Um blog do Ministério Fiel
Complementarismo: um momento de acerto de contas (Parte 1/5)
Parte 1: Tensão de hoje: complementarismo Amplo versus Estreito
Parece ser um momento de acerto de contas para o complementarismo. Pode-se dizer que os questionamentos mais incisivos não estão vindo de fora da comunidade complementarista, mas de dentro. Autores como Rachel Green Miller gracejou: “Sou complementarista? Eu costumava pensar”. O próximo título da Aimee Byrd comunica a mesma ambivalência: Recovering from Biblical Manhood and Womanhood (Recuperando-se da masculinidade e feminilidade bíblicas). O título se refere a um dos textos fundamentais do complementarismo: Recovering Biblical Manhood and Womanhood. (Recuperando a masculinidade e a feminilidade bíblicas).
Beth Moore pode ser a personalidade mais conhecida que, embora afirme ser membro da comunidade complementarista, recentemente apresentou sua parcela de críticas.
Eu não sei. Me chame de louca, mas tenho a tendência de relutar em confiar em qualquer homem que seja obcecado pela submissão das mulheres. (Beth Moore, no Twitter)
Ela diz respeitar vários complementaristas conservadores, mas que não consegue entender suas interpretações das Escrituras, e se preocupa com a falta de visão mais ampla da Bíblia, por parte deles, em relação às mulheres.
Existem inúmeros complementaristas conservadores, que respeito muito e amo profundamente, mesmo que eu não entenda completamente suas interpretações de certas partes das Escrituras relacionadas ao assunto. Eu amo as Escrituras. Eu amo Jesus. Não ignoro 1 Timóteo ou 1 Coríntios. O meu apelo é para que lidem com o texto inteiro, de Mateus 1 a Apocalipse 22, sobre todos os assuntos relativos às mulheres. E para lidar com as palavras de Paulo em 1 Timóteo e 1 Coríntios 14, como autoridade inspirada por Deus, ao lado de outras palavras que Paulo escreveu, igualmente inspiradas e fazendo sentido em relação às muitas mulheres ao lado das quais ele serviu. (Beth Moore, no Twitter)
No entanto, o problema real, diz Moore, vai muito além das diferenças sobre como ler a Bíblia. De acordo com Moore, alguns? muitos? a maioria? dos homens complementaristas são movidos pela misoginia, sexismo e abuso de poder, pelo menos dentro da Convenção Batista do Sul.
Eu tive, na minha vida, a experiência de ter os olhos abertos, em 2016. Uma névoa clara para mim foi a coisa mais perturbadora e aterradora que eu já vi. Durante todos esses anos, dei o benefício da dúvida de que esses homens eram do jeito que eram porque estavam tentando ser obedientes às Escrituras…
Então percebi que, em absoluto, isso não dizia respeito às Escrituras. Era sobre pecado. Era sobre poder. Era sobre misoginia. Sexismo. Era sobre arrogância. Sobre a proteção de sistemas. Envolvia encobrir abusos e uso incorreto do poder. Pastores guardando outros pastores em vez de guardar as ovelhas.
Aqui está o que você não entende. Eu tenho amado a SBC (Convenção Batista do Sul) e a tenho servido com o meu melhor desde os doze anos, ajudando na escola bíblica de férias. Ao lado de QUALQUER outra denominação, e a servirei até a minha morte se ela me permitir. E é assim que a estou servindo agora. (Beth Moore , no Twitter)
Ela não especifica quem está acusando de sexismo e misoginia. Sua acusação permanece vaga o suficiente para sugerir – talvez não intencionalmente – que o próprio complementarismo possa ser motivado por essas coisas. No mínimo, seus comentários colocam complementaristas na defensiva: “Espere, eu não sou esse tipo de complementarista, sou”?
