Complementarismo: um momento de acerto de contas (Parte 3/5)

Como avançar? Uma melhor compreensão da autoridade e da igualdade

Parte 3: Como avançar? Uma melhor compreensão da autoridade e da igualdade.

Como então avançamos na conversa complementarista?

Um caminho errado a seguir é ser o tipo de complementarista que só sabe criticar outros complementaristas, mas nunca o faz com um argumento positivo, mas com algo como o “Eu não sou esse tipo de complementarista”.

Um caminho errado a seguir é afirmar as categorias das diferença, mas nunca colocar conteúdo dentro dessas categorias. Isso pode levar a um igualitarismo funcional em nosso discipulado.

Um caminho errado a seguir é afirmar a igualdade de homens e mulheres, mas nunca pregar sobre o trabalho essencial e indispensável das mulheres. Isso pode levar a subestimar o papel das mulheres na Grande Comissão.

Um caminho errado a seguir é se concentrar na autoridade masculina, mas não no serviço ou responsabilidade masculina; ou apenas falar sobre o que as mulheres podem fazer, não o que elas não podem fazer. Al Mohler responde a essa retórica: “A realidade é que qualquer posição coerente inclui tanto afirmação como negação, e devemos ser honestos sobre isso”. Os cristãos sempre devem perguntar o que podemos fazer e o que não podemos fazer.

O crescimento cristão não ocorre apenas pela liberdade de restrições. Vem através da liberdade de nos conformarmos com a verdade de Deus. Ocorre quando restringimo-nos pela obediência, pela disciplina, pelos limites, como uma pequena planta fortalecida por uma estaca, uma roseira tornada saudável pela poda ou uma criança que ganha sabedoria através do estudo. Ser mulher, como eu disse, é ser um tipo de plataforma para o mandato cultural e a Grande Comissão, e ser homem é outro tipo. Louvem a Deus por seus dons harmoniosos.

Acredito que um melhor caminho a seguir significa esperar que o mundo, a carne e o diabo ataquem a igualdade e a diferença de gênero, em momentos diferentes e de maneiras diferentes. Portanto, os cristãos devem continuar a procurar nas Escrituras um melhor entendimento de cada um, sempre prestando atenção a novos horizontes e a novas ameaças. Mais especificamente…

Precisamos de um entendimento mais bíblico da autoridade.

Existe uma versão satânica de autoridade e uma versão piedosa de autoridade. Há autoridade como pretendida na criação e exercida em redenção, e há autoridade como exercida na queda. A autoridade divina cria a vida, como a raiz da própria palavra. Constrói, equipa, fortalece, serve. A autoridade satânica rouba, toma, diminui, destrói.

A autoridade divina, conforme estabelecida nas Escrituras e como eu a testemunhei, raramente é uma vantagem para quem a possui. Envolve liderar e tomar decisões, com certeza. Jesus liderou. E o que o líder piedoso sente no dia-a-dia não são as vantagens, mas os encargos da responsabilidade, da sua culpabilidade e até de carregar a culpa de outro. Isso custa profundamente caro, geralmente envolvendo sacrifício de tudo. Requer o fim dos desejos pessoais. Enquanto isso, aqueles que estão “sob” essa autoridade geralmente possuem a maioria das vantagens. Eles recebem proteção e oportunidade, força e liberdade. Não é, tudo isso, exatamente o que vemos no uso da autoridade de Jesus?

Além disso, precisamos entender melhor a diferença entre a autoridade de comando e a autoridade de conselho. Ambos os tipos de autoridade possuem a capacidade de comandar – injunções vinculativas à consciência, como em “Você deve …” No entanto, apenas aqueles com autoridade de comando fazem uso do poder de imposição. Aqueles que possuem autoridade de conselho não o fazem.

Por exemplo, Deus concede ao Estado um mecanismo de execução. Ele chama de “a espada”. Ele dá aos pais de crianças pequenas um mecanismo de fiscalização: “a vara”. Ele também dá a toda a congregação esse mecanismo: “as chaves”. A espada, a vara e as chaves permitem que seu portador imponha unilateralmente seus comandos. O estado envia o criminoso para a prisão. Os pais disciplinam a criança. A congregação excomunga o membro.

Agora, pare e pense: a Bíblia em algum lugar dá aos maridos esse mecanismo de imposição? E os pastores ou presbíteros? Nos dois casos, acredito que a resposta é não. Maridos e pastores possuem verdadeira autoridade, porque Jesus responsabilizará as esposas e os membros da igreja no último dia. Mas maridos e pastores não possuem esse direito moral de Deus (autoridade) para impor suas decisões.

Isso molda dramaticamente a natureza da autoridade complementarista e protege contra abusos. Os maridos devem viver com as esposas de maneira compreensiva. Pastores devem pregar com muita paciência. Nos dois casos, eles devem amar, ser gentis, atenciosos. Eles lideram pelo ensino e pelo exemplo, mas também devem ser os melhores ouvintes e os mais compreensivos. O objetivo nunca é forçar decisões. Decisões forçadas de esposas ou de membros da igreja valem pouco. Em vez disso, o objetivo em ambos os casos é obter decisões tomadas a partir do amor e até da atração. O cuidado amoroso do marido deve ser atraente para a esposa. A santidade de um presbítero deve ser atraente para um membro.

Precisamos de um entendimento mais bíblico da igualdade

Assim como existe uma versão satânica e uma versão piedosa de autoridade, também há uma versão satânica e uma piedosa de igualdade. A versão satânica é um produto de Gênesis 3: “sereis como Deus”. Você é igual a Deus. Você pode definir e criar um universo para si mesmo. Tudo dentro de você é bom.

Essa versão satânica da igualdade opera pelo poder. É definida nos termos do eu. Ela olha para dentro, lista os bens e virtudes do eu e depois se afirma comparando-se aos outros. “Eu sou tão inteligente quanto ele”. Ela possui um forte senso de direito. Vive fazendo exigências. “Eu mereço isso. Eu tenho direito a isso”. Por fim, a igualdade satânica gera uma guerra de todos contra todos, à medida que todos fazem suas exigências.

A igualdade piedosa tem pouco ou nenhum espaço para atribuições de papéis, responsabilidades, diferenças e, acima de tudo, hierarquias. Ela procura nivelar todas as hierarquias porque o sentido do eu está enraizado no eu e, portanto, pode tolerar poucas limitações impostas externamente. Em um momento, elogia a “diferença”, mas no próximo a sufoca porque a diferença sempre parece uma ameaça à igualdade. Assim, tende à semelhança, à androginia, à conformidade.

A igualdade piedosa segue o pensamento de curto prazo. Promete ganho imediato: você será como Deus. Portanto, despreza qualquer papel para submissão ou discussão de restrições. Ela vive em autoafirmação contínua.

É individualista e, portanto, insensível às preocupações dos outros, pois a identidade se enraíza no eu. É hipócrita e auto justificado, sempre convencido de que seus argumentos estão corretos; isso acaba destruindo relacionamentos. Emprega grupos e identidades de grupo para propósitos pragmáticos e com finalidades egoístas. Os grupos servem para exaltar e capacitar o eu.

A igualdade piedosa, por outro lado, é mostrada dois capítulos anteriores em Gênesis: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher, os criou”. Essa igualdade não é perturbada pela distinção entre homem e mulher, ou, implicitamente, por qualquer outra diferença que ele possa ter estabelecido entre os portadores dessa imagem. A igualdade está enraizada no dom de sua imagem. Portadores dessa imagem são iguais em virtude da imagem de Deus.

A igualdade piedosa depende da Palavra de Deus. É definido nos termos de Deus. Diante das desigualdades deste mundo, ela é descoberta pela fé. Seu modo padrão não é poder, mas humildade, uma humildade que lhe permite falar com toda a força de alguém que ouviu Deus falar, mesmo quando as comparações externas falham. Começa ouvindo: “Quem Deus diz que eu sou”? Essa igualdade faz perguntas e busca suas responsabilidades: “Deus, o que o Senhor gostaria que eu fizesse”?

A igualdade piedosa não se sente ameaçada pelos papéis, responsabilidades e até hierarquias dadas por Deus. Delicia-se na diferença, confiando que toda distinção designada por Deus possui propósito e contribui para as inúmeras refrações de sua glória. Não pressupõe que as designações de Deus para diferentes mordomias e posições, responsabilidades e papéis enfraquecem a igualdade. Em vez disso, as vê como muitas partes de um corpo, cada uma delas com a finalidade de fazer o trabalho de todo o corpo. Segue o pensamento de longo prazo.

Portanto, a igualdade piedosa mantém espaço para sacrifícios, restrições e o chamado à submissão. Afinal, Deus dá uma função a todos. E para cada trabalho ele estabelece um conjunto de regras, procedimentos e limites jurisdicionais. Todos nós devemos dirigir dentro de nossas faixas, seja um líder ou um seguidor. Todos nós devemos manter o limite de velocidade e dirigir na direção que ele nos diz para dirigir. Todos devemos nos submeter a ele e à sua lei. Os líderes lideram e os seguidores seguem – tudo em submissão a ele. Nesse sentido, não há diferença, para um humano, entre liderar e ser liderado. Liderar de acordo com a lei de Deus é ser liderado de acordo com a lei de Deus. Elas são a mesma coisa, porque a lei dele é única.

A igualdade divina mantém espaço para a diferença, definida hierarquicamente ou não, porque todos e tudo servem a Deus. Todos devem se submeter a ele, ou receber o fogo de seu julgamento se não o fizerem. No entanto, viver de acordo com sua lei, diz o salmista, é uma bênção. Cria uma comunidade de paz, harmonia, shalom, onde os indivíduos dão frutos como árvores plantadas junto às correntes das águas.

Finalmente, a igualdade divina é mais sensível às necessidades dos outros. Ela reconhece o vínculo compartilhado entre toda a humanidade em virtude de nossa criação comum à imagem de Deus. Possui uma postura humilde em relação aos outros, reconhecendo que tudo o que uma pessoa possui vem lá do alto. Aponta para grupos e identidades de grupo para fins teológicos. Se Deus criou algo, é bom e deve ser celebrado, porque nos ensinará sobre ele.

Por: Jonathan Leeman. © 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: Complementarianism: A Moment of Reckoning (Part 3).

Original: Complementarismo: um momento de acerto de contas (Parte 2/5). © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.