autoaversão e a vergonha; e (5) como evitar de ser tornar cínica e dura; como evitar que ela se feche e se torne fria.
Simeão e Levi precisavam ouvir o conselho de (1) modos construtivos de lidar com a ira; (2) como confiar em Deus em relação a eles e a irmã; (3) como exercitar sabedoria e discernimento; (4) como buscar justiça; e (5) como irar-se sem pecar.
Pais precisam de coragem para proteger sua família! Passividade é um grande problema para homens. Muitas vezes, eles não fazem nada, pois não sabem o que fazer; e acabam agindo como Jacó: ficam quietos. Porém, a Escritura ensina que há espaço para uma ira santa diante da iniquidade, para irar-se e não pecar (Ef 4.26). Homem, você está sendo passivo quando existem situações em que você deveria agir?
A quarta falha de Jacó é sua resposta autossuficiente em relação ao massacre. Diante da resposta perversa e atroz de seus filhos, Jacó se preocupa consigo mesmo. Ele não fala sobre a glória de Deus e a violação da lei divina, mas só sobre sua segurança.
O que podemos observar na vida de Jacó é que a bênção do passado não substitui a obediência e a fidelidade do presente. Jacó se encontrou com Deus em Betel, porém parou em Siquém (jornada de um dia para Betel).
Será que você, como Jacó, uma vez esteve próximo de Deus, mas agora está longe? Falta de dedicação completa a Deus, irá resultar em egoísmo e relacionamentos destruídos.
A maravilhosa fidelidade de Deus à sua aliança
Após este terrível episódio, Deus em graça conduz Jacó para Betel, o local onde ele primeiro se encontrou com o Senhor, para construir um altar. Deus não responde às falhas da mesma maneira que nós.
Como Deus pode ignorar tal falha? O julgamento justo de Deus sob os nossos pecados se encontra em Cristo. A graça de Deus é baseada nos méritos de Jesus Cristo. Deus é fiel à sua aliança e não nos descarta mesmo quando falhamos. A mensagem para nossos filhos é a esperança do evangelho. Então, olhe uma vez para o seu pecado e dez vezes para a cruz.