A incerteza ou desconforto com o complementarismo entre os próprios complementaristas é maior do que os de Moore. Entre em um grupo de complementaristas hoje em dia e é provável que um ou mais diga algo sobre não ser esse tipo de complementarista. Geralmente, o alvo é alguém com personalidade política, teológica ou temperamental corretos, e muitas vezes o desafio parece geracional – é uma segunda geração de complementaristas tecendo considerações sobre seus professores. Na medida em que a organização The Council on Biblical Manhood and Womanhood (CBMW) e seus escritores incorporam a primeira geração, eles geralmente são o alvo de tais desafios.
Poucas ou nenhuma dessas críticas internas desafia a Declaração de Danvers, que é o documento constitucional que o CBMW existe para promover. As pessoas também não se envolvem com os argumentos do Recovering Biblical Manhood and Womanhood. Em vez disso, um “foco de incêndio” de mídia social tipicamente começa em algum lugar na periferia da comunidade complementarista. Um complementarista de primeira geração como John Piper pode se opor às mulheres que ensinam nos seminários ou às mulheres como policiais. Ou Martha Peace propõe uma ilustração sobre se submeter ao marido ao lavar a louça (esse artigo já foi removido). E um incêndio de uma semana se alastra pelo Twitter. A segunda geração encontra tais aplicações de princípios bíblicos compartilhados além dos limites, e suas suspeitas aumentam. E então, vem o gracejo: “Eu não sou esse tipo de complementarista”.
Entre alguns, essa suspeita foi exacerbada pela controvérsia de 2016 sobre a doutrina da eterna subordinação do Filho ao Pai, uma vez que alguns complementaristas de primeira geração bem conhecidos a defenderam. (O presidente da CBMW, Denny Burk, argumentou, em várias ocasiões, que essa doutrina nunca fez parte do complementarismo).
Entre alguns outros, está o argumento sempre reciclável e sempre relevante de que as apresentações contemporâneas de complementarismo não são tão bíblicas quanto são expressões da cultura de alguém: “O complementarismo surgiu de preocupações exclusivas dos cristãos na geração Boomer”. Isso é um produto das visões vitorianas e romanas de gênero”. E assim por diante.
Talvez mais defasada ainda seja a preocupação de que o complementarismo, ao colocar muita ênfase na autoridade masculina, rebaixe as mulheres ou até leve ao abuso, como sugerido acima, nos tweets de Moore. Os blogueiros perguntam: por que o teólogo Wayne Grudem só agora, depois de quarenta anos defendendo o complementarismo, reconhece que o abuso pode fornecer fundamentos bíblicos para o divórcio? E por que John MacArthur disse tão desdenhosamente a Beth Moore para “ir para casa”?
Seja o que quer que se faça dessas anedotas peculiares, o presidente do seminário e resoluto Albert Mohler observou que o complexo da superioridade masculina e a falha em corrigir os abusos são dois pontos cegos que os complementaristas precisam trabalhar melhor.
Complementarismo Amplo versus Complementarismo Estreito
À medida que a desconfiança e as divisões crescem dentro de um contexto – é triste dizer – o mesmo acontece com a necessidade de adjetivos que rotulam os vários extremos desse contexto. Um artigo coloca o minimalista contra o complementarismo maximalista. Outros distinguem entre pesado e leve. Meus amigos da Village Church, no Texas, se referem aos deles como um complementarismo generoso.
Eu prefiro a linguagem do amplo e estreito. É descritivo e pretende não prejudicar nenhum dos dois lados.
No entanto, vamos recapitular. Se a grande luta nas décadas de 1980 e 1990 foi entre igualitários e complementaristas, essa luta não está na vanguarda hoje, pelo menos não nos meus círculos denominacionais e teológicos. Muitos que pertenciam àquela corrente igualitária mais antiga se recusam, desde então, a participar da conversa “evangélica”. Agora eles estão apoiando o LGBT e não se sentem mais felizes em possuir o rótulo de evangélico. Igualitários evangélicos antigos, como Tony Campolo e David Gushee, são excelentes exemplos. Mesmo quando os igualitários da época anterior permaneceram fiéis ao ensino da Bíblia sobre sexualidade, muitos (felizmente, nem todos) de seus alunos e discípulos caminharam (ao contrário dos desejos da geração mais velha) em uma direção que afirmava o LGBT. É difícil separar sexualidade e gênero, conceitualmente e hermeneuticamente (consulte o artigo do Colin Smothers ‘Journal sobre isso).
Hoje, a tensão entre os extremos amplo e estreito do campo complementarista está no foco das atenções. A nomenclatura de amplo e estreito serve para designar quão amplos ou restritos são os mandatos de complementariedade do discipulado. Fora da igreja e do lar, os complementaristas “amplos” são mais propensos a dizer que as diferenças entre homens e mulheres se aplicam amplamente em toda a vida, como, por exemplo, no local do trabalho. Eles podem não concordar com todas as solicitações, como se as mulheres podem ensinar nos seminários ou serem policiais. Mas todos os complementaristas amplos afirmam que as diferenças básicas entre homens e mulheres se baseiam no desígnio divino e, portanto, afetam o discipulado cristão em toda a vida, pelo menos como uma questão de sabedoria, senão de princípios morais. Nenhuma mulher ou homem está moralmente vinculado a este ou aquele trabalho ou decisão de vida, e Deus projetou cada indivíduo de maneira única. Sempre existem exceções. Ainda assim, diferentes padrões de “design” geralmente criam plataformas diferentes. Gênero é um presente e uma oportunidade em toda parte. Portanto, o discipulado cristão envolve investigar a natureza desse dom.
Complementaristas “estreitos” também afirmam o fato das diferenças de “design”. No entanto, seus escritos e declarações tendem a evitar definir essas diferenças ou tratá-las como assuntos de discipulado. Eles estão tentando justamente evitar vincular conceitos errôneos com estereótipos culturais, e depois chamam isso de padrão de maturidade cristã. Esta é sempre uma preocupação legítima. Eles reconhecerão que Deus projetou homens e mulheres de maneira diferente, mas não dirão exatamente quais são essas diferenças. Eles não preencherão os espaços em branco no final dessas frases: “Os homens são ___” ou “A masculinidade é ___” ou “A feminilidade é ___”.
Voltando para o interior da igreja e do lar, complementaristas amplos e estreitos concordam com os princípios bíblicos básicos, mas tendem a aplicar esses princípios comuns de formas diferentes (embora veja algum mérito no desafio de Joe Rigney (aqui,). Na igreja, é provável que um complementarista amplo abra menos espaço para uma mulher dar aulas na Escola Dominical de gênero misto, enquanto um complementarista estreito provavelmente abrirá mais espaço. Em casa, um casal complementarista amplo provavelmente trabalhará mais para viver com uma renda, para que a mãe possa permanecer em casa quando os filhos ainda são pequenos. Um casal complementarista estreito provavelmente se esforçará mais na busca de oportunidades profissionais para a mãe fora de casa, enquanto mantém as crianças em uma creche. Não estou dizendo que essas descrições definam todos em um determinado extremo; Estou dizendo que essas são as tendências que eu testemunhei.
Certamente, muitos complementaristas desafiam essa categorização simples entre totalmente ampla ou totalmente estreita. Uma pessoa pode ter convicções amplas na igreja e estreitas em casa. Ou pode combinar instintos amplos e estreitos em ambos. Por exemplo, a escritora e palestrante Jen Wilkin fala longamente sobre diferenças de design (amplo). Ela não tem medo de preencher os espaços em branco em “Os homens são ___” e “As mulheres são ___” e constrói seu argumento para ambientes de aprendizado entre pessoas do mesmo sexo a partir dessas diferenças. No entanto, ela também se esforça ao preparar a liderança feminina na igreja sem necessariamente definir a natureza dessa liderança (restrito).