Quando ter tudo significa não ter filhos

Em 2013 eu já estava de casamento marcado com minha esposa. No verão que antecedeu a cerimônia me deparei com a capa da TIME na mesa da cozinha da casa de meus futuros sogros com o seguinte título: Quando ter tudo significa não ter filhos. A imagem do jovem casal deitado na praia – uma expressão do hedonismo de nossa geração – fez-me refletir muito.

A matéria da TIME estampou a inegável realidade de jovens casais que querem todas as realizações profissionais, pessoais e afetivas e por isso mesmo não encontram tempo em suas agendas para gerar vidas. Depois de conhecer o mundo, ganhar promoção profissional, ter estabilidade financeira que julgam adequada, o casal talvez já desenvolveu hábitos que não mais se compatibilizam com filhos na casa. Ou pior, o alarme biológico já tenha tocado e os filhos talvez nem sejam mais uma possibilidade.

Sou geração chamada millennial, pessoas que viram a passagem do milênio em sua adolescência. Quando pequenos, recebemos da cultura a afirmação irrestrita de nossa genialidade com uma promessa de uma vida repleta de grandes realizações, aventuras e descobertas. Mas o mundo encantado que nos foi prometido não nos prepara adequadamente para a dureza e sobriedade da vida real. Temos limites, o tempo não é infinito, a vida não é necessariamente melhor quando fazemos ou conquistamos tudo que queremos. Na busca desenfreada por satisfação pessoal, nossa geração vai descobrindo que na verdade se tornou escrava de sua própria vontade.

Na vida real, o ser humano existe para servir. O filósofo dinamarquês Kierkegaard resumiu: “a porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la ainda mais”. Servir é um chamado para a vida! Qual maneira mais sublime para um jovem casal servir no mundo do que por meio da criação de pequeninos?

Minha esposa e eu sempre estivemos abertos para a vida, ela engravidou com quatro meses de casados. Foi a melhor coisa para nós. Filhos são uma benção em nossa vida, porque nos lembram que não existimos para nós mesmos. Também nos ajudam a entender que preciso fortalecer a fé para educá-los nos caminhos de Deus diante de um mundo cheio de incertezas. Debaixo da autoridade do Criador, olho para meus filhos e reconheço que é amado, honrando e servindo minha esposa que farei com que sejam pessoas melhores. Dizem que é preciso conhecer bem seu cônjuge para finalmente ter filhos. Certa vez ouvi de um homem de Deus que você conhece melhor seu cônjuge quando ele precisa acordar às 3 da madrugada para trocar uma fralda. Ele estava certo. Foi vendo a mãe que minha esposa é que passei a conhecer ainda mais a mulher maravilhosa com quem me casei. E espero que o contrário também seja verdadeiro.

Esse não é um texto normativo. Cada casal sabe da sua própria realidade, das suas intenções e sinceridade. Mas posso testemunhar que quando olho para pais e mães que decidiram ter filhos para servir a Deus, sempre os vejo cansados, mas jamais arrependidos.

“A coisa mais extraordinária do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos comuns” —G. K. Chesterton