Conecte-se: cultivando amizades em tempos de isolamento

Se fizéssemos uma rápida enquete com um grupo de mulheres cristãs e perguntássemos a elas quais as maiores dificuldades que elas encontram dentro da igreja, acredito que a maioria responderia: falta de amizades. Nos dias de hoje, infelizmente, essa é uma realidade muito comum mesmo entre os da fé; cultivar boas amizades tem sido um desafio cada vez mais difícil, desafio que nem sempre estamos prontas a assumir.

Frequentemente reclamamos que é difícil encontrar amizades verdadeiras dentro da igreja, mas apesar do forte anseio por amizades reais e cristãs, nem sempre estamos dispostas a ser vulneráveis ao ponto de nos abrirmos para criar relacionamentos e vínculos duradouros, “raramente temos tempo” para investir e dificilmente estamos dispostas a abrir nossas portas, oferecer um chá da tarde e acolher nossas irmãs em Cristo.

Amizades necessitam de tempo, paciência, determinação e reciprocidade. Aliás, este é um elemento importante que muitas vezes nos escapa na equação. O fato de termos uma fé em comum não significa que todos os nossos relacionamentos com mulheres cristãs resultarão em amizades profundas. Amizades nascem de um conjunto de fatores: gostos, experiências, necessidades, por isso, não devemos nos culpar tanto se determinada tentativa de criar uma amizade não der certo; há uma série de fatores que precisam cooperar para que isso ocorra. Como escreveu C.S. Lewis em seu livro “Os Quatro Amores”, a amizade nasce quando percebemos que há muito mais coisas em comum com o outro do que imaginávamos, é quando duas pessoas se descobrem uma a outra dizendo: “O que? Você também? Eu pensava que eu era a única!”

Em uma geração que exalta tanto a independência e o individualismo precisamos valorizar a amizade, uma virtude rara. Amizades importam, pois não fomos criadas para a solidão, todas precisamos de pelo menos uma amiga para nos afiar, assim como o ferro afia o ferro. Mas muitas vezes o orgulho cria uma barreira em volta do nosso coração que nos impede de dar o primeiro passo.

Em tempos de isolamento, podemos perceber ainda mais o quanto precisamos de amigas. Alguém para quem ligar, com quem se importar e que se importe conosco – reciprocidade. Quão triste é perceber que não temos essa(s) pessoas(s) em nossas vidas. Talvez você esteja se sentindo muito sozinha ao longo desta quarentena, enquanto muitos compartilham suas conversas com amigos, você se sente à parte do mundo em todos os sentidos. Contudo, pode ser que você não seja a única nesse barco, talvez haja alguma mulher na sua igreja, uma conhecida que, assim como você, também esteja enfrentando a solidão nesses dias.

E, se ao invés de se lamentar por não ter uma amiga que te ligue você desse o primeiro passo e ligasse simplesmente para saber como ela está? Esse já seria um bom início de conversa. Que tal convidar uma irmã na fé para ler a Bíblia com você, assistir um filme online, uma série, ler o capítulo de um livro ou orar com você?

Conecte-se

Para além do termo virtual, nós precisamos nos conectar às pessoas. Infelizmente, nem sempre temos oportunidade de conversar e compartilhar uns com os outros após os cultos em nossas igrejas, por isso, os pequenos grupos, clubes de leitura, grupos de esposas, jovens e adolescentes, chás de mulheres etc. são meios maravilhosos para isso. Não se prive desses encontros, precisamos ser parte para nos sentirmos parte. Muitas vezes reclamamos da falta de amizades, mas também não fazemos questão de participar de momentos que promovam comunhão e interação com outros membros da igreja. Se queremos criar vínculos e relacionamentos reais, precisamos nos conectar de maneira intencional.

Providencialmente, nesses dias de isolamento o Senhor tem nos concedido a oportunidade ímpar de nutrirmos relacionamentos, deixarmos de lado nossas desculpas e perceber a necessidade de cultivarmos novos relacionamentos. Por isso, te convido a deixar de lado as desculpas e dar um passo para que isso ocorra. Como disse o Pequeno Príncipe[i], “as pessoas são solitárias porque constroem muros ao invés de pontes”, que nesse tempo de isolamento quebremos os muros em volta dos nossos corações e os transformemos em pontes.


[i] N.E.: O Pequeno Príncipe é uma obra do escritor, ilustrador e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, onde o personagem principal tem o nome do título do livro.

Por: Prisca Lessa. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: Conecte-se: cultivando amizades em tempos de isolamento.