Conselho de J.I. Packer para aspirantes a escritores

J. I. Packer faleceu na última sexta-feira, aos 93 anos. Ele foi um escritor habilidoso, e muitos de seus trabalhos se tornaram clássicos, como a sua obra mais famosa O Conhecimento de Deus.

Na minha entrevista com ele em Vancouver, pedi-lhe conselhos para escrever, ou mais especificamente, o que ele diria a um escritor em início de carreira de literatura cristã. Ele ofereceu três pontos:

  1. Mergulhe profundamente na adoração pessoal.
  2. Escreva para atingir corações.
  3. Escreva como um chamado.

Ele explica e expande esses pontos neste vídeo de 9 minutos:

Transcrição do vídeo:

Em primeiro lugar, eu diria: Se aprofunde na sua compreensão sobre Deus, em Sua vontade, em Seus caminhos e no espírito da adoração porque você precisa estar expressando estas coisas constantemente em todos os textos que você escreve.

Em segundo lugar: Você, assim como os pregadores, precisa entender que é tão importante se comunicar com as pessoas quanto que você coloque diante delas a verdade e a sabedoria da Palavra de Deus. Há escritores que acham que, por fazerem formulações ortodoxas sobre a verdade e a sabedoria da Bíblia, sem procurarem qualquer aplicação ao leitor, estão cumprindo o papel de um escritor cristão e que nada mais é requerido deles. Eu não acredito que seja assim… Já existem muitos escritores que conseguem verbalizar ortodoxia no papel mas não temos muitos escritores que conseguem unir a verdade e a sabedoria de Deus a partir das Escrituras, com uma comunicação pessoal que atinge o coração do leitor, que faz o leitor perceber que este escritor é uma pessoa que está conversando com outras pessoas, que esse escritor está procurando algo em mim, a fim de me ajudar, e eu devo deixar ele fazer isto. Há uma certa arte e habilidade na escrita que faz com que ela chegue ao coração do leitor. Às vezes penso que Deus me permitiu fazer isso nas coisas que já escrevi. Não foi um acidente… É algo que tenho tentado fazer, e continuarei tentando fazer.

Então, ao escritor iniciante eu diria que este é um ofício que você deve aprender. Os jornalistas aprendem, (exceto aqueles que costumam ficar na superfície das coisas) e são habilidosos em fazer com que os leitores sintam que: “Esse sujeito está conversando comigo sobre aquilo que ele está escrevendo”. Isso é comunicação pessoal. Então, eu acredito que todos os escritos cristãos devem ser assim.

Neste ponto, os Puritanos são de grande ajuda porque a literatura Puritana, em sua maioria, são sermões escritos, e ela tem como objetivo, desde o início, (e você percebe isso nos primeiros parágrafos das obras dos Puritanos) entrar nas pessoas, de maneira que certos sermões que Deus abençoou possam fazer isto. E todo o layout desse material nos mostra, e não preciso dizer nada além disso, mas simplesmente digo que ela nos ajuda a escolher os melhores modelos, através dos quais você pode se moldar, e aprender as fazer como os puritanos fizeram, não necessariamente os imitar, até porque a forma que eles expunham seus materiais, colocando muitos pontos de forma ordenada, subdivisões e coisas assim, não é de muita ajuda para realizar a comunicação… Dois ou três subtítulos em um capítulo completo normalmente é o máximo que o leitor precisa, mais do que isso faz com que o leitor sinta: “Este escritor está sendo impossivelmente didático comigo, e essa insistência em repetir certos pontos ou a tentativa de fazer isso, não me faz imergir no livro mas me tira dele”.

Então, o segundo ponto é: aprenda a escrever para pessoas, ou seja, escrever de uma forma que as pessoas irão apreciar. Eu acho que os escritores modernos são os que melhor fazem isso, talvez “modernos” não seria a palavra correta, mas leiam os livros de J. C. Ryle, que foi o primeiro bispo de Liverpool no final do Século XIX. J. C. Ryle era um ótimo comunicador. A maior parte de suas obras são sermões, mas mesmo quando ele está fazendo estudos históricos, ele nunca deixa o leitor se desconectar… Você sempre sente: “Ele está falando comigo”. Claro que sua linguagem é do Século XIX, e não estou dizendo para você imitar isso, mas para que você veja o que ele está fazendo com as palavras, e em como ele entra na mente e no coração dos leitores. Então faça isso, só que nos termos do Século XXI.

A terceira coisa que eu diria a um escritor iniciante é para que ele não tente ser um escritor a não ser que tenha algo a dizer sobre aquilo que sente e que precise ser colocado no papel, e que você esteja sendo chamado para isso. Em outras palavras, escrever é tão vocacional quanto a pregação. Você sente um chamado de Deus para fazer isto, e o escritor que não tem o chamado de Deus, ainda que ele tecnicamente seja habilidoso, muito em breve ele irá entediar seus leitores, e irá fazer eles sentirem: “Isto é raso, eu não preciso ler este livro, posso continuar minha vida sem ele”.

Eu colocaria isso como um desafio para aquele que quer ser um escritor… Tenha certeza que seus escritos sejam importantes, e que o próprio Deus está pedindo que você escreva.

Dito isto, eu acho que diria a um escritor iniciante tudo aquilo que poderia ser dito em uma primeira conversa, que ele ou ela poderia voltar  para ouvir mais conselhos, mas devo dizer que isto foi uma “refeição completa” de exortações, para encorajar aqueles que querem ser escritores, para que se tornem escritores de verdade para Deus.

Por: Tony Reinke. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: J. I. Packer’s Advice To Aspiring Writers.

Original: Conselho de J.I. Packer para aspirantes a escritores. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Higor Vasconcellos. Revisão: Filipe Castelo Branco.