Pensando de forma cristã sobre pornografia e masturbação

Escrevo este texto porque, como pastor, recebo pedidos de ajuda de jovens (99% homens) que sofrem com o problema da pornografia e masturbação e já tentaram de tudo para se livrar de tais práticas, mas não conseguem encontrar uma saída. Muitos deles me relatam que por não serem capazes de vencer tais pecados se sentem desanimados na fé e não poucos passam a duvidar se perderam a salvação. O que a fé cristã tem a dizer sobre isso e qual seria a melhor estratégia para vencer a pornografia e masturbação?

Inicialmente, eu sugiro que pensemos brevemente a respeito de Gênesis 2.24; Êxodo 20.14; Mateus 5.27-28; e Gálatas 5.16.

O texto de Gênesis 2.24 reflete a ideia original do Criador em estabelecer a relação conjugal como o ambiente próprio para a prática da sexualidade. Em seguida, a referência ao sétimo mandamento nos ensina que o mandamento de não adulterar é a perversão do projeto original de Deus, isto é, todas as formas de relação sexual que não se praticam dentro do formato heterossexual-monogâmico são distorções do projeto original estabelecido pelo Criador. A última passagem reflete a interpretação de Jesus sobre o mandamento de “não adulterar”, afirmando que qualquer que olhar para uma mulher (ou homem) para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. Ou seja, Jesus denuncia que os atos externos são resultados dos nossos desejos mais internos. Pensando nisso, podemos dizer três coisas sobre pornografia e masturbação:

Primeiro, masturbação e pornografia são perversões egoístas da sexualidade. A Bíblia não fala nada sobre este assunto, é verdade, porém fala muito sobre sexo. A maioria das pessoas acha que sexo existe para ter e conseguir prazer. O grande alvo do sexo, então, é a autossatisfação. Nada mais pobre e falso do que isso. Deus criou o sexo não para eu conseguir prazer, mas para eu oferecer prazer. A questão não é receber, mas dar. Por isso, a masturbação é uma disciplina que te treina sempre para sua própria satisfação e não para a satisfação do outro. É um prazer egoísta que te distância do verdadeiro amor. No fim das contas, você se sente cada vez mais solitário e menos saciado.

Segundo, masturbação e pornografia promovem uma imagem ilusória da sexualidade. Além disso, sua alma se alimenta de uma fantasia sexual totalmente falsa. A realidade sexual-amorosa é completamente diferente de um filme pornô. Quanto mais você buscar uma relação baseada em fantasias mais você será viciado num prazer pobre, egoísta e enganoso. Se, pelo contrário, você buscar o casamento e uma relação de amor baseada na doação, Deus te garante o prazer que você jamais poderia imaginar. Quando alguém diz: “eu te amo e quero fazer sexo com você, mas não quero casar com você”, na verdade, o que ela está dizendo é: “Eu quero fazer sexo com você, mas não te amo o suficiente para casar com você.”

Terceiro, masturbação e pornografia são maneiras ineficazes de lidar com a carência e solidão. A Sociedade dos Solitários inglesa constatou que 60% dos jovens de Londres se sentem solitários pelo menos uma vez durante a semana. Não é verdade que nós também nos sentimos sozinhos e vazios? Você já experimentou a dor de viver sozinho? Você já sentiu a dor de não ter ninguém por perto quando o que mais queria era ser amado? Eu quero dar uma boa notícia para você: mesmo durante a nossa solidão podemos experimentar a companhia de Jesus Cristo. Só ele sacia o buraco social da nossa alma. Deixo um desafio também: aproxime-se de alguém; ouça, veja, toque e fale. Fique um pouco off-line da rede virtual para ficar on-line na vida real.

O que fazer para lidar com o problema? Em primeiro lugar e além de reconhecer tais expressões da nossa sexualidade como distorções da sexualidade aprovada pelas Escrituras, todo cristão deveria entender que o arrependimento de tais práticas não é o suficiente. É o primeiro passo de muitos outros. Após profundo arrependimento, é necessário entender que Cristo morreu por todos os nossos pecados, inclusive por nossas escolhas pornográficas. Nossa pornografia afetou a Cristo. Precisamos entender que todos os nossos pecados são como pregos que prenderam nosso Senhor naquela cruz maldita.

Em segundo lugar, é necessário compreender que a busca pela comunhão com Deus irá (ou deveria) produzir novos desejos em nosso interior. Veja Gálatas 5.16: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.” Masturbação e pornografia são guerras que devem ser lutadas e vencidas com armas espirituais. Há uma briga entre nossa inclinação para o pecado e as inclinações santas que o Espírito de Deus produzem em nosso coração. Se queremos que as inclinações do Espírito sejam vencedoras nessa guerra, precisamos encher nosso coração do Espírito por meio da Palavra, adoração, cânticos, comunhão, bons hábitos e disciplina espiritual.

Em terceiro lugar, todo cristão precisa perceber que a santificação é um processo comunitário. É na cruz de Cristo que recebemos o perdão dos pecados, mas a cura deles vem da confissão mútua. Tiago escreve: “Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tiago 5.16). Em outras palavras, amigos espirituais podem nos ajudar a curar nossos vícios que atentam contra a pureza sexual que o Senhor espera de nós. Se você está nesse experimentando esse dilema da impureza, procure entender que a confissão de pecados e prestação de contas a amigos realmente confiáveis é um método eficaz para te ajudar a vencer o problema.

Em quarto lugar, o cristão envolvido com pornografia e masturbação precisa discernir se a prática é pontual ou já se tornou um vício. No primeiro caso, a cura é mais fácil e rápida: é arrependimento imediato, a busca por um amigo que você possa se confessar e tratar a questão pela via da abstinência do veículo que te leva à pornografia (celular, computador, revista e etc.). No segundo caso, porém, a situação mais complicada e vai exigir mais tempo e esforço. Assim como o vício do alcoolismo, que para ser superada exige abstinência, reclusão e a formação de novos hábitos, aqueles que estão viciados em pornografia e masturbação precisarão ter mais paciência, pois levará mais tempo se livrar dessa dependência pornográfica.

Não é uma questão de apenas dizer “você precisa parar de fazer isso!” De fato, esse tipo de resposta, embora esteja correto enquanto ao mérito da questão (pecado), não oferece nenhuma estratégia para vencer o vício. O caminho para vencer a dependência de qualquer coisa passa por entendermos como se formam as virtudes do caráter.

Segundo a tradição cristã clássica, ações se repetidas se convertem em práticas; práticas quando são repetidas se transformam em hábitos; e hábitos quando mantidos por longos períodos de tempo são sinais do nosso caráter. Agora pense, você acha que a sua dependência da masturbação e pornografia se transformou num hábito? Se sim, o único jeito de reverter a situação é fazendo o processo reverso, isto é, concentrar-se em novas ações, repeti-las até se converterem em práticas, para que com muita disciplina você crie novos hábitos que irão mantê-lo distante da masturbação.

Para começar, identifique quando e sob quais circunstâncias do dia a dia você está habituado à masturbação. Em seguida, pense em outras atividades que você pode substituir por aquela prática, sejam exercícios físicos, leitura, trabalho ou diferentes formas de entretenimento.

Após substituir à prática por novas práticas, o seu desafio será repeti-las por um período de no mínimo três meses até que seu cérebro e corpo de adaptem à nova rotina. Nesse ínterim, redobre seus momentos de oração, leitura das Escrituras, comunhão, tempo com a família e com outras atividades que te tornam uma pessoa produtiva.

Se você for disciplinado, bem nutrido espiritualmente e continuar a ser mentoriado por amigos espirituais com os quais você se confessa com frequência, a tendência é que você seja liberto do vício da masturbação e consumo de pornografia em menos de um ano.

Você nunca chegará a lugares diferentes se continuar percorrendo os mesmos caminhos. Lembre-se, ações se repetidas se tornam práticas que, se repetidas, transformam-se em hábitos que, ao serem cultivados, são os sinais do seu caráter. Pare de acreditar em fórmulas mágicas que vão resolver o seu problema imediatamente. Deus pode sim fazer milagres, mas ele já estabeleceu o padrão operacional de como podemos nos livrar de velhos hábitos. Sejamos sábios e persigamos esse projeto de santificação diariamente.