O coração do pastor entre os pobres

A vida da igreja é um campo de batalha. As cidades cheias de pessoas perdidas são o terreno a ganhar contra o inimigo. Às vezes, a escuridão ameaça se aproximar e apagar a luz. Mas o evangelho é a nossa arma, e a igreja é o posto avançado da nova criação por trás das linhas inimigas. Os plantadores de igrejas são o general, o médico ou o chef, dependendo do dia. Essa figura  de tempos de guerra é bíblica e emocionante.

Mas há outra frente de batalha – uma que é significativa, mas facilmente esquecida. O coração do pastor. Pastores que servem nas áreas mais escuras estão em grande risco. A batalha ao seu redor é tão dramática que a batalha interna pode ser perigosamente ignorada.

Então, como um pastor que trabalha em um lugar difícil pode dar a devida atenção ao seu próprio coração? Aqui estão três maneiras importantes.

1. Vigie sua vida e doutrina.

O pastor deve vigiar de perto sua vida e doutrina (1Tm 4.16). Sua própria alma e aqueles que se sentam sob seus ensinamentos dependem disso. Infelizmente, quase toda pessoa que lê isso pode se lembrar de um pastor que perdeu a batalha interior – abandonando a fé, seguindo uma amante ou se apropriando dos cofres da igreja. É prioridade urgente que um pastor cuide do estado de seu próprio coração enquanto ministra.

2. Mate o desejo pecaminoso de receber louvor.

O pastor deve abandonar sua reputação se quiser pastorear fielmente a longo prazo. O púlpito é uma tribuna, o pecado e Satanás adoram promover distorções nessa tribuna que levem de uma exaltação a Cristo à auto exaltação.

Você poderia imaginar que um pastor que se auto exalta pode usar qualquer coisa, desde jeans “skinny” e uma camiseta com decote em v a uma gravata borboleta e um terno sofisticado. Muito provavelmente, ele prega para milhares em vários cultos e goza de fama no circuito de pregação cristã. Mas esse não é o único lugar em que você encontrará esses pastores. Ao contrário de suas expectativas, você pode encontrar um pastor que se auto exalta em pequenas igrejas nas favelas, projetos sociais e conjuntos habitacionais carentes. Uma pequena igreja pode ser consagrada como um ídolo, tanto quanto uma grande.

O relacionamento descompromissado é o aspecto mais crítico em relação ao pastor que transformou o bairro em seu playground de mídia social. O povo de sua igreja vive em lares desfeitos, ele faz postagens sobre eles simplesmente para motivar doadores e equipes de ministério. Os pobres de sua comunidade são uma mercadoria. Eles fornecem a ele um fluxo interminável de amigos que vivem vidas “normais”, parabenizando-o por “realmente estar fazendo a obra do Senhor”. Ele não está preso àquele bairro como as pessoas que frequentam sua igreja, e ele parece ministrar de uma maneira que sempre mantém seu outro mundo e os amigos informados e preparados para quando ele precisar retornar ou se mudar.

Uma cidade como Detroit verá muitos desses pastores “favelar” por alguns meses ou anos antes que Deus “misteriosamente redirecione” seu chamado para o lugar em que seus seguidores nas redes sociais sempre viveram. Eles eram sua verdadeira congregação o tempo todo.

É fácil criticar essa falta de compromisso, mas ainda há mais auto exaltação e autojustificação do que possa parecer.

3. Lembre-se a quem serve.

O apóstolo Paulo oferece palavras revolucionárias em 1 Coríntios para todo crente, especialmente ministros do evangelho:

“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argui a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus (1Co 4.1-5).

Paulo conhecia o ímpeto de seu próprio coração, e no coração de cada pastor, de se auto exaltar ou se auto justificar. Pastorear entre os pobres traz incontáveis ataques à sua identidade. A igreja plantada no bairro cresce lentamente e é atormentada por lutas. Os membros da igreja se voltam contra você e começam a caluniá-lo para os outros. Sua igreja fica fora dos holofotes (e da planilha de orçamento) de alguns apoiadores.

Cada uma dessas lutas traz uma acusação implícita, às vezes explícita, sobre você e seu ministério. Você é realmente o tipo de pastor que devemos apoiar? Você está realmente sendo fiel com seu tempo e energia? Você é mesmo tão ruim quanto as histórias que ouvi?

Mas Paulo lembra aos coríntios que reconhecimento e exaltação não são postos em votação. Não existe um tribunal humano que determine seu valor e recompensa no ministério. O único veredicto que importa será aprovado pelo Senhor Jesus no tempo designado.

Conforto e Clareza

Dessa maneira, 1 Coríntios 4 oferece tremendo conforto e clareza. Conforto, porque sabemos que o Senhor Jesus avalia o coração e levará tudo em conta no julgamento. Clareza, porque temos uma expectativa simples: fidelidade. Não seremos comparados com outros pastores. Não seremos medidos pelas métricas de crescimento do nosso “network”. Não haverá nenhum voto popular. O Senhor avaliará nossa fidelidade com base na responsabilidade que ele colocou em nós com os dons que ele nos confiou.

Muitos pastores nunca sentem o conforto dessa clareza. Confundimos as avaliações do homem com o padrão de nosso Senhor. Quando as pessoas nos rejeitam ou simplesmente param de nos elogiar em voz alta, entramos em pânico. Quando os oponentes surgem, nos preocupamos. Quando outros conseguem, nós cobiçamos.

Explicamos as complexidades do ministério entre os pobres e garantimos que todos saibam que nossas lutas se devem às nossas circunstâncias, não às nossas limitações ou fraquezas. Nós colocamos o ministério em lugares difíceis, sob uma luz que nos protege de qualquer “queda nas pesquisas”. Ao fazer isso, revelamos nossa necessidade de aprovação do tribunal humano.

Outros, talvez especificamente os obstinados plantadores de igrejas entre os pobres, busquem sua exaltação e recompensa na aprovação do julgamento humano, enquanto buscam a aprovação de um homem; ou seja, deles mesmos. Eles gastam sua energia tentando provar a si mesmos que estão realmente servindo ao Senhor. É um erro tão trágico quanto buscar a aprovação de outras pessoas.

Confiança Estabelecida

O pastor não buscará a fidelidade a menos que confie sua exaltação e reconhecimento somente ao Senhor. O coração do pastor deve se estabelecer na confiança que somente Cristo proporciona. A justificação que Cristo garante através de sua morte sacrificial deve ser suficiente. A exaltação dos humildes, que ganhamos com o rei gloriosamente ressuscitado, deve ser suficiente (Mt 23.12). O coração que busca exaltação e reconhecimento em outro lugar está na mira do inimigo.

O pastor que confia em Jesus para uma avaliação clara e definitiva é livre para enfrentar as flutuações da opinião popular. O pastor que repousa seu veredicto final em Cristo é liberado para tratar sua reputação como uma questão pequena. O pastor que sabe que o Senhor levará todos os fatos em consideração – até as motivações do coração – desfruta de segurança ao lidar com acusações e ataques.

O coração do pastor que repousa na avaliação última de Cristo é livre para ser fiel e abnegadamente pastorear as ovelhas que lhe foram confiadas. O coração do pastor que liberta as buscas triviais de aprovação ou autoconfiança do público é protegido pela obra de Cristo das ciladas do inimigo. A plataforma que o inimigo queria usar para alcançá-lo é mais uma vez uma plataforma somente para a glória de Jesus Cristo.

Por: David Doran Jr. © 20schemes. Website: 20schemes.com. Traduzido com permissão. Fonte: The Pastor’s Heart Among the Poor.

Original: O coração do pastor entre os pobres. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.