5 razões pelas quais os cristãos negligenciam a beleza na teologia

O ser humano se caracteriza pelo senso de beleza. A beleza demanda nossa atenção. Não há como escapar à tarefa estética.

Se a prática estética é de responsabilidade de todos, isso se torna especialmente verdade para nós, cristãos. Fazer estética não é tanto uma opção teológica, mas sim uma necessidade teológica.

Não é exagero argumentar que a igreja evangélica tem amplamente negligenciado a investigação teológica sobre a natureza da beleza e da estética. Em geral, reflexões e textos sobre o assunto são produzidos por profissionais da filosofia e dentro do campo específco da estética. Os cristãos ficam nas beiradas. Não deveria ser assim.

Aqui estão cinco fatores que contribuíram para a ausência de contribuições especificamente evangélicas para o debate.

1. O espectro de um dualismo ascético

Esse espectro obscurece uma abordagem distintamente cristã da beleza e da estética. Na história da igreja, sempre houve a tendência de erigir uma dicotomia entre o espiritual e o físico. Em geral esse dualismo gera um ascetismo que torna os cristãos profundamente desconfiados dos elementos em que a beleza encontra sua mediação primária: o corpo e os sentidos. Como seres holísticos que somos, porém, a experiência sensória tem um papel fundamental na nossa formação, nos níveis cognitivo, afetivo e volitivo.

Uma visão de fato cristã da beleza e da estética poderia nos capacitar a discernir melhor e compreender o propósito de Deus para os prazeres sensórios. Pois, se nossos afetos não estiverem arraigados em parâmetros bíblicos e orientados por eles, serão espúrios e pouco genuínos.

2. Uma profunda suspeita da beleza

Essa suspeita vem do medo da idolatria. Em outras palavras, a beleza e a estética muitas vezes foram deixadas de lado por causa de seu poder de atração.

Mas Deus não proíbe a admiração da beleza, nem a produção de coisas belas; proíbe, sim, a adoração delas. A idolatria é um problema do coração, não da beleza. De fato, uma visão da beleza que seja teocêntrica desalojará a idolatria, posicionando a estética como algo que aponta para a adoração. De modo último, entendemos que Jesus é a imagem de Deus que descreve perfeitamente a beleza do Pai (Cl 1.15-20; 2Co 3.12-18; Hb 1.2-3).

3. Divórcio dos transcendentais

Após o Iluminismo dos séculos 17 e 18, o divórcio das realidades transcendentais (verdade, bondade e beleza) efetuou uma separação entre, de um lado, o belo, e de outro, os parâmetros que proveem sentido para o belo, ou seja, o bom e o verdadeiro. Quando os transcendentais são compartimentalizados, a beleza se torna mero sentimentalismo, a verdade se torna apenas fato histórico e a bondade, moralismo vazio. Tristemente, como observou Patrick Sherry, os teólogos tratam a beleza como Cinderela, mas a verdade e a bondade como suas meias-irmãs feiosas.

Uma visão mais equilibrada dos transcendentais ajudará a gerar uma visão mais acurada da vida cristã e do lugar da beleza na teologia cristã. De fato, esta é uma das áreas mais negligenciadas da apologética cristã na teologia moderna.

4. Utilitarismo na vida moderna

A beleza e a experiência estética são geralmente desprezadas porque não são úteis diretamente para a vida comum. Dennis Hollinger observou que culturas pragmáticas e orientadas para resultados costumam perceber a estética como supérflua e sem relação alguma com a espiritualidade.

No entanto, a beleza tem o poder de nos trazer para uma esfera de vida e espiritualidade que uma abordagem puramente racional jamais alcançaria. Assim, os perigos de limitar a beleza a seu valor utilitário são duplos: reduzir o Deus da criação e roubar a humanidade de um vasto terreno a ser explorado.

5. Alergia à teologia natural e à revelação geral

Essa reação alérgica tem uma longa e conspícua história no cristianismo. Ainda assim, através dos tempos muitos são os que ecoam o salmista ao tratar da criação como “obra das mãos de Deus” (Sl 19.1), comparando-a a uma obra de arte que ao mesmo tempo é bela em si mesma e expressa a personalidade do Criador.

Enquanto o mundo natural não é tanto uma fonte para a teologia assim como é uma inspiração para a teologia, a beleza e a experiência estética podem ser utilizadas em uma analogia plena de significados com o Criador de todas as coisas. Jonathan Edwards bem o sabia: “Quando nos deleitamos com os campos floridos e as leves brisas, podemos considerar que estamos apenas vendo as emanações das doces benevolências de Jesus Cristo.”

Contempla teu Deus, que é belo

Enquanto essas cinco observações podem nos inquietar, não se perdeu toda a esperança da igreja para a integração teológica entre beleza e estética para a vida cristã. De muitos modos, a fundação teológica sobre a beleza e a estética estabelece a trajetória de uma compreensão especificamente cristã deste belo mundo.

Como cristãos, entendemos que a revelação da beleza é um ato de autorrevelação do amor de Deus. Afirmar os fundamentos teológicos da beleza e da estética significa apontar somente para Deus como fonte e substância da verdadeira beleza. E não somente fomos manufaturados à sua imagem como criaturas estéticas, mas fomos providos de capacidade para apreciar e cultivar o que é belo.

É exatamente nesse ponto que os pensadores cristãos são os verdadeiros estetas. Entendemos que todo o nosso desejo por beleza é finalmente satisfeito em Jesus Cristo, à medida que o Espírito nos dá olhos para ver. Nesse sentido, os cristãos deveriam estar à frente de todos nas discussões sobre beleza e estética.


Por: Matt Capps. © The Gospel Coalition. Website: thegospelcoalition.org. Traduzido com permissão. Fonte: 5 Reasons Christians Neglect Beauty in Theology.

Original: 5 razões pelas quais os cristãos negligenciam a beleza na teologia. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Norma Braga. Revisão: Filipe Castelo Branco